Itabaiana não é uma cidade nem grande nem bonita. Devido à sua distância de menos de 50 km da capital de Sergipe, o turismo só se desenvolveu como um dos atrativos não próprios, mas de Aracaju.
Entretanto, essa proximidade no passado a tornou intermediária do fluxo comercial entre o sertão e o litoral. Como não é incomum no Nordeste, possui perímetros agrícolas irrigados que abastecem todo o Estado. Até hoje existe a famosa feira dos sábados, iniciada há quase 1 ½ séculos.
Mas a maior atração de Itabaiana é a serra de mesmo nome. Desde o período colonial existem relatos de riquezas minerais como ouro e prata, buscadas por portugueses, holandeses e sertanejos. Junto com outras formações do sistema, a Serra de Itabaiana foi palco de lutas, lendas e aventuras.

Localização do PN Serra da Itabaiana, entre Itabaiana e Areia Branca.
Porém hoje a sua vocação é o turismo. A antiga Estação Ecológica lá instalada pelo IBAMA foi ampliada, originando em 2005 um pequeno Parque Nacional de 8 mil hectares. Ele se estende quase 80% pelo município de Areia Branca e os restantes 20% por Itabaiana.
O PN compreende quatro outras serras próximas, das quais as maiores são a Comprida (com rampa para voo livre) e a Cajueiro (que não é procurada). Entretanto, a visitação se concentra na de Itabaiana, são talvez 30 mil pessoas por ano. Essas formações são até certo ponto alongadas e parecidas.
O conjunto tem relevância para Sergipe por algumas razões: é um importante marco do relevo, com o segundo ponto culminante do Estado; o bom manejo de sua área tem impacto no abastecimento hídrico da região; apresenta vegetação de interesse, com transição entre a mata atlântica e a caatinga.
Apesar da presença de muita água, correndo por lajes, poços e cachoeiras, a subida da Serra de Itabaiana não é trivial. Como parte do Planalto de Borborema, sua rocha é o fraturado quartzito, que chega a lembrar as ásperas e irregulares trilhas do Espinhaço.
Sua altitude de 660 metros apresenta um considerável desnível em relação ao planalto de onde ela se alça, a menos de 200 metros. Além disso, a não ser no inverno, o calor à medida que o dia avança costuma ser horroroso. Eu ainda tive a sorte de encontrar de manhãzinha um vento forte vindo do litoral.

Vista da Serra de Itabaiana pelo lado leste.
Acho surpreendente a quantidade de diferentes riachos que brotam da serra. Dos dois lados dela, são nada menos do que seis, especialmente na face leste. Eles irão alimentar cursos de porte médio, afluentes do Rio Sergipe.
Este não é tão grande, mas sua foz em Aracaju é espetacular, rivaliza visualmente com o mar. Lembro que esta presença de águas serranas é mais importante no Nordeste do que nas regiões temperadas do Sudeste do país, onde são mais comuns.
Embora o clima da região não seja tão árido, com uma precipitação anual generosa de 1.500 mm, essas águas são extremamente importantes para o abastecimento humano e a produção agrícola. As chuvas se concentram de maio a junho e a estiagem, de outubro a março.
Elas permitem uma vegetação expressiva, típica do agreste nordestino, com delicadas caraibeiras, ásperas macambiras, copados jatobás e robustas paraíbas. A área não foi ainda indenizada (depois de quase duas décadas) e muitas famílias ainda residem no seu interior.
A fauna é relativamente abundante, bastante rica em aves e mamíferos. Apenas lamento que o PN seja tão pequeno, pois isto deve comprometer sua diversidade. Acho difícil que possa abrigar jaguatiricas, veados, guaxinins, ouriços e capivaras, como me foi comentado – junto com pássaros tão especiais como gaviões, corujas, nambus e perdizes.

O Poço Azul (ou Dourado), na parte alta da Trilha do Caldeirão.
A Serra de Itabaiana é a porção mais antiga de um grande domo rochoso (ou seja, uma forma abaulada), que foi erodido ao longo do tempo na sua parte central. Disto resultaram superfícies planas e baixas circundando os flancos serranos.
As rochas variam desde o Pré-Cambriano, há 2+ bilhões de anos, até o Cenozoico, há menos de 60 milhões de anos. Como parte do Planalto da Borborema, elas são cristalinas, formadas por duros quartzitos, granitos e gnaisses.
Mas Itabaiana é uma serra surpreendente, dotada de várias atrações e de uma dezena de caminhos. Talvez o mais tradicional deles seja a Trilha do Caldeirão, que simplesmente parte de uma estradinha à beira da BR 235, que leva à capital. Eu a fiz (parcialmente) na estação ainda seca, com água insuficiente para irrigar as Três Cachoeiras, as águas claras do Poço Dourado, seguido pelo Poço Preto formado por riacho profundo e escuro.
Você passará a seguir pelos chamados gargalos, uma trilha à beira de um paredão acima do riacho. Uma íngreme subida levará ao Penhasco dos Falcões e à Pedra da Tartaruga.
Lá embaixo à esquerda, existe o chamado Parque dos Falcões, local de criação e treinamento de aves de rapina. Ele é resultado do maravilhoso trabalho de José Percílio. Com sorte, você avistará alguns gaviões sendo adestrados nos céus azuis de Sergipe.

Vista do cume da Serra de Itabaiana.
Se continuar até o alto, você encontrará vegetação arbórea e um campo de bromélias. E, pronto, você terá chegado ao topo, se resolver prosseguir além do Mirante dos Falcões.
Sua visão será naturalmente ampla, abarcando o planalto do agreste sergipano, cortado por algumas serras alongadas. À sua direita estarão as torres, onde se juntam as muitas trilhas da serra. Aviso, porém, que não pude desfrutar de toda esta vista, pois o calor e o cansaço me fizeram recuar.
Existem quatro outros caminhos para o cume, com tamanhos e orientações diversos, foi o guia Queninho Santos quem me contou isso – ele percorre a serra desde sua juventude, eu não saberia dizer sem a ajuda dele.
A Trilha do Caldeirão tem um rumo N, uma extensão de talvez 4 km e uma ascensão acima de 350 metros (caso termine no mirante intermediário), o que lhe tomará pelo menos 2 hs. Como os altos da serra são muito extensos, as trilhas podem ter tamanhos diferentes, em função de distintos percursos ao longo do cume.

O Poço das Moças, no início da Trilha da Via Sacra.

Parte baixa e sombreada da Via Sacra.
O Caldeirão não é técnico, como também não é a Via Sacra, a partir do Poço das Moças, a atração mais procurada do local. O poço tem este nome depois que caçadores avistaram duas moças tomando banho e logo desapareceram, sem deixar vestígios.
Entretanto, mais de uma vez ouvi comentários sobre roubos ocorridos no local, devido à sua maior visitação. Ele fica por estrada a 2 ½ km da entrada, até a sede do ICMBio.
Ultrapassado o Poço das Moças, começa a trilha de subida da chamada Via Sacra, que contém sucessivas estações religiosas, para os dedicados fiéis conseguirem o perdão por seus pecados. Claro que ela fica muito ativa durante a Semana Santa. Logo depois dele, você encontrará a Gruta da Serra e a Cachoeira do Cipó, ambas de pequenas dimensões.
A ascensão e extensão do caminho são maiores, de 450 metros e 6 km – acho que por atingir um ponto mais elevado. Entretanto, isso indica que na média ele é menos íngreme.
Acredito que demande 2 ½ hs de cansativa caminhada. Seu curso é aproximadamente NW. No cume da serra, ele encontra uma capela, que é naturalmente reverenciada pelos caminhantes devotos.

A parede a oeste da serra, por onde se pode escalar até o topo, a partir do Parque dos Falcões.
Existem dois caminhos mais arriscados, seja partindo do Parque dos Falcões ou da cidade de Itabaiana. Em ambos os casos, o belo penhasco à esquerda da serra, debruçado para o Parque, terá de ser escalado.
No caso de Itabaiana, é preciso atravessar um trecho de mata, que o torna mais difícil – ele é raramente feito. O rumo será predominantemente E.
Por fim, é possível alcançar o cume com veículo traçado por estrada precária, neste caso partindo de Areia Branca, num sinuoso rumo W. Não é um trajeto tão arriscado, você deve subir pacientemente por cima das rochas por cerca de 1 hr.
Mas a Serra de Itabaiana é realmente uma realidade única. E há várias razões para isso. Veja que o alto da serra é plano e longo, com talvez 3 km, o que não é usual. Isto permite a conexão entre os diversos caminhos, bem como a reunião de todos eles nas Torres.

Cada ascensão tem características diferentes, com mais lazer nas águas ou mais adrenalina nas paredes. E você pode combinar trajetos, subindo por trilha e descendo por rapel ou subindo por escalada e descendo por trilha. Naturalmente, terá de negociar resgates em pontos diferentes.
Só escolha uma estação amena, para que o calor não interrompa sua aventura.















