Chegamos bem cedinho em Caucaia do Alto, pouco antes das 8hrs, sob firmamento cor de chumbo e envoltos naquele típico mormaço de final de primavera. Chegamos cedo não muito devido á medonha previsão meteorológica daquele domingo – que estimava pancadas a partir do meio dia – mas pela rapidez que é chegar ao município de carro, já q o transporte público não opera diretamente do Metrô Butantã nesses dias. No carro, eu, a Priscila e seu consorte, o “hermano” Agustin, ajustávamos a
mochila após estacionar tranquilamente ao lado da pracinha central, em frente ao terminal rodoviário.
Sempre colocando a fofoca em dia, retrocedemos coisa de dois quarteirões e tomamos a primeira ramificação á direita, q finalmente desembocou na Estrada da Estação. O asfalto deu lugar ao chão batido, e logo caímos na Estação Caucaia do Alto, por sinal tomada de obras dos funcionários da atual concessionária da linha férrea. Dali bastou acompanhar a linha do trem, q nada mais é o trecho Mairinque/Santos da EF Sorocabana, no sentido sudeste indefinidamente.
Durante o sinuoso trajeto inicial em meio a baixa morraria, não demorou pras residências do Jd São Luiz começar a rarear e a paisagem se encher inicialmente com bosques de reflorestamentos e depois com mata nativa. Detalhe recorrente no caminho é o mau cheiro dos grãos e farelo q o trem deixa cair a beira da linha e termina apodrecendo ali mesmo; e qdo germinam terminam ornando as margens dos trilhos com minúsculas plantinhas de minúsculo porte. Outra coisa interessante foi reparar nos belos efeitos da luz matinal pelas frestas do arvoredo em volta e dos imponentes paredões de rocha dinamitados, q deixaram a Priscila com saudades do seu tempo de escaladas.
Após coisa de 1hr nesse ritmo desimpedido, eis q uma placa decrépita e ininteligível surge reforçando o fato de estar adentrando na reserva. O borburinho de Caucaia ficou pra trás e agora o silêncio paira durante todo trajeto, rompido somente pelo apito dalgum trem ao longe ou do chiado dum gavião reclamando nossa presença. A vegetação farta e exuberante oferece alguma sombra neste trecho inicial, basicamente uma reta interminável, onde até os trilhos ficam lindamente ornados de flores em diversos pontos. Samambaias, canelas-de-ema, araucárias e quaresmeiras coexistem harmoniosamente nas encostas da morraria q nos envolve, eventualmente revelando trechos mais abertos das bacias q integram a reserva, ao longe.
E é justamente neste primeiro trecho aberto dentro da reserva que é preciso atentar a uma picada bem obvia e evidente. Não tem mto segredo, até pq há uma placa enferrujada e tão ininteligível qto a anterior marcando a entrada, a nossa direita. Abandonamos a via férrea e nos pirulitamos pela vereda de chão, pisada e bem batida, sempre no sentido leste. Inicialmente ladeamos um raro foco de eucaliptos corando um morrote pra depois descer numa suave baixada e depois bordejar outro morrote de altitude menor, agora cercado de mata baixa e esturricada, principalmente voçorocas de samambáias. Evetuamente um enorme cupinzeiro ou alguma plantinha florida surge pra destoar da vegetação ornando a picada, mas predominantemente são jardins de samambaias q nos acompanham td trajeto. Mas é somente na curva sgte q surge um lindo e reluzente espelho dágua cada vez mais próximo, a leste.
Pois bem, e após um agradável trajeto de trilha foi de menos de 2kms a vereda desemboca nas margens da Represa Pedro Beich. Ou melhor, num dos gdes braços do setor extremo oeste da supracitada represa. Aqui optamos por prosseguir ladeando o enorme espelho d’água pelo chão firme e compacto até q chegamos num agradável e convidativo remanso, onde jogamos as coisas no chão afim de curtir um pouco. O lugar tinha vestígios de fogueira, um ou outro resto de lixo e um oportuno tronco tombado servindo de banco. Na vegetação próxima havia mato roçado e amassado evidenciando o pernoite de alguém pernoitou ali recentemente. Logicamente q nos presenteamos um longo e merecido tchibum, seguido de lanche e descanso.
Pois bem, a gente tava de boa lanchando qdo de repente surgiram 2 pescadores habituais do lugar, andando pela continuidade da trilha. Imediatamente os parei pra metralhar de perguntas, pois são as pessoas certas pra coletar infos valiosas da região. Comentaram que batem cartão ali e inclusive tem seu “rancho” mocado na mata, na outra margem do lago; deram dicas das demais veredas e remansos da reserva que foram devidamente anotados; alertaram do perigo dos trens, que já vitimaram bastante gente q circula pela linha; falaram que a duplicação da via férrea foi fator decisivo pra preservar mais a enorme lagoa pois antes se chegava de carro tranquilamente até ela; comentaram que os peixes q costumam tirar dali são pequenos bagres, tilápias e até trutas (será?), mas q normalmente a “pesca” deles é motivo pra prosear, beber e assar uma carninha da forma mais rústica possível. Isso td ele disse enqto esticava o braço na minha direção oferecendo um delicioso gole de pinga com mel q eu e o Agustin não recusamos..tava uma delicia!
Descansados e de bucho cheio, voltamos pelo mesmo caminho ao mesmo tempo q acenávamos aos pescadores q agora estavam no outro extremo do braço. A gente bem q tentou prosseguir margeando a represa através duma picada q totalizaria um circuito, mas desencanamos assim q percebemos q fechava mais adiante. E dai? Dane-se, retornamos pelo mesmo caminho mesmo e logo nos vimos pisando nos trilhos outra vez, pra dali voltar os quase 5km de “ferrotrekking” até Caucaia do Alto. Mas não sem antes abastecer os cantis numa bica escondida no mato, situada na outra margem dos trilhos, dica aliás dada também pelos pescadores. Nos finalmentes da caminhada pela via férrea, abandonamos os trilhos pra cair nas ruas internas da Vila São Roque pra finalmente cair no largo central, pouco depois do meio dia e meio. Um pastel de feira e uma breja fecharam a contento o rolê, no exato momento em q a chuva despencou de vez, confirmando a previsão medonha praquele inicio de tarde.
Concluindo, a “Trilha do 105” recebe este nome por conta da vereda em questão nascer no “ponto 105” da via férrea, contagem esta utilizada pelos locais em ordem crescente da distância (em quilômetros) até Aldeinha. É uma contagem meio que subjetiva pela ausência de marcos q reforcem isso, mas não deixa de ser mesmo assim uma referência de localização. Tem ainda as picadas do 106, 108, 111 e por ai vai. Há pontos de captação de água potável situados discreta e estrategicamente a margem da ferrovia q até então desconhecia, garantindo assim pernadas delonga duração sem maiores preocupações com o precioso liquido. Precioso liquido este que, aliás, depois abastece as torneiras de toda Zona Oeste da capital, mas que nasce neste pequeno paraiso ecológico que compõe o cinturão verde da Grande Sampa. E isso a menos de 25km da capital paulistana.