Amigo dum amigo meu

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Divertimento é importante!

Vários amigos decidiram buscar montanhas
Pegaram a estrada e saíram praticamente correndo.
Foram para as belezas do Paraná evitando as águas
Fugindo de mal tempo que no sudeste era horrendo.

 

Eis que a História continua…
Preenchendo as páginas do montanhismo brasileiro.
Contada como verdade nua e crua,
Porquê aqui não, não tem farofeiro!

 

A estrada foi um pouco ingrata, bastante engarrafamento
Todo mundo reclamava é claro, afinal demora mais pra ir
Só gera conflito, desconforto e aborrecimento
Tudo que víamos pela frente era o belo conjunto do Marumbi.

Sim, esta foi a montanha escolhida
Apesar de estar cercada de turismo, calor e mosquitos
Tem trilhas fáceis, deveras marcadas e bastante erodidas
E adivinhem só, ele foi também e não perde uma o Parofito!


Todos juntos, hora de comer e falar asneira
MC Hauck apareceu cantando seus sucessos
Arrancou de todos risadas e chamativos berros
Nossa, nunca ouvimos em uma só noite tanta besteira
Se der mole, aquilo poderia rolar a noite inteira
Mas era melhor dormir pra na manhã seguinte subir a pirambeira.


As estórias contadas foram uma verdadeira sensação
Muitos causos cômicos e até processo de mumificação
Houve quem não aguentou de tanto rir
Ah, que noite divertida aquela no Marumbi!


Ao amanhecer, um belo céu azul os estava esperando
Nada de chuva como na noite anterior
Todo mundo tomou café e logo seguiram andando
Picada inclinada e pra piorar muito calor


Em pouco tempo estavam no topo do Monte Olimpo
Este é do Paraná, aquele de Marte é muito grande
O grupo se separou, metade disse “vamos indo”
Tácio, Pedro e Parofes seguiram pro Gigante


Foram um pouco apressados, passaram pelo cume direto
Seguiram a trilha morro abaixo até o Ponta do Tigre
Lá esbarraram com Jurandir que reconheceu todos de certo
Estava sozinho e não esperava ninguém por perto
Compartilharam todos da simples sensação de estar livre


O próximo objetivo era a Esfinge
Não, nesta montanha não havia nenhuma charada.
Mas apesar disso resultaria em uma calça rasgada
Ah meu irmão, pega a calça costura e tinge!
Houve um momento em que Parofes perdeu sua pegada
Voltou alguns metros pela rampa molhada
Pedro pode até rir mas da mesma roubada não escapou
Na rota de descida quase virou passarinho
Sentou na mesma rampa e dali desembestou
Coitado, sem controle se estabacou direitinho


Risadas à parte a aventura continuava
Agora o caminho era só descer
O caminho era o vale das lágrimas, mais belo e pior não poderia ser
Correntes, degraus e cordas com as mãos molhadas
É melhor tomar cuidado, um acidente pode ocorrer


Excesso de marcação, só faltava guarda de trânsito
Alguém com uma bandeira que apontasse o caminho
Mas que coisa chata, faltava até ânimo…
Não é possível que alguém se perca ali, mesmo um lobinho.


Depois de uma hora e pouco chegaram no abrigo
Lá estava o Gustavo, na rede sozinho
E cadê o povo? Ninguém havia chegado
Então o trio decidiu andar mais um bocado
Foram até umas casas ao lado e depois até a estação
Cansados, lá ficaram esperando olhando o trem passar, vagão por vagão


Quando o povo chegou todos voltaram pra cabana
O jantar demoraria, mas não precisava se desesperar
Tinha frutas! Mamão, pêssego, maça e banana
Camila prometeu que iria cozinhar
Meteu a mão na massa e repetiu a dose da noite anterior
Fez uma janta da boa, teve gente que comeu até ficar com dor


As palhaçadas esta noite também continuaram
Não pensem que acabou o assunto não!
Nossa como estas pessoas gargalharam
Riram até cansar o pulmão


A noite caiu e cansaço pegou
Cada qual pro seu lado, hora de dormir
O próximo dia seria mais triste pois a aventura acabou
É sempre chato quando é hora de ir


O pessoal arrumou tudo deixando o cafofo um brinco
Mas claro, tem sempre um Parofes que escapa
Fugiu de mansinho, disse que ia desarmar a barraca
Saiu na frente, seguiu seu caminho


As horas passam e o tempo muda
Arrumaram as tralhas e pegaram a estrada
O trio aventureiro esbarrou na trilha até com o Burda
Neste feriadão repleto de pernada


Na estrada ainda fizeram uma boquinha
Pois já estavam de barriga vazia
Lá quase foram enrolados mas o Tácio se mostrou astuto
Perguntou pro garçon “tá me achando matuto?!”
O serviço de fato foi uma piada
Tentaram aplicar o golpe da barriga inchada
Mas o fulano quis arrumar treta
E acabou perdendo na gorjeta


E este foi mais um feriadão onde de tudo aconteceu
Mas nada foi comigo não, foi com um amigo dum amigo meu
Entre mortos e feridos todo mundo se saiu bem
Ninguém foi atropelado pelo trem


E neste finalzinho aproveito a oportunidade
Pra deixar uma piada interna
Tem um fundo baseado em verdade
E nas tristezas que se vê na tela
Calma, não precisa brigar comigo
Vai entender o pessoal envolvido:


É só voltar pra São Paulo e ver as tristes notícias
Foi presa a babá que deixava as crianças feridas
Logo logo chega notícia da prisão
Da velha babá espancada no pavilhão
Vão dizer que a coroa era X9
Que lá dentro ninguém se comove
Vai ter até couro de dentro da cela:
“Faca nas costas, faca na costela, mata ela!”


Qua qua qua…


Parofes

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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