O domingo amanhecera pouco promissor, e o firmamento apresentava não apenas uma tonalidade opaca nada animadora como tb brumas alvas q traziam a sensação de frio e umidade. Mas isso não bastou pra nos demover da ideia de cair no mato naquele dia, e assim eu, Ricardão e Simone saltamos as 9:20hr na pequena e pacata Manoel Ferreira, vilarejo rural de Biritiba-Mirim q nasceu em virtude da construção da adutora q o corta de cabo a rabo. A
persistência e confiança trilheira é assim mesmo; tem q perseverar pois não raramente somos recompensados com gratas surpresas. Dito e feito, enqto a Metrópole se esbaldava na “Virada Cultural” e td tipo de elemento saindo das catacumbas em meio a um tempo ruim de doer, Manoel Ferreira apresentava um panorama muito melhor, inclusive com gdes frestas de céu azul ameaçando irradiar os braços do Astro-Rei. Panorama este q só melhoraria no decorrer do
período.
Após beliscar alguma coisa no vilarejo, arrumamos as mochilas e pusemo-nos em longa marcha até o nosso destino, distante ainda quase 8kms dali. Q fosse, pois a conversa animada e colocação dos babados em dia pontuou gde parte do trajeto, por sua vez sempre ao largo do chão da SP-43, tb conhecida como Estrada da Adutora ou Estrada Municipal do Itapanhaú, tendo o maciço da Pedra do Sapo como sentinela a nos observar durante boa parte do trajeto.
Dessa forma, sempre tocando pra nordeste e acompanhando os enormes dutos q emprestam o nome á precária via, o tempo passou voando e qdo demos por nós 1hora após iniciada a pernada a profusão de sítios e chácaras já havia ficado pra trás, dando lugar a uma paisagem composta basicamente por uma morraria forrada de reflorestamentos.
Ignorando a entrada da Faz. da Forquilha e da Faz. Marilena, as 10:45hrs passamos por uma oportuna e bem-vinda bica encravada na encosta, a margem da estrada, q refresca nossa goela e abastece os cantis menos favorecidos. Na curva sgte já será possivel avistar a Pedra da Esplanada, quase escondida atrás da morraria, sob uma perspectiva pouco privilegiada q não faz jus as verdadeiras dimensões da montanha. Logo adiante e após tomar um atalho por
cima dos dutos q nos pouparam duma enorme volta pela morraria, passamos pelo sitio “A Gde Familia” e por uma chácara menor, onde um belo e bucólico laguinho quebra a monotonia do panorama ate então. Aqui já é preciso prestar atenção.
Num piscar de olhos tropeçamos com uma picada ao lado duma placa da Faz Casa Verde, de propriedade da Suzano Celulose, as 11hrs. É aqui q abandonamos a estrada em favor dessa picada, q não demora a nos deixar noutra estrada menor de reflorestamento. Daqui nossa rota toca pro sul, sempre pela via principal e ignorando bifurcações, indo de encontro ao sopé do maciço, q agora exibe seu tradicional e característico contraforte norte como uma imponente lâmina rochosa, delgada e espichada, emergindo da profusão de bosques de eucaliptos. A vista impressiona e se assemelha perfeitamente á do casco de um navio invertido á deriva num mar esmeralda de vegetação.
Subindo suavemente pela estrada, não demora pra pernada embicar de vez ao tropeçar com o primeiro ombro serrano da montanha. Mas as 11:10hr, já logo na curva fechada sgte é preciso abandonar a via principal. Diante duma evidente trifurcação q pode gerar duvidas diante do sentido a seguir, vamos pela opção menos batida e q pouco aparenta ser a picada oficial de acesso á pedra, já descrita em minúcias noutras ocasiões. Uma vez nela basta apenas tocar
pra cima, ziguezagueando forte a encosta de reflorestamento e ganhando altitude num piscar de olhos. Mas uma vez q mergulhamos no frescor úmido da floresta a vereda aparenta nivelar, onde enormes matacões empilhados na encosta desviam provisoriamente nossa atenção pras enormes e fundas grutas formadas entre as junções das pedras desmoronadas, onde o som de agua correndo timidamente nalgum canto rompe o silencio reinante ate então. Mata
caída? Pouca e fácil de transpôr.
Mas após cruzar um correguinho q ostenta um único filete dágua é preciso atentar pra direita, na encosta. Não tarda a surgir um discreta picada q mergulha morro acima. Abandonamos então a vereda principal (q leva em questão de 10min ao mirante principal da Esplanada) em favor desta trilha lateral e por ela tocamos montanha acima com suave declividade, desviando da pouca mata tombada no caminho. A caminhada é tranqüila e em sua maior parte desimpedida, embora a picada eventualmente desapareça e logo mais adiante seja reencontrada. Mas eis q nos deparamos com o q parece ser um “portal”, onde a trilha passa pelo meio de duas enormes pedras com raizes e bromélias envolvendo sua superfície rochosa. Aqui existe uma discreta bifurcação onde se tocar reto em pouco tempo damos no topo florestado e sem visu do cocoruto extremo do maciço da Esplanada. Mas como nosso destino não é esse vamos pela picada q segue pela esquerda, contornando uma das pedras do tal “portal” e subindo o restante da montanha. Se a trilha ate então era discreta aqui
então ela aparenta sumir de vez. Mas não há problema algum pois o sentido é obvio e intuitivo, sem falar q o mato é baixo e aparenta estar pisado por antas.
Logo adiante nos deparamos com a base duma laje coberta de musgo e bromélias, indicando q já estamos no alto. Escalaminhando facilmente o restante logo pisamos no largo e levemente inclinado lajedo q domina oo setor oeste do maciço, com visu privilegiado do quadrante norte da região. Pausa pra fotos e pra observar curiosamente um enorme cupinzeiro próximo. Sem ir pro sul e com vista bacana do Pico do Itapanhaú, decidimos então tocar pela crista florestada sentido noroeste, ainda sem visual do mirante principal da Esplanada nem do Garrafão. Apesar da vegetação composta de arbustos e pequenas arvores, é fácil circular por esta crista, embora não exista trilha alguma.
Mas mal começamos a andar e nos deparamos com um cocoruto granitico facilmente escalaminhavel q revela-se o topo legitimo do maciço da Esplanada, as 11:45hrs. Pq? Pelo simples fato da vista dali ser espetacular e nos situar nos 1066m dum patamar superior ao Garrafão e do mirante principal da Esplanada, ambos elevando-se a nordeste, porém ainda inferior ao majestoso Pico Itapanhau, cuja torre espetava o firmamento logo atrás de nós, a
sudoeste! O lugar é um achado não apenas pelo visual mas pela frequência nula de visitantes, corroborada pela ausência de lixo, de trilha e até pegadas. Pausa pra fotos, breve reconhecimento e estudada de rota a tomar. Visivelmente tínhamos q seguir pela crista florestada principal, sentido nordeste, descendo até interceptar a picada q havíamos deixado. So não sabíamos se havia abismo ou mato intransponível no caminho, mas a principio a
carta acusava q não, mas o trecho em questão a principio era breve e curto.
Azimutamos então a bússola pra nordeste/leste e la fomos nós, descendo suavemente a estreita crista florestada sem maior dificuldade. O mato espesso era facilmente contornável, ora dum lado ora doutro, mas sem desviar demasiado da rota mentalmente traçada. No caso de dúvidas a encosta ficaria vertical e nos traria de volta á crista. E la fomos nós, perdendo altitude mas não muita. Trechos mais pirambeiros foram vencidos se firmando no
arvoredo em volta, assim como as poucas voçorocas de bambuzinhos e capim navalha foram rasgados no peito, deixando as poucas marcas q ganhamos até então.
Qdo ganhamos o selado de ligação dos cumes e começou novamente a suave subida, num trecho q surpreendentemente foi muito mais fácil q o previsto, reparamos q já estávamos outra vez na picada principal! Alegria total pq dali bastou apenas singrar o resto de trilha pelo estreito cume da pedra, em meio a vegetação q gradativamente reduzia de tamanho até se resumir a arbustos baixos e muitos liquens forrando o chão. E após uma breve parada na
beira do precipício vertical a noroeste pra ter uma vista fabulosa de td trecho ate então, forrado por “um tapete de couves-flores”, na concepção de quem avista reflorestamentos do alto, avistávamos tb o espelho d’água da Represa de Biritiba-Mirim, reluzindo a nebulosidade clara daquele inicio de tarde. Desembocamos enfim nos 1044m do mirante principal da Esplanada, pontualmente as 12:30hrs, onde encostamos o esqueleto no chão aderente e
granítico da pedra. Lanche, descanso, fotos e até cochilo deram o tom do pit-stop. Com algum esforço, podia-se observar ao longe, a noroeste, a geometria de Mogi das Cruzes ao sopé da silhueta escarpada da Serra do Itapey. Lixo aqui? Nenhum.
Por volta das 13:40hrs retomamos a pernada, mas desta vez não voltaríamos pela picada principal e sim buscaríamos uma forma de descer pela face semi- verticalizada a nossa frente, o paredão leste da Esplanada. Estudamos a rota a tomar, azimutamos novamente a bussola e lá fomos nós, ao mesmo tempo em q brumas esparsas ameaçavam cobrir o topo das montanhas. Inicialmente a descida foi tranquila, onde o chão da pedra fornecia aderência suficiente pra q não rolássemos morro abaixo, dada a acentuada declividade apresentada. Sempre no aberto e com o visu a nosso redor parcialmente coberto de nuvens,
perdíamos altura rapidamente, enqto nos firmávamos nas bromélias, arbustos e pedras q houvesse no caminho apenas pra garantir nossa segurança. No caminho topamos ate com restos de balão presos num matagal.
Pois bem, descendo em meio ao mato baixo e ralo tropeçamos com um enorme precipício rochoso vertical, q nos obrigou a desviar pela esquerda, decisão q mostrou-se acertada pois nos levou a uma aparente crista descendente não tão inclinada. O porém foi q pra acedê-la tivemos q varar um matinho considerável e escalaminhar (sem corda) pela vegetação da encosta pra não descer ao fundo do vale sem necessidade. Mas uma vez com os pés fincados na encosta firme chegamos na crista visada e, agora no frescor da mata fechada, o Ricardo tomou a dianteira e foi abrindo passagem com seu possante facão em meio ao bosque de eucaliptos!
Qdo finalmente a declividade abrandou desembocamos numa precária estrada de reflorestamento, parcialmente coberta de mato espinhento, q bastou acompanhar pra leste (direita) pois fatalmente cairia noutra maior e principal, q já era nosso objetivo visado desde o alto da pedra. E após o mato cada vez mais abrandar no caminho, a estrada se tornar mais limpa e até passar por um enorme e convidativo poção q seria de muita utilidade se o dia
estivesse quente e ensolarado, finalmente desembocamos no estradão situado entre a Esplanada e o Garrafão! Eram pontualmente 14:40hrs e ao olhar pra trás, por sobre o ombro, q tivemos a real noção do tanto q havíamos descido desde o topo da pedra. “Caralho! Ainda bem q fomos pela esquerda pq olha só o abismo q tinha pro outro lado!”, exclamava um Ricardo td esbaforido. “Menos mal q deu td certo e não tivemos q retornar, subindo td novamente!”, emendou Simone.
Pois bem, fim de travessia mas não de jornada. Isto pq ainda tínhamos uma interminável caminhada pelo estradão ate Manoel Ferreira, pernada esta q nos tomou quase 3 longas horas q foram devidamente preenchidas com muita conversa em dia. E tome chão, claro! Logico q nesta modorrenta volta tds sentiram o cansaço bater nas pernas, e assim damos adeus á Pedra da Esplanada, q foi lentamente sendo ocultada pela morraria de reflorestamentos q
serpenteávamos pra oeste. E após parar estrategicamente numa horta de beira de estrada e encher as mochilas com beringelas e pimentões, eis q finalmente chegamos no vilarejo de Manoel Ferreira em torno das 17:30hrs, bem no horário em q a temperatura comecava a cair e o sol havia se debruçado atrás da serra. Logicamente q encostamos no tradicional boteco do lugar, onde mandamos ver salgados, refris e, principalmente, cerveja gelada pra molhar a goela. Dureza foi aturar um bebum local q só permaneceu na nossa roda pq bancou nosso “Gatorade”.
E assim terminamos mais um domingão diferenciado pelas bandas do sertão de Biritiba-Mirim. Outra opção ou alternativa de roteiro é sair mais cedo ainda e emendar o Pico do Garrafão junto, resultando num circuito de responsa pela região. Ou até pernoitar na aprazível e simpatica clareira q tem no alto da Pedra da Esplanada. Vale frisar q pelo fato de seu acesso ser pouco conhecido o lixo no topo da pedra inexiste, e portanto é bom q continue se
mantendo assim caso pretenda visita-la. Dessa maneira a regiao conhecida como “Sertãozinho do Tietê” continuará se mantendo preservada e servindo de “playground montanheiro” de final de semana pra andarilho q se preze. Privilegiada com visus e aventuras singulares, a região ainda se beneficia da ausência de algo bastante comum do points mais badalados da Mantiqueira & afins: muvuca, lixo e farofa. E isso é algo q não tem preço,
montanhisticamente falando.
Jorge Soto
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