Juan Carlos (32 anos, dos quais leva 17 escalando) estava fazendo uma via esportiva como tantas outras vezes na região de l'Atalaia (Barcelona – Espanha) quando, depois de chegar no final da via e começar o procedimento de descida de baldinho por seu companheiro (quando o assegurador desce o escalador), a corda se partiu repentinamente, precipitando-o numa queda de cerca de 14 metros. Poderia ter tido consequências fatais, mas “apenas” provocou a fratura das duas pernas na altura da canela, a pélvis, cóccix e a ruptura do diafragma, e o começo de uma longa recuperação e reabilitação que ainda se encontra.
Ante a aparente ausência de uma falha humana nas manobras, as suposições se dirigiram a uma falha na corda, uma Simond modelo Roca de 10,2 mm, marca da multinacional Decathlon que decidiu retirar de venda preventivamente à espera de esclarecimento sobre o ocorrido.
Depois de uma pertinente pesquisa, a polícia da Catalunha emitiu um laudo em que conclui que “a corda apresentava visualmente quatro trechos que estavam em mal estado”, um deles, onde houve a ruptura, com “uma cor mais clara, textura mais áspera e uma rigidez considerável”. Adicionam que, segundo o informe pericial do Laboratório Químico, “estes trechos estiveram em contato com ácido sulfúrico, o que provocou uma alteração estrutural de suas fibras e provocou a ruptura da corda em seu trecho mais afetado”.
Diante das conclusões, a Decathlon emitiu um comunicado no qual incide com sua boa disposição para colaborar com a investigação desde o início e expressa sua consternação pelo acidente e desejo de uma pronta recuperação ao acidentado. Descartada a falha do produto, a corda voltou a ser comercializada.
Por sua parte, Juan Carlos estranhou o informe policial, pois assegura que não procede que seu material de escalada tenha estado em contato com nenhum tipo de ácido. “A corda estava praticamente nova, tinha apenas uns quatro usos”, comentava, “a guardava sempre em sua capa e em casa, quando não a usei”. Adiciona que nem em seu trabalho e em nenhuma de suas rotinas habituais está relacionada com a manipulação de produtos químicos ou tóxicos (ainda que o ácido sulfúrico se encontre em produtos relativamente cotidianos, como baterias de automóveis). É além disso um escalador com muitos anos de experiência e opina que se tivesse algum tramo defeituoso na corda, tanto ele quanto seu assegurador haveriam identificado e não teriam usado a mesma.
Ele está estudando com seu advogado uma maneira de recorrer contra o laudo policial, argumentando que a incógnita da origem do ácido segue sem resolver, mas sobre tudo, a mensagem que quer passar para a comunidade escaladora é a prevenção: “Isso é algo que nunca imaginava que me iria ocorrer… É muito importante que as pessoas estejam conscientes de guardar bem a corda e vigia-la de perto, revisando-a sempre com detalhes antes de escalar e o mesmo com todo o material de escalada”.