Muito poucas pessoas sabem, mas o Brasil possui um “Route Setter”(elaborador de vias de escalada em ginásio) credenciado pela IFSC (Entidade máxima de campeonatos de escalada). O único Route Setter do Brasil é o paranaense Anderson Gouveia.
Anderson é também o idealizador da formação da seleção juvenil de escalada, e sendo assim o treinador da mesma. O escalador também é gerente responsável daquela que é considerada hoje a melhor academia do Brasil de escalada a “Via Aventura” (basta conhecer para se ter a certeza disso).
Pedi gentilmente que Anderson Gouveia concedesse uma entrevista ao Blog de Escalada, para falar mais sobre ele e a seleção.
Leia abaixo a entrevista. O escalador pode ser contactado em seu site : http://www.andersongouveia.com.br
1 – Anderson, meus parabéns pelo seu trabalho com a seleção brasileira juvenil, como está o panorama desta seleção hoje?
Obrigado, é um sonho realizado trabalhamos muito pra isso, já estamos prontos e com tudo organizado para a viagem com grandes expectativas.
2 – Qual é a expectativa de resultados nos próximos campeonatos ?
Como no ano passado, os atletas que já haviam participado do Mundial tiveram um desempenho um pouco melhor, e acredito que esse ano deva se repetir e a cada ano vamos estar cada vez melhores com a experiência adquirida.
3 – Como estão sendo os encontros para treinamentos dos selecionados?
Bom, os encontros são como avaliações, montamos vias novas e no nível que precisamos para testar os atletas á vista, e é sempre muito bom para o entrosamento do grupo o que é muito importante, falamos de regras e etc. e esse ano o pessoal compareceu mesmo foi bem produtivo!
4 – Maioria dos selecionados estão entrando, ou já entraram na adolescência. Como é administrar esta idade tão complicada?
Olha, a gente só acaba conhecendo eles mesmo durante a viagem, ano passado foi meio tranqüilo, tivemos alguns pequenos problemas, mas se contorna com jeitinho, nos mais é paciência e dar muita risada depois.
5 – Quais estão sendo as dificuldades que a seleção está enfrentando aqui no Brasil? Só patrocínio mesmo?
Antes fosse, temos problemas de patrocínio, para mim a mais importante é a falta de apoio e credibilidade da comunidade escaladora.
Isso acaba desanimando muito os voluntários, os médicos, fisioterapeutas etc. A acaba até mesmo afetando os próprios atletas.
Temos uma boa infra para os treinos aqui em Curitiba e isso ajuda muito, mas para ser melhor deveríamos ter mais ginásio interessados em ajudar esses atletas. Não sinto que hoje fazer parte da seleção brasileira seja algo grandioso na cabeça deles e dos demais escaladores.
Na minha ultima estada nos EUA percebi o quanto os atletas ficam orgulhosos de usar o uniforme da seleção! Orgulho que eu mesmo tenho em ver eles representando nosso país e principalmente quando eu mesmo estou competindo fora!
Sinto-me honrado em defender nossa Pátria a mais de 10 anos fora do país e ainda choro em ouvir o nosso hino tocando!
6 – Você é o único brasileiro route-setter credenciado pelo IFSC, isto tem feito a diferença na preparação?
Com certeza, fui “route setter” no Mundial da Austrália, e estou sempre de olha no que rola nas competições internacionais, alem das regras que influenciam diretamente nossos atletas, pois sempre usamos um regulamento diferente do resto do Mundo.
Hoje estamos tentando mudar isso. Estou sempre em contato com outros “Route setters” e sempre estamos trocando informações…
7 – A quantidade cada vez menor de campeonatos de nível nacional atrapalha na preparação?
Sem duvidas, esse ano não tivemos nem uma competição pré Mundial para o time, vamos meio no escuro, seria ideal termos algumas competições antes.
8 – Houve convites de algum outro país para que você trabalhasse como route-setter de alguma competição?
Não existe convites diretos e sim consultas.
Existe um programa do IFSC para os “Route setters” continentais ,que é o meu caso, e para os aspirantes que acabaram de se formar.
Os “route setter” e chefes são escolhidos no site do IFSC e são eles ,muitas das vezes, que escolhem o resto dos route setters.
Assim como também posso ser escolhido para trabalhar a qualquer instante. Esse ano ouve uma conversa com a USA climbing para trabalhar no Teva mountain games, mas meu amigo Chileno Juajo chegou primeiro e acabou levando a vaga.
Mas ficou o precedente para 2011, alem de que vou estar de olho nas competições Pan-americanas e Sul americanas em 2011 para conseguir mais trabalhos.
Na Europa acaba sendo bem difícil pois lá eles tem uma imensa lista de gente muito boa e acaba inviabilizando até mesmo pelo custo! Eles têm uma organização muito boa em relação a isso, assim como os EUA.
Tentei através da CBME organizar isso por aqui e não deu muito certo!
Mas estou sempre aberto a novos trabalhos e desafios, e ano que vem vou tentar mais uma certificação, pois acredito que temos que nos atualizarmos sempre!
9 – Para os atletas adultos, o seu “know-how está” sendo utilizado para os campeonatos?
Hoje os principais atletas adultos do Brasil já têm muita experiência internacional.
 ,Acredito que eles já saibam bem tudo que sei. Não sei se traria alguma novidade para eles, nós tínhamos o projeto de trabalhar com uma seleção adulta também, mas vai ficar ainda em Stand by para o futuro!
10 – Como você enxergar o público participante de campeonatos de escalada hoje? Está mais maduro?
Um pouco, mas ainda existe muito bairrismo.
Estamos aqui no Paraná através da FEPAM e AEEP para mudar isso.
Aqui as regras são regras reais, e estamos sofrendo criticas por isso. Mas quando os atletas vão competir eles nem se quer sabem as regras do jogo, e só criticam.
Não meu lembro bem ao certo, mas um ano desse ai o Ramon Julian, um dos principais escaladores de competição do Mundo ficou fora da final de uma grande competição por um atraso de 1 minuto! Isso é profissionalismo!!!
As pessoas esperam que os atletas sejam profissionais e estamos tentando fazer isso aqui a ferro e fogo para fazer o esporte crescer e fazer os escaladores entenderem que não é brincadeira. A escalada muito em breve vai se tornar olímpico e temos de estar preparados para isso!
11 – Como você, escalador de destaque, e profissional do ramo de escalada está enfrentando o “caso ABETA”?
É complicado, mas estou sempre do lado da CBME. Acho que estamos bem representados em nosso interesses como escaladores e como profissionais!
12 – A maioria dos campeonatos bem organizados e os mais prestigiados estão em Curitiba. A que você acredita que resultou nesta importância?
Bom, procuramos usar as regras na sua totalidade.
Só trabalhamos com route setter homologados pela FEPAM dentro das regras IFSC , e sempre uso minha experiência trazida de fora.
Sempre fico muito atento a parte de organização das competições e sempre usamos isso aqui!
Procuramos sempre fazer o melhor em tudo!
Sempre fazemos inscrições antecipadas, as vias sempre estão prontas, testadas e armazenadas muito antes do dia, os juízes estão sempre se atualizando em relação às regras IFSC!
 ,E o mais importante procuramos nunca fazer o “jeitinho brasileiro” se as inscrições se encerraram eles se encerram mesmo! Para todos! É isso que às vezes eu vejo que falta aqui…
A seleção Juvenil tem apoio:
Curtlo
Via Aventura
Campo Base
Pico Paraná
AEEP