O escalador Gustavo Veiga de Belo Horizonte foi o segundo melhor colocado no máster da primeira etapa do campeonato brasileiro, realizada no ginásio Via Aventura em Curitiba-PR. Mesmo assim ele não pontuou e nem subiu no pódio. Tal fato revoltou o atleta e provocou comoção em Minas Gerais, pois há algum tempo não havia participação mineira em um brasileiro fora de Belo Horizonte, ainda mais com uma boa colocação como esta.
À primeira vista, o que aconteceu com Gustavo, que tem apenas 20 anos e muito talento, mas participou pela primeira vez em um Brasileirão, é injusto. Entretanto era regra no campeonato: O atleta deveria ter feito sua inscrição dois dias antes da competição (sexta feira 16) e sua inscrição deveria ter sido feita pela Federação Mineira de Montanhismo e Escalada – FEMEMG. Gustavo só fez a inscrição no dia do evento e por isso competiu como convidado.
Procuramos Luis César, presidente da AEEP, Associação de Escalada Esportiva do Paraná e ele justificou a regra. Esclareceu ainda que a AEEP não tem como controlar se o atleta é ou não federado e nem mesmo se está em dia com a federação, e que já tenta exigir que a inscrição no campeonato venha a ser realizada apenas por via das federações.
Luis César ainda justificou a necessidade de se fechar a planilha com participantes com antecedência, para não atrapalhar a organização e o planejamento dos Route Setters. O escalador Anderson Gouveia, que trabalhou como Route Setter na competição, disse que o planejamento de uma via de final depende do perfil dos atletas. Neste brasileiro, ele deu o exemplo, de como teria sido se houvesse tido a participação de Felipe Camargo e de André Berezoski, que são atualmente no Brasil os únicos que poderiam disputar por igual com Cesar Grosso, o campeão da etapa.
Se os três escaladores tivessem ido à Curitiba, a via da final, que foi cotada em 9a, teria que ser pelo menos 10b, para que nenhum, ou apenas um dos atletas pudessem fazer top. Já que estes atletas não foram, Anderson optou fazer uma via mais fácil e assim possibilitar que os outros atletas, que têm um nível muito semelhante, pudessem ir mais alto e foi o que aconteceu, com Cesinha encadenando a via com relativa facilidade, Gustavo Veiga em segundo e empatado em terceiro Victor Greipel, Caio Lopes e Alex Rajagopalan.
As regras da AEEP são rigorosas quanto à datas e horários para evitar este tipo de problema. Se, por exemplo, Felipe Camargo tivesse aparecido de surpresa, ele e Cesinha teriam que disputar uma super final, pois certamente fariam top e isso implicaria em atraso no cronograma da competição, pois os Route Setters teriam que montar às pressas uma nova via.
Por isso, a postura adotada pela AEEP em fazer a inscrição de Gustavo Veiga apenas como convidado e não participante decorre desta regra. Ou seja, se ele tivesse, por exemplo, finalizado a via junto com Cesar Grosso, não haveria super final.
Outros atletas também sofreram com o mesmo problema que Gustavo, foram eles Julio Cesar Teixeira e Rodrigo Teixeira, , de Botucatu -SP que disputaram a categoria amador.
Luis César lamenta que este incidente tenha ocorrido com um atleta que viajou tanto para competir, mas ele afirma que a regra era clara e foi bem divulgada. Ele espera que este incidente mostre aos atletas a importância de conhecer bem as regras antes de viajar e que os escaladores entendam que por trás de um campeonato, existem muitos nuances e muito trabalho de uma equipe que trabalha voluntariamente em prol da escalada, dedicando seu tempo livre na organizaçãode competições.
Sobre o escalador Gustavo Veiga, certamente ele é o vice campeão moral do Brasileiro. Por outro lado, espera-se que ele tenha a maturidade de entender as razões de sua desclassificação e que isto não o desmotive em participar de um campeonato novamente.
Luis Cesar diz que falar em boicote no brasileirão é falar em auto boicote. Os último anos foram fracos no cenário da escalada esportiva de competição, mas atualmente há uma renovação na escalada, com muitos jovens motivados e evoluindo nas competições. “Boicotar o campeonato seria boicotar toda esta nova geração” Afirma Anderson Gouveia, Route Setter do Brasileiro de Curitiba e idealizador do projeto Pró Escalar, que montou a primeira seleção brasileira de escalada Juvenil.