Após retornar para casa, Andrzej Bargiel, primeiro montanhista a descer integralmente o Monte Everest esquiando e sem o uso de oxigênio suplementar, falou sobre sua aventura. Em entrevista ao site ExplorersWeb, ele detalhou o planejamento, a escalada e a descida da montanha mais alta do mundo durante o outono nepalês.
O polonês contou que havia planejado uma ascensão mais rápida pelo lado sul, mas as condições climáticas excepcionais obrigaram a equipe a mudar de estratégia. “Com as altas temperaturas, a geleira estava derretendo, formando nuvens convectivas que continuavam trazendo mais chuva. Nessas condições, é simplesmente impossível tentar uma subida rápida. Claro, eu teria preferido ir diretamente do Acampamento 2 para o cume — essa era a ideia original — mas simplesmente não foi possível desta vez”, relatou.
Ao todo, 12 integrantes da expedição — entre sherpas e cinegrafistas — chegaram ao cume sul, enquanto outros quatro precisaram retornar após serem atingidos por um deslizamento de neve. Além do clima adverso, a equipe precisou consertar cordas fixas ao longo da subida. “Estávamos consertando cordas enquanto subíamos e abrindo a rota. Nenhum de nós havia subido mais alto antes, então a rota não estava preparada. A maior parte da equipe ficou no cume sul, e eu fui com Dawa Sherpa até o topo, consertando a última seção da rota”, disse.
Bargiel destacou a importância da equipe de apoio e reforçou que a segurança foi prioridade durante toda a expedição, com planos alternativos em caso de emergência. “Quando as pessoas pensam no Everest, geralmente imaginam longas filas de alpinistas e multidões na rota. Mas estávamos completamente sozinhos”, afirmou. “Durante a monção, alguns metros de neve caem do alto, cobrindo tudo. Isso muda a montanha completamente — sem vestígios humanos, sem cordas fixas, sem pegadas. Tudo estava soterrado por neve fresca, e isso fez o lugar parecer selvagem novamente”, completou.
A rota escolhida foi à esquerda do Esporão de Genebra, visando reduzir o risco de avalanches, e o grupo optou por não montar o Acampamento 3 devido às más condições do terreno. Ao chegar ao cume, Bargiel encontrou neve fresca em excesso, o que exigiu cuidado redobrado para evitar acidentes.
O retorno de esqui
Após um breve momento no cume, Bargiel iniciou a descida esquiando. “A descida de esqui foi tranquila — eu simplesmente deslizei seguindo a linha da crista. Foi a parte mais difícil? Definitivamente exigiu concentração, mas não achei extremamente difícil”.
No primeiro dia, ele desceu até o Acampamento 2, onde pernoitou por segurança. “Por volta das 8h, a [cascata de gelo]ficou realmente perigosa, então, se eu quisesse esquiar com segurança, teria que ser bem cedo. Por isso, decidi passar a noite no Acampamento 2. Era a única maneira razoável e segura de fazer funcionar”, explicou.
A estratégia sempre foi evitar riscos desnecessários. Por isso, Bargiel decidiu não carregar sua “mochila de avalanche”, usada normalmente nos Alpes. “Em uma situação dessas, não faria muita diferença”, justificou.
Segundo ele, o outono é a única estação em que o esqui no Everest é possível, já que na primavera a cascata de gelo se torna praticamente intransitável. Como os Doutores da Cascata de Gelo se recusaram a consertar a rota nesta temporada, Bargiel assumiu a tarefa. “Ao trabalhar na rota, tive uma noção melhor do terreno, pude observar diferentes partes da geleira e identificar uma possível linha. Ela não seguia exatamente a linha da corda fixada, mas era uma linha factível”, explicou.
Esquiar na cascata de gelo do Khumbu, uma surpresa
“Para mim, isso foi algo realmente especial. No começo, sinceramente, não acreditei que seria possível esquiar na cascata de gelo. Mas cada expedição me ensina que esta geleira muda a cada estação — nunca é a mesma. A cada vez, é preciso encará-la com outros olhos e reconstruir tudo do zero”, afirmou.
Bargiel ressaltou que sua motivação não foi ser o primeiro, mas sim um desafio pessoal. “No Everest, o principal desafio é o esforço físico. É uma montanha difícil de escalar. A geleira é complexa — não é vertical, mas um verdadeiro labirinto — e você precisa encontrar o caminho através dela, escolhendo uma linha que o leve em segurança de volta ao acampamento base. Para mim, é mais um sonho — um teste pessoal. Só quero ver até onde consigo ir, o quanto meu corpo aguenta, se consigo lidar com aquela altitude e ainda esquiar sem oxigênio. Essa era a ideia — um desafio que me propus”, acrescentou.
Por fim, ele afirmou que deseja realizar novas aventuras, mas reconheceu que o aquecimento global e o rápido derretimento das geleiras estão tornando cada vez mais difícil esse tipo de projeto.
Confira o relato completo no site ExplorersWeb.


















