Resolvi então retornar àquele serrote q tanto despertara minha atenção aproveitando um domingo q prometia ser de céu azul e muito sol. Como seria algo em tese “exploratório” fui o mais leve possível, porém com o suficiente prum eventual pernoite, q revelou-se desnecessário posteriormente. Ainda assim, dividindo espaço na minha mochila de ataque com uma rede e lona de plástico soquei vasilhames pra 2L, uma blusa de frio, um pacote de bisnagas e um tomate. Pronto. Econômico, não?
Após cochilar durante td trajeto tentando digerir o churrasquinho-grego q mandei ver na Estação da Luz, saltei em Paranapiacaba por volta das 7:50hrs juntamente com vários chineses e um grupo de jovens recém voltando da balada. O dia estava relativamente frio e a vila estava imersa em suas tradicionais brumas, q logo mais tarde se dissipariam com o aumento gradual de temperatura.
Atravessei a vila inglesa já tomando rumo à Estrada do Taquarussu, na cota dos 800m, espinha dorsal de varias aventuras na região. A passo pra lá de apressado na tentativa de ganhar tempo e evitar um eventual pernoite, 6km depois alcancei a vila-presépio do Taquarussu às 8:30, q passei batido dando continuidade à pernada de modo inabalável. A pressa tinha seu motivo: a Serra do Itaguacira esta mais próxima de Mogi das Cruzes q de Paranapiacaba, tanto q seu pto culminante é conhecido como Pedra Grande de Quatinga (um bairro rural) e não como Itaguacira, como consta na carta topográfica. E como minha intenção era subir à serra pelo seu extremo norte, isto é, pelo seu pto culminante, e a partir dali galgar a crista sentido sudoeste pra cair novamente o mais próximo de Paranapiacaba. Mas pra isso teria q contornar a base através de enfadonhas e demoradas estradas de terra. Q seja então, né?
Dando as costas ao vilarejo prossigo minha jornada pela interminável estrada, acompanhando um riachinho pela direita, sempre sentido nordeste e com suave declive. Revoadas de borboletas colorem o ambiente enqto a mata ao redor se reveza entre mata secundaria e bosques de eucaliptos e pinheiros q me provêm de sombra fresca naquele sol matinal q agora mostra-se a pino. Pela carta neste ponto adentramos já nos limites de Mogi das Cruzes. Mas as 9hrs tropeço com a bifurcação q ignoro e leva pro camping Simplão do Rock e pra Cachu da Macumba. A partir daqui a paisagem se abre e posso ter um vislumbre da serra q pretendo andarilhar, elevando-se elegantemente à leste.
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Após andar um tempão por aquela estrada q parecia nunca ter fim, passar pelo “Sitio Cachoeira” e cruzar com alguns bikers, eis q as 9:20 topo com um orelhão no meio do nada e lugar nenhum. Pois é daqui q abandono a estrada e tomo uma outra estradinha q sai pra direita, indo de encontro ao serrote almejado. E lá vou eu serpenteando sinuosamente o abaulado terreno q passa por pequenos sítios, cruza um rio envolto numa aprazível florestinha e acaba me deixando numa nova bifurcação. A placa indica adiante “Pesqueiro de Trutas Pedrinhas”, mas eu tomo o ramo da esquerda, cada vez mais próximo do sopé do Pico do Itaguacira, q aqui se mostra sua majestosa face rochosa norte reluzindo verticalmente aos raios matinais.
Mas é agora q a declividade aumenta e a pernada aperta com direito a sol na cara, subindo por uma precária estrada q mais parece um trilho largo, bordejando a encosta íngreme de uma serra forrada de samambaias, ganhando sucessivos cocorutos. O som de gaviões e arapongas já torna o ambiente mais selvagem e td e qq vestígio de civilização foi deixado pra trás. Ainda naquele compasso, porem agora beneficiado pela sombra de uma acolhedora floresta, até q dou num trecho onde visivelmente percebo q a estrada sobe dando a volta na montanha pela encosta esquerda, mas ai tomo à direita uma picada erodida e bem escorregadia (com vestígios de passagem de moto) em meio à mata, q sobe forte e serve de atalho.
Dito e feito, pouco depois caio novamente na estrada, bem mais acima, ganhando altura considerável num piscar de olhos. Mas não deu nem um tempo andando pela estrada q logo topo com o portão de um sitio ao lado da entrada da trilha derradeira ate o alto da serra, as 10hrs. Infelizmente alguém retirou a placa (de gde utilidade) q aqui havia, possivelmente pq não querem ver ninguém perto do sitio ou adentrando nele por engano. Fica então a dica de atenção neste trecho, embora a trilha seja bem obvia.
Uma vez na vereda não tem mais erro, ela se enfia na mata e sobe uma crista florestada através de vários cocorutos, pra depois a pernada aperta ao bordejar a montanha pela sua íngreme encosta esquerda, alternando vários e escorregadios sobes e desces, onde carimbei a bunda em mais de uma ocasião. Minha decisão de levar 2L de água a tiracolo revelou-se certeira pois o suposto ultimo pto de água no trajeto, na cota dos 950m, estava totalmente seco! Porem é a partir daqui q a subida aperta de fato. E como aperta! Pois começou uma piramba quase vertical q só foi vencida com ajuda das mãos, nos firmando no arvoredo e pedras ao redor. A trilha íngreme, o chão escorregadio e vários trechos de escalaminhada se sucedem em ritmo intenso, onde varias teias de aranha cruzando a trilha sugerem ninguém passar por ali a algum tempo. No caminho, um elétrico macaco me prega um susto ao saltar subitamente entre a vegetação!
Mas finalmente as 10:30, após um árduo trecho de escalaminhada hard por raízes e rochas, dou no alto dos 1196m do amplo cume do Itaguacira. Um vasto capinzal e alguns pequenos trechos lajotados dominam o topo, cuja vista panorâmica é realmente soberba e permite um vislumbre geral em 360 graus, seja da Represa de Taiacupeba, das Cabeceiras do Quilombo, de Cubatão, inclusive de td caminho feito desde Paranapiacaba até ali. Enfim, uma vista realmente deslumbrante. E assim, dono do cume, fiquei uma meia hora q pareceu , um tempão apreciando a paisagem, descansando ao relento e beliscando o q chamei de lanche, enqto uns urubus ficavam me paquerando lá do céu.
Descansado, parti pra borda leste do amplo topo onde encontro vestígios de fogueira. Pois bem, daqui parte uma picada q se enfia por entre arbustos, alguns bambuzinhos ou mata caída, e prossegue por uma crista sempre pra sudoeste sem gde variação de altitude, em nível. A pernada pela face sul da serra é tranqüila, agradável e desimpedida, bem diferente de sua íngreme face norte. Uma aprazível florestinha baixa proporciona refrescante sombra naquele calor sufocante do meio-dia e algumas brechas na mata possibilitam belas paisagens do entorno da serra. Somente após quase meia hra de pernada é q percebo q agora a picada começa a descer suavemente em meio à mata, agora tendendo a oeste, sem dificuldade alguma. O inconfundível som de água abundante correndo nalgum fundo vale soa como musica aos ouvidos, mas felizmente meus cantis estão cheios.
A agradável descida pelo trilho largo parece interminável, porem é constante apesar de eventual mata tombada, ate q logo cruzamos um bem-vindo córrego despejando seu abundante liquido em pequenos pocinhos cristalinos bem convidativos. Apesar da tentação ignoro e prossigo minha pernada rumo outro extremo da serra, onde a direção muda abruptamente pra noroeste pra nao sair mais desse rumo. O fato é q as 13:00 , acabei desembocando nos fundos de uma gde fazenda onde haviam varias casas e um galpão aparentemente vazio. Torcendo pra não haver cachorros bravos, acabei encontrando um tiozinho q me informou estar nas dependências da Fazenda da Pólvora, q segundo ele é propriedade do Exercito. Entre uma info e outra, me contou de uma bela cachu próxima assim como apontou a direção da saída dali. Pois bem, deu pra sacar q gente de fora não é bem recebida, portanto fica a dica de não começar a trilha por aqui, pois é mais fácil sair dali do q entrar.
Uma vez na estrada sob o sol escaldante daquele inicio de tarde, acabei me situando ao passar pela Cachu da Macumba, ao lado do camping , Simplão. Essa cachu seria um local idílico não fosse emporcalhada de trocentos despachos em sua margem. Mas voltando à pernada ainda tinha o longo e modorrento caminho da volta, algo de mais de 10km com sol fritando miolos! Felizmente consegui carona ate o Taquarussu na caçamba de uma saveiro, q me poupou bons quilômetros de sufoco. O resto do caminho de volta pareceu interminável, uma piramba interminável onde não via a hora de encostar num canto pra descansar. Mas eis q ao passar pra molhar a cabeça na Cachu da Água Fria esbarro com a Vivi, Fabio e Marcelo, pedalando pela região!! Mundo pequeno é isso ai!
Resumindo, acabei chegando tropegamente morto de calor em Paranapiacaba la pelas 14:30, onde encostei num quiosque e me esbaldei com umas 3 cervejas gelada. A vila tava bombando de gente em virtude de um festival de cinema local e as coincidências deste mundo pequeno não parariam por ai. Logo depois encontrei o Danilo e a Ana Paula, e mais tarde o Eric, q fiz questão de nem ter visto. Mais tarde reencontrei Vivi &, cia no Bar da Zilda, onde passamos o resto do dia bebemorando, entre goles de cambuci e abocanhando porções disto ou daquilo, agora acompanhados da Cris. A volta pra Sampa de carona com meus amigos, logicamente, foi totalmente embalada no mundo dos sonhos.
E dessa forma totalmente descompromissada, aquilo q imaginei q fosse uma pernada árdua com pernoite revelou-se mais uma opção tranqüila e sussa, ideal prum bate-volta de domingo de tempo bom. Mas não para por ai não. Do alto do Itaguacira (ou Pedra Grande de Quatinga, como preferir) observam-se dois outros gdes imponentes maciços próximos ao norte. Teriam eles alguma ligação na cadeia principal? Haveria trilha ate o alto deles? Pois é, a Serra do Itaguacira não se limita apenas ao seu cume e crista homônimas. Dali podem partir novas vindouras pernadas, agora se com aventura e perrengue cabe a cada um descobrir. E ainda tem quem diga q Paranapiacaba se limita aos atrativos cheios de restrições de seu burocrático Pq Municipal…
Texto e Fotos Jorge Soto
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