Mal deu 3 meses após minha primeira (e tardia) incursão ao PE Juquery q cá estou novamente palmilhando seus vastos e largos horizontes, conforme prometera naquela ocasião. Aproveitei esta vez pra levar a Lau conhecer esta unidade de conservação q me surpreendeu bastante em tds os sentidos, além de deixar uma vontade lascada de bisbilhotar o q haveria por detrás das trocentas plaquinhas com os dizeres “acesso proibido”. Logicamente q o conhecimento prévio do lugar me ajudou a otimizar bastante o programa da vez, deixando de lado as trilhas menos interessantes e, cortando caminhos das outras mais “tchans”, fomos direto aos ptos de maior interesse logo de cara de modo a q sobrasse tempo suficiente pra meter as caras na “exploração” sgte, algo q seria novidade até pra mim. Em tempo, ainda q o lance seja “desbravação”, a melhor palavra no caso não deixa de ser “excursão” e não “exploração”, pois estamos falando dum parque claramente urbano. Sem falar q o segundo termo já pressupõe o primeiro, porém com finalidade cientifica. Não é o caso.
De maneira totalmente despretensiosa, eu e a Lau saltamos as 9:15hrs do latão “Mairiporã” em frente ao posto de bombeiros q serve de referencia pra entrada do PE Juquery, as margens da Estrada do Governo ou, oficialmente, Rod. Prof. Luis S. Chamma (SP-23). Não vou descrever o trajeto da linha lilás da CPTM nem maiores detalhes de acesso pq os mesmos já foram dados no relato anterior, portanto vamos ao q de fato interessa. O fato era q embora o dia se apresentasse com perspectiva de bom tempo, o parque estava relativamente vazio, pra não dizer bastante deserto.
Pois bem, após adentrar pelo pórtico q nos dá boas vindas á unidade de conservação, ladear as ruínas e as edificações q originalmente compunham o antigo Hospital Psiquatrico do Juquery, tocamos pela estradinha de terra p/ oeste e q vai de encontro as principais trilhas do lugar. No caminho, a Lau já faz seu primeiro pit-stop pra colher goiabas madurinhas direto do pé, sobrando pra carregar nas costas o farto estoque do fruto adivenhem pra quem? Humpf.
Ignoramos a “Trilha do Yu-Kery” e a “Trilha do Rio Juquery”, mas adentramos sem pestanejar na “Trilha dos Lagos” onde logo de cara tropeçamos com uma bifurcação sinalizando pra direita. Preste atenção no outro ramo da esquerda, onde uma lacônica plaquinha “proibindo acesso” esta praticamente sendo engolida por altas voçorocas de capim-gordura. Será por ali q nossa jornada irá terminar, e é bom q seja assim pelos motivos q darei mais adiante. É mais facil sair por ali do q sair pelo outro extremo dela, por conta das varias confusas bifurcações q são encontradas no setor sul do parque. E quem conhece bem os bairros vizinhos sabe bem q tomar uma picada errada por lá pode levar a alguma quebrada barra-pesada nada recomendável. Vc pode até tentar (re)fazer o trajeto sugerido neste relato sentido contrario, mas acredito q apenas quem tenha bom senso de navegação e farejo de trilha consiga realmente conclui-lo.
Continuando a pernada, adentramos nas ruínas q antecedem os lagos, na verdade uma antiga cocheira q data da época do Complexo Hospitalar do Juquery. Depois subimos a sequência de pneus, totalizando 220 de graus, q levam a um mirante com bela panorâmica dos cinco lagos do entorno. Daqui de cima, ao invés de retornar td novamente basta acompanhar o rastro onispresente de terra vermelha batida, pro leste, q vai dar num chapadão extenso q desemboca no caminho principal. Este trecho de terra vermelha na verdade foi outrora uma antiga pista de pouso (como atesta a carta tpografica) de pequenas aeronaves dos proprietários originais da Fazenda Juquery.
Conforme previsto, num piscar de olhos caímos no caminho principal rumo o Ovo da Pata. No trajeto, aberto e descampado, passamos pelo “Quiosque da Seriema”, ultimo lugar pra abastecer os cantis e tirar uma “agua do joelho” da forma tradicional. A partir daqui em diante a trilha – q é praticamente uma estrada – toca pro sul de forma sinuosa, acompanhando as oscilações e ondulações da crista e da morraria ao redor. A vegetação, por sua vez, exibe os contornos típicos do cerrado confirmando a alcunha q o parque recebe; mato baixo e rústico com predominância de arvores pequenas com galhos e troncos retorcidos, de onde pudemos claramente avistar não apenas dois urubus, mas tb um belo par de vistosos carcarás descansando.
O “Mirante”, uma torre de observação com 20m de altura, é o atrativo sgte e logo de cara percebemos q havia um guardinha no alto, observando e fiscalizando td ao redor com seus binóculos de longo alcance, o q me deixou de sobreaviso qto minhas pretensões de me enfiar em locais “proibidos”. No entanto, o mesmo – atraves de sonoro grito – permitiu q pudessemos subir ate o terceiro degrau do observatório, onde além de vislumbrar quase 90% do parque além de ptos turísticos da regiao. É, pelo visto so poderia tentar me meter na surdina nos 10% restantes do parque, longe da vista daqueles possantes binóculos. Pelo menos naquele dia, já q na minha visita anterior não havia ninguém no Mirante.
Continuando pelo caminho, desviamos brevemente dele pra dar um pulo na “Árvore Solitária”, um belo exemplar de copaíba localizado em meio a um campo limpo de cerrado e passível de ser observado de diversos ptos do parque. Dali parte uma trilha “proibida” rumo noroeste q desce a crista e vai dar numa casinha, no fundo do vale. Da ilustre copaíba tocamos por uma trilha q deriva da principal e, como atalho, corta o morro pela encosta sul e desemboca na picada principal, após passar por baixo das torres de alta tensão. No caminho um pequeno susto: a Lau dá um salto assustada dizendo q passara uma enorme cobra a seus pés e q eu quase pisara nela, sem perceber nadicas. Foi ali q redobramos a atenção onde pisávamos, mesmo sendo trilha.
A pernada prossegue no mesmo compasso e inipterrupta, ao mesmo tempo em q as dobras de serra descortinam ao sul a bela cumeada espichada do morro q atende pelo curioso nome de Ovo da Pata, e q destoa dos vastos campos ao redor. Daqui já é possivel avistar as duas picadas q sobem ao alto da serra: ambas nos extremos do morro, a oeste e leste. Minha idéia era a de bordejar o sopé da montanha rumo leste, subir ao topo pela vereda desta extremidade e descer pela outra, a oeste. Durante o trajeto (bem tranqüilo), o tempo q ate então apresentou-se imerso numa nebulosidade clara, quente e abafado, resolveu dar uma refrescadinha sob a forma de uma breve e fina garoa q fustigou nossos semblantes suados.
Após bordejar a montanha, tocamos ainda pela trilha sentido norte/noroeste ate um belo laguinho, na verdade um antigo engenho. No trajeto ate ali nascem varias bifurcações e vao dar nas extremidades do parque e servem de entradas “clandestinas” ao mesmo por esse setor oeste. Tanto q um tiozinho q tava pescando no tal lago se escondeu ao nos ver, quiçá imaginando q fossemos fiscais do lugar, já q bem do lado a uma enorme placa proibindo o acesso ao mesmo. Pausa pra fotos e voltamos ao pé da montanha.
Uma vez no extremo leste da montanha tocamos piramba acima atraves da trilha acima mencionada. E la fomos nós, eu na dianteira e a Lau, logo atrás. A subida é tranqüila mas td cuidado é pouco: a declividade é acentuada e o terreno bem irregular; não bastassem os degraus altos de pedra e terra, as pedrinhas e eventual chão liso-molhado fazem as botas derraparem ao menor descuido. Ainda assim, aascenção é sussa e desimpedida e não nos tomou mais do q menos de 10 minutos, sem pressa alguma.
Ganhamos o topo da monhanha por volta das 12:10hrs e graças ao intenso e forte mormaço pós-chuva q tivemos nosso único pit-stop prolongado daquele agradavel bate-volta. Desabamos então no amplo gramado q toma conta do alto dos 942m de altitude q domina a cumieira e permite visu panorâmico das cidades vizinhas (Franco da Rocha, Caieiras e Mairiporã), do vale do Rio Juquery, da Serra da Cantareira e do PE do Jaraguá. Claro q alem de lanchar e tirar um breve cochilo, tivemos a agradavel cia de dois enormes urubuzinhos q não paravam de planar sobre a gente, quiçá na esperança de ter lanche fresco naquele inicio de tarde q, agora sim, comecava a dispersar totalmente as nuvens do firmamento e ameaçava ser mais quente q na ida. Em tempo, vir aqui com tempo aberto e ensolarado é algo tremendamente sofrido e desgastante pela ausência total de sombra. Provavelmente seja este motivo pelo qual neste setor distante não encontramos ninguém naquele dia.
As 13hrs retomamos nossa pernada agora perambulando tranquilamente pela larga e abaulada crista da montanha, sentido leste. Cupinzeiros, diversas flores e até uma deliciosa frutinha as margens da trilha deram o tom da agradavel caminhada q se seguiu. “Olha lá! Se passarinho não come não é pra engolir qq fruta q se encontra!”, me alertava a Lau. Mas eu não tava nem ai e mandei ver umas deliciosas frutinhas laranjas q havia no caminho, q não faço idéia o nome mas cujo gosto lembrava facilmente a das carambolas, so q mais adocicadas e menos azedas.
A descida pelo outro extremo da montanha foi mais facil q a subida, isto pq aqui a declividade não é tão acentuada e a trilha não percorre td de uma vez e se dá atraves de sucessivos ombros serranos. Uma vez no sopé da montanha, logo após o encontro com a picada principal, é preciso prestar atenção pq não voltaremos pelo mesmo caminho. Foi aqui e saquei a bússola e o trecho da carta topográfica de Guarulhos q arrola o parque, q me ajudou a tomar as decisões sgtes.
Antes de começar a subida do morro seguinte, mais precisamente no largo selado q une as duas montanhas, é possivel avistar na margem do caminho um toco de madeira, na verdade, o q sobrou duma marcação original da kilometragem ate o Ovo da Pata (“4km”), plaquinha q pode ser encontrada no mato, caída no chão. Ao lado deste toco de madeira há vestígios duma trilha (pouco nítida) q desce o vale rumo sudeste. Foi por ela q nos pirulitamos vale abaixo, afastando o mato q invadia a trilha boa parte do trajeto, principalmente nas baixadas. Mas é possivel ver q a trilha ta ali, bem batida sob a vegetação q tende a cair sobre ela. Vestigios q vez ou outra alguem a utiliza são encontrados a td momento, seja na forma de embalagens de balas, gels e ate marcas de pneus de bike.
A caminhada prossegue vale abaixo sempre sentido sudeste, em contraponto com as nascentes do ribeirão Criciuma, q estão do outro lado do morrote sgte. Visivelmente reparamos a picada desce um amplo e largo vale e q depois ganha as encostas do ombro serrano sgte, repleto de eucalptos enfileirados. É ate la q temos q ir. Antes disso, porém, a picada desemboca numa vereda aparentemente maior e mais aberta onde é preciso saber q rumo seguir. Se tocar pra esquerda (descendo mais o vale, pro sul) encontrara o caminho além de alagado, tomado por espessa e densa vegetação, conforme constatei; portanto tomamos o ramo da direita, q sobe o morro sgte pro norte, q mesmo indo sentido contrario desejado, é a melhor forma de contornar este pequeno vale pra uma vez no alto, seguir pro sul pela crista seguinte. Sim, aquela dos eucaliptos perfilados. E assim foi.
A subida da encosta sgte se dá de forma morosa, isto pq o sol resolve dar as caras com forca total e a Lau é forçada varias vezes a pausas pra tomar água. Como tocamos pro sul/sudeste, vamos contornando o Ovo da Pata pela direita, de onde temos uma vista diferenciada deste gde atrativo do parque. Lentamente, o terreno arrefece e aparenta nivelar, sinal q estamos na crista da serra outra vez. Uma vez no alto, o caminho (bem batido) comeca a fazer uma curva, indo enfim no sentido desejado, passa por um marco e nos leva ate uma nova (e discreta) bifurcação, esta sim bem mais importante: se seguir reto pela picada mais batida (da direita) a carta sugere q vamos dar nos cafundós do bairro de Morro Grande, ou seja, na junção leste de Caieiras e Mairiporã, a sudeste. Ao invés disso, tomamos o ramo da esquerda, menos nítido, q vai no sentido desejado, isto é, pro norte. E q coincide com a crista de eucaliptos perfilados!!
Uma vez nesta trilha já não tem mais erro! A volta definitiva enfim se inicia aqui de forma tranqüila e desimpedida ate o final! O começo desta picada ta meio sujinho de vegetação tomando conta do caminho, principalmente qdo atravessa a cumieira de eucaliptos mencionada. Mas depois q passa este trecho florestado limpa completamente e torna-se tranqüila e desimpedida em sua maior parte. Este caminho é um achado pq toca pela crista da serra (ora largo, ora estreito) o tempo td, sem desnível nenhum, e vai inipterruptamente pro norte quase q em linha reta! Durante o trajeto é possivel rever o Ovo da Pata pela sua vertente leste ate a mesma ficar pra trás, após cruzada a linha de alta tensão q corta o parque pela metade. Outro destaque do caminho é a qtidade de lindas flores q orna esta vereda, provavelmente em virtude da pouca visitação da mesma, além dos varios instrumentos de medição (creio q pluviométrica) dispostos ao largo dela. Sem falar da gde proximidade com o outro mirante q domina o extremo leste do parque, similar ao q vigia as encostas mais conhecidas.
Conforme o previsto, este trajeto pela crista aos poucos vai perdendo altitude suavemente e logo reconhecemos um morrote de terra vermelha a noroeste, bem próximo, q nada mais é o mirante da “Trilha dos Lagos”! Ou seja, a crista percorrida é a q afunila o vale q abriga as nascentes q abastecem o referido Lago. E assim, bem antes das 15hrs, desembocamos na bifurcação “proibida” mencionada nos parágrafos iniciais deste relato, sem problema ou empecilho nenhum, onde fomos recebidos por uma revoada de deslumbrantes borboletas. Uma breve e providencial parada nos sanitários do playground foi necessária pra remoção do mato trazido à tiracolo, pra na sequencia nos pirulitarmos pra Franco da Rocha no primeiro busão q passou atrás dum boteco o mais rápido possivel, já q o calor daquele horário estava insuportável e a necessidade de molhar a goela com breja estupidamente gelada era imediata, senão emergencial.
E essa foi nossa segunda incursão a esta jóia rara em meio a Região Metropolitana de São Paulo chamada de PE Juquery, q decerto deve reservar novas incursões diante das varias outras picadas observadas (e outras ainda sequer “descobertas”) esperando pra ser novamente palmilhadas e bem pisadas. Seu setor extremo oeste, assim como seu similar a leste, é abraçado por vastas e enormes campinas q, se devidamente conectadas, sem duvida guardam gdes surpresas ao andarilho determinado em circuitos e pequenas travessias seja dentro do próprio parque como pra setores externos a ele, como pra Caieiras ou Mairiporã, já nas margens da Represa Paulo de Paiva de Castro. Basta meter as caras. Seja a pé, bike, ou quem sabe até canoa.
Jorge Soto
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