Está região é encantadora não só pela sua cultura e história intensamente viva, mas também por ainda ser um lugar pouco freqüentado por turistas, fazendo parte da categoria de aéreas restritas nepalesas, o que limitava um total de 200 visitantes por ano, aumentou para 1000 e hoje é limitado a aproximadamente 3000 visitantes anuais.
Mesmo com esse aumento de visitações o Alto Mustang tem proporcionado experiências fantásticas, e únicas como nenhum outro lugar pode oferecer, como por exemplo, jantar e almoçar em casa de camponeses ou comer um bom pedaço de carne junto com os nômades que por ali estão não há preço para tais conhecimentos e experimentos.
A população local, por sua vez, destina todo o seu tempo para o cultivo de grãos nepaleses e lã, que durante o inverno são levados aos centros mais próximos para venda. Neste ritmo temos os vilarejos inativos no inverno, onde o frio assola fortemente a região impossibilitando os serviços e produções dos camponeses, forçando assim todos saírem em caravanas para os centros comerciais mais próximos em busca de sustento e boas vendas, retornando em seguida ao seu lar com tranqüilidade para mais um ano de trabalho.
Muitos montanhistas e caminhantes têm sido atraídos por Lo-Manthang, e isso não acontece só porque esta localizado nos Himalaia ou porque proporciona um visual fantástico das Montanhas de 8000m , e sim porque permite o ser humano ocidental enxergar um padrão completamente diferente de valores onde a natureza de si mesmo a cada passo é colocada em 1º lugar, passando por templos antigos e experenciando meditações e encontros com Budistas que passam o inverno dentro de cavernas de mais de 10.000 anos de existência se dedicando ao auto conhecimento.
Mesmo que este reino não seja mais independente, o Rei ainda existe no coração das pessoas e é amavelmente respeitado por toda a população dos vilarejos de Mustang, buscando manter a cultura viva e as festas tradicionais acontecendo normalmente. Os turistas podem marcar hora para conhecer o rei, que passa praticamente o dia todo orando com seu Japa-Mala(terço oriental de orações), e reserva um tempinho para abençoar quem passa por suas terras, entregando um pequeno enxarpe nepales para sorte e paz na jornada.
Um lugar extremamente inóspito como este, pode causar certo medo e ansiedade para os exploradores, porém são quebrados assim que a trilha começa e a receptividade dos locais se inicia, aconchegando todo e qualquer individuo que por ali passe.
Para chegar a Mustag, pegamos um vôo do Brasil para o Nepal (Kathamandu) e na seqüência um vôo interno de Kathmandu para Pokhara, cidade base para escalada do Annapurna, que é construída ao redor de um lago belíssimo, oferecendo conforto e tranqüilidade para os visitantes, além de ótimos pratos de peixes. Depois de um descanso em Pokhara, partimos de avião até Jomson, de onde iniciamos a caminhada até Kagbeni, dando início ao trekking de 10 dias.
A trilha segue o curso do rio Kaligandaki que abastece toda a região, e vai subindo pelas encostas das montanhas, tendo passos de até 4500m durante o trekking.
Ao longo da caminhada passamos por aproximadamente 5 vilarejos até alcançar a capital lo-manthang, estes vilarejos todos, nos recebem em suas casas desprezando os acampamentos e fornecem também alimentos tipicamente tibetanos para que todos os turistas, que hoje vêem se tornando a maior fonte de renda para este povo, possam retornar.
Os entusiastas caminham em média 6 horas até alcançar o objetivo do dia que é chegar ao próximo vilarejo que muitas vezes se resume a 1 casa de barro bem pequena.
Infelizmente já podemos tomar Coca-Cola em quase todas as regiões inóspitas do Nepal, em Mustag é mais raro, mas mesmo assim já a encontramos também, mostrando assim que mesmo sendo um lugar bem inóspito e desconhecido aos brasileiros, já é bem explorado principalmente por Europeus e Norte Americanos.
Depois desta e muitas outras jornadas pude perceber que a grande virtude de nossas vidas esta em saber contemplar e aproveitar igualmente cada momento de nossa existência seja ele visitar o Mustang ou estar aqui sentado escrevendo este relato.
Carlos Santalena é diretor da divisão Esportiva da Grade VI
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