Acabou. As Olimpíadas de Tóquio 2020 encerraram-se no último domingo, 8, e nesta edição pudemos acompanhar a estreia da Escalada Esportiva no maior evento competitivo do planeta. Foram 4 dias intensos, emocionantes e surpreendentes. Mas qual é o balanço final da participação da modalidade nos jogos? O que trouxe de positivo? O que pode melhorar? O que esperar do futuro?
Visibilidade, emoção e recordes
Não dá pra negar que o que conquistamos de mais positivo para o esporte nestes 4 dias de competições olímpicas foi a visibilidade. Apesar de ainda não recebermos a mesma cobertura que esportes consolidados ou de maior apelo, principalmente no Brasil, com certeza o espaço conquistado pela escalada na mídia chegou a níveis nunca antes vistos. Se soubermos aproveitar bem esta onda, há motivos para acreditar num ganho natural de engajamento nos próximos anos. A escalada agora está no panteão dos esportes olímpicos e só isso já atrai mais atenção.
Outro ponto bastante positivo foi a emoção das disputas. Apesar das controvérsias em torno do modelo adotado para os jogos, foi emocionante assistir até o último escalador se apresentar para competir. Foi, ao mesmo tempo, satisfatório assistir grandes surpresas, como no masculino, e presenciar a merecida premiação de uma grande carreira, no feminino. Com isso a escalada ganha pontos e reforça as chances de continuar a fazer parte dos jogos em edições futuras.
Mesmo com a adoção do modelo combinado, a modalidade da velocidade brilhou nos jogos. De formato fácil de compreender e de desenrolar bastante dinâmico, com certeza chamou a atenção do público ainda não iniciado no esporte. A modalidade é, agora, a mais rápida das Olimpíadas, teve as primeiras marcas olímpicas registradas e ainda a quebra de recorde mundial no feminino.
Transmissão entre erros e acertos
Os espectadores das Copas do Mundo e Campeonato Mundial de Escalada já estão acostumados com um certo padrão de transmissão da IFSC que vem melhorando ano a ano. O que esperávamos era uma grande evolução para as Olimpíadas, mas apesar de enxergarmos melhorias pontuais, algumas soluções eficientes e já bem consolidadas nas transmissões da federação ficaram de fora.
Um dos pontos positivos em Tóquio foi a quantidade de câmeras e ângulos, que geraram imagens fantásticas e replays impressionantes. As imagens estavam entre as melhores já captadas da escalada competitiva, e que se somadas à captação soberba de som, nos fez sentir próximos da ação. Claro, houve momentos difíceis de acompanhar, como nas qualificatórias do boulder, mas isso se deve mais à dinâmica da competição em si, do que à própria transmissão. Nas semifinais da Copa do Mundo, com o mesmo formato, a dificuldade é a mesma. Afinal de contas, é difícil solucionar 4 escaladores ao mesmo tempo na parede. Erros de corte vão acontecer e isso é normal.
No quesito de gráficos em tela, aguardávamos algo realmente envolvente e informativo, e apesar de óbvios acertos, como o resultado em tela simultâneo dos 4 atletas escalando nas qualificatórias de boulder, ficou evidente a pouca frequência de parciais dos resultados durante a competição, no boulder e na guiada.
Na guiada sentimos falta dos “high points” dos atletas marcados em tela, que permitiriam acompanhar o progresso de quem estava escalando. Nos primeiros dias foram poucos os momentos em que se viu essa marcação na imagem da parede, numa espécie de realidade aumentada, o que deixava o espectador sem dimensão de quem foi mais alto. No boulder, gráficos informando as distância entre as agarras e os ângulos das paredes, apesar de interessantes visualmente, visando o espectador leigo, não pareceu fornecer informações relevantes para a competição.
Entre erros e acertos, aprendemos mais sobre como transmitir o nosso esporte para um público mais amplo.
Modelo combinado
O modelo combinado já entrou para a disputa em Tóquio com os dias contados. Primeiro porque ele foi uma aparente concessão da IFSC para garantir o esporte nos jogos. Segundo porque, em Paris 2024, o modelo mudará. Assim, esta foi a primeira e última vez da escalada apresentada neste formato em uma Olimpíada, e apesar de a disputa ter sido emocionante, ficaram claras algumas limitações do formato.
A vulnerabilidade mais evidente foi a disparidade das chances entre os atletas de cada modalidade. Os atletas especialistas em velocidade ficaram em clara desvantagem. Apesar de um primeiro lugar em velocidade nas qualificatórias garantir um lugar nas finais, nas finais, um primeiro lugar não garante um pódio. A ausência de especialistas da modalidade no pódio denota isso.
Outro ponto crítico é o claro desgaste físico dos atletas, que acabou forçando adaptações no formato de disputa, que podem ter sido a causa de alguns problemas. Não, não estamos falando da lesão do atleta Bassa Mawem da França. Qualquer alegação de que ela se deveu ao desgaste físico é mera especulação. Estamos falando da final de boulder, que na reta final para os eventos qualificatórios em 2019, sofreu uma redução de 4 para 3 boulders. O número menor de problemas cria uma maior chance de empates e, talvez, a busca em evitar estes empates nas Olímpiadas tenha sido a causa de boulders extremamente fortes e, consequentemente, poucos tops.
Paris é logo ali
Como já sabemos, a Escalada Esportiva já está confirmada nos Jogos de Paris 2024. Nesta próxima edição o programa da escalada será ampliado. Talvez pela falta de chances de medalha para os especialistas em velocidade no atual modelo combinado, em Paris a modalidade terá seu próprio evento. Teremos um programa com 68 atletas em vez de 40, e 2 eventos com medalhas, Guiada+Boulder e Velocidade. Serão 12 medalhas para a escalada em 2024. O novo modelo ainda terá formato de disputa e classificação divulgado, mas deve ter mais adesão dos atletas e garantir uma disputa mais igualitária.
A participação da Escalada nos Jogos de Los Angeles 2028 ainda não está garantida, mas a IFSC já mira o evento e planeja ter as 3 modalidades separadas, em eventos específicos, valendo medalha. Ou seja, teríamos campeões olímpicos na Velocidade, no Boulder e na Guiada.
Também para 2028 faz parte dos planos da IFSC a inclusão da escalada nos Jogos Paralímpicos, dando também a oportunidade aos paraescaladores se classificarem e brigarem por uma medalha olímpica!
Agora começa tudo outra vez. Um novo ciclo, novas chances, muito trabalho e treino. Tanto para atletas quanto para entidades. Já começamos a contagem regressiva. Nos vemos em Paris 2024!
Texto publicado originalmente em ABEE .