E então, numa noite de sábado, o tal luau só acabou com o sol nascente. Ao retornar para o camping, já de dia, encontrei uma dupla de amigos que saíam para um passeio. Perguntei aonde eles iam àquela hora da manhã, e me responderam que pretendiam subir o Pico do Papagaio, um dos pontos mais altos da ilha, com 982 m. Eles me convidaram para ir junto e eu não resisti. Fiz com que esperassem um pouco até que eu pegasse minhas coisas. Juntei um pacote de biscoito e fui encher uma garrafa de água. Foi então que começou o problema: eles me disseram que não havia necessidade de carregar peso extra, pois havia muitos córregos ao longo do caminho. Além disso, o plano era ir e voltar em duas horas. Inexperiente, acreditei neles.
E assim, emendando a noitada, parti para minha primeira montanha. Seguimos a estradinha que une a vila onde estávamos com outra, até o ponto onde uma placa indica o início da trilha. Entramos no mato, e pouco depois, cruzamos o primeiro riacho, que estava SECO…
Com a garganta também seca, continuamos andando, na esperança de achar água mais a frente. Fomos ganhando altitude, e passamos vários córregos, um mais seco que o outro! Já bem alto, num ponto onde a trilha cruza o que seria um rio de maiores proporções, corria um fio de água. Não tivemos dúvida e nos pusemos a lamber a rocha! Mas a água era pouca e não foi suficiente para saciar nossa sede. O local era impressionante, um profundo vale lá no alto da montanha, algo que nunca imaginara existir.
Mais adiante, passamos por um bambuzal. Como todo mundo sabe, o bambu armazena água em seu interior. Estes tinham um diâmetro considerável, muito maior que os encontrados aqui pelo Paraná, resolvemos saciar nossa sede. O problema foi abri-los, já que tínhamos só um pequeno canivete Victorinox de bolso. Depois de concluída a operação, pudemos degustar da água, que tinha um gosto horrível de mofo!
Matada a sede, continuamos nossa marcha rumo ao topo, e em pouco tempo conseguimos ver a grande rocha que existe no cume desta montanha. Ou pelo menos achamos que era ela que nós víamos, pois para nossa decepção, quando a alcançamos, percebemos que era apenas um bloco desmoronado, e que a montanha continuava. Como desistir no caminho não era nosso objetivo, tocamos adiante. E de repente, surgiu no meio às copas de árvores a imagem da grande rocha! Tínhamos conseguido!
Porém, por um pequeno descuido, não vimos uma bifurcação e fomos sair no pé dessa rocha, de onde, para continuar, era preciso escalar. Como não conhecíamos o lugar, ficamos por ali mesmo. Obviamente o nome desta montanha vem deste rochedo, que se destaca de longe no alto da crista, e que lembra a forma de um papagaio. Se bem que para nós, ali de pertinho, parecia mais um cachorro!
O tempo lá em cima nos fazia sentir em casa, pois havia fechado uma neblina e estava bem frio. Porém, em meio às nuvens, às vezes era possível ver a vila de onde saímos, pequena lá em baixo!
O sol saiu um pouco e permitiu que tirássemos umas fotos da pedra do cume. O problema da sede, fome e cansaço atrapalhava um pouco o momento. E para piorar, comecei a sentir um sono terrível! Sentia que a energia estava acabando. Alguém tirou da mochila uma lata de ervilhas em conserva, que foi devorada rapidamente. Só que isso piorou nossa sede. Por isso, e também porque estava muito frio, não ficamos muito tempo lá.
A descida foi bem mais tranqüila, e pudemos andar muito mais rápido, chegando mesmo a correr em alguns trechos. Porém passamos ainda por um susto: o amigo que seguia a frente, em certo ponto saiu da trilha e nós seguimos atrás, sem perceber. De repente, o que parecia ser a trilha terminava num abismo! Por muito pouco não caímos os três penhasco abaixo. Voltamos um pouco atrás e logo achamos a trilha perdida.
Em pouco tempo estávamos de volta à vila, e pudemos saciar a sede com uma merecida cerveja bem gelada!!!
O mais interessante foi que apesar de toda a provação que passamos no caminho, a lembrança dos breves momentos que estive no alto da montanha ficou como uma coisa boa, uma experiência que não via a hora para poder repetir. Porém, muito tempo iria passar até que pudesse pôr meus pés no alto de uma serra novamente. Mas isso é assunto para outro dia…