Para muita gente pode ser pouco o espaço de tempo que freqüento nossas montanhas. Já são mais de dez anos desde minhas primeiras andanças pela Serra do Mar, mas somente após a virada do milênio que comecei a estudar a fundo a intricada relação existente entre vegetação, relevo, clima, fauna, entre outros fatores.
À partir desta época, além de ir para a montanha por gostar de estar lá, comecei a ir para aprender. Para crescer como ser humano. E nesta sede de conhecimento fui tecendo minhas observações e tirando minhas conclusões.
Nós, moradores de Curitiba e região metropolitana, contamos com mais de dois milhões de seres humanos que para manter seus padrões de consumo precisariam de quatro planetas Terra. E uma das questões cruciais, além claro de tentar reduzir esse consumo desenfreado, é o fornecimento de água potável para atender as necessidades desses habitantes.
Nossa região conta com a abençoada vizinha da Serra do Mar, um providencial acidente orográfico ainda bem preservado, apesar de todas as agressões sofridas. Desde o início da ocupação européia do primeiro planalto paranaense a Serra do Mar foi reconhecida como importante manancial de água. Suas matas e a configuração climática permitem que o fluxo do precioso líquido seja abundante durante praticamente o ano todo.
No entanto, de uns anos para cá estamos enfrentando um somatório de fatores que nos têm feito questionar se esta abundância no fornecimento de a´gua será suficiente. O primeiro fator é o óbvio crescimento na demanda por água, resultado do inchaço populacional, principalmente na Região Metropolitana de Curitiba. O segundo fator são as mudanças climáticas, atualmente a grande manchete dos jornais.
Nesta época de inverno, caracteristicamente a mais seca do ano, a situação volta a chegar próxima do limite aceitável. Ano passado tivemos umas das mais fortes estiagens de todos os tempos, com o nível dos reservatórios baixando a ponto de ser necessário o racionamento de água na capital paranaense e região. A tendência para este ano não parece ser diferente. Tivemos um mês de junho absolutamente seco, com a média histórica de chuvas bem distante da ocorrida neste período de 2007. O que nos aguarda então os meses de agosto e setembro, tipicamente os mais secos?
O mais desconcertante nisso tudo é o fato de grande parcela da população atentar para o fato de economizar água apenas quando a situação torna-se crítica. Mesmo com a ausência de chuvas por praticamente um mês em Curitiba, é possível ver pessoas tranqüilamente lavando calçadas e automóveis com mangueiras jogando milhões de litros de água tratada fora.
Além disso, nossa cidade tem o agravante de possuir a incrível média de quase um veículo por habitante. Além de o trânsito ter se tornado mais lento nos últimos anos, a poluição aumentou e muito na cidade, pois o que mais se vê são pessoas dirigindo seus ricos automóveis desacompanhados. Ou seja: um trambolho poluente de aproximadamente uma tonelada servindo a necessidade de apenas uma pessoa. Mas esse é um tema que tratarei na continuação desta coluna. Enquanto isso sugiro que se visite este endereço: http://www.earthday.net/ e faça o teste da Pegada Ecológica. De quantos planetas você precisa para manter seu nível de consumo?
Um abraço e bons ventos!