Antoine Girard fala sobre acidente com Rodrigo Raineri

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O famoso piloto de parapente francês Antoine Girard possui uma grande experiência em voos a partir de montanhas com mais de oito mil metros e era o responsável de cuidar da logística de acampamento na expedição que Rodrigo Raineri se acidentou, em 05/07. Estava nos planos de voo do grupo chegar até próximo ao Acampamento Base do K2, no Paquistão.  Assim, como o acidente, Girard ficou isolado no Acampamento de Concordia. No entanto, em 18/07, já de volta a cidade ele escreveu uma declaração em seu Instagram esclarecendo a sua participação na expedição.

Self feita por Rodrigo durante a expedição com Veso Ovcharov e Antoine Girard ao seu lado.

Girard ressalta que não exercia a função de guia durante a expedição e que todos do grupo estavam cientes disso. Segundo ele, os integrantes, incluindo Rodrigo, haviam assinado um termo de ciência de risco. “Ao contrário do que se diz, não há expedições comerciais guiadas em Baltoro! Ninguém pode guiar num sítio como Baltoro. Eu organizei uma expedição em que me encarreguei da logística terrestre, das autorizações e da partilha da minha experiência”, escreveu.

O piloto contou que se separou do restante do grupo com o objetivo de chegar antes ao Acampamento de Concordia e preparar tudo para a chegada dos demais integrantes. Outros dois pilotos seguiram com ele para o destino final, enquanto os últimos quatro integrantes deveriam ir até o acampamento de Paju, a meio caminho, esperar os porteadores que fariam o trajeto a pé.

Segundo Girard, a região de Askoli e Paju não representa qualquer risco particular de voo, com pousos disponíveis em vários locais, tornando-a mais fácil do que Hunza, onde Rodrigo e a maioria da equipe voaram nas duas semanas anteriores, na parte do Paquistão mais comumente sobrevoada. Dessa maneira, quando já estava em Concordia, soube que apenas três dos quatro integrantes haviam pousado em Paju e imaginou que Rodrigo havia abortado o voo e permanecido com os porteadores.

Ele contou ainda que só soube do acidente com Rodrigo no dia seguinte, o que foi um choque para toda a equipe. No entanto, ele foi orientado a permanecer no Acampamento Concordia, onde poderia ser contactado por telefone via satélite. Proibido de voar na região ou de deixar o local, ele e o restante da equipe permaneceram até terem autorização para voltar à cidade de Askoli. Segundo ele, o mau tempo dificultou a comunicação e eles ficaram todos os dias com pouca comida, sem equipamentos e raras notícias.

Girard conta ainda que recebeu com indignação a notícia da prisão de Ali Muhammad, o diretor da agência contratada por ele para fornecer os serviços de acampamento e carregadores, mas que nada podia fazer estando isolado em meio às montanhas. Quando retornou para a cidade, foi informado que Ali já estava em liberdade, porém aguardando julgamento. Durante o texto ele também condena as notícias falsas que foram espalhadas após a morte do brasileiro.

Antes de encerrar a declaração ele homenageou Rodrigo. “Toda esta história tende a reduzir a importância do acidente com Rodrigo. Mas isso é o mais importante nesta história: um amigo, um companheiro, um aventureiro desapareceu tragicamente. A dor está presente e continuará por muito tempo. Bom voo, meu amigo”, completou.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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