Apesar de você, coronavírus, amanhã há de ser outro dia!

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Muita coisa mudou, nós mudamos. A pandemia trouxe sofrimentos e lições. Milhares de famílias foram separadas eternamente. As dores, os traumas, irão demorar muitos, muitos anos para diminuírem.

Outras famílias foram preservadas, digo isso pelo atropelamento fatal que não ocorreu, pois naquele dia ela não precisou ir para o trabalho. A briga de bar que terminaria em tiros e morte e que também não aconteceu, pois os bares estavam fechados. A colisão frontal, inexistente, entre dois carros em alta velocidade, pois um estava com pressa para chegar a tempo na festa de casamento do amigo e desrespeitou as regras de segurança do trânsito; como a festa foi cancelada, naquele dia a família toda ficou em casa.

Quantas vidas anônimas o coronavírus salvou? A nossa, inclusive, pode estar entre elas!

Marise Cestari no topo do Monte Roraima

Com o isolamento social, começamos a valorizar os simples prazeres da vida que até então, fazíamos de forma automática e sequer notávamos, como uma volta na rua, uma ida ao mercado, um lanche da tarde na casa de um parente. Nós como seres humanos temos uma dificuldade grande em valorizar o que possuímos. É somente a partir do momento em que perdemos que começamos a dar valor.

Começamos a perceber quais são as nossas verdadeiras faltas. Realmente tudo que eu comprava antes me fazia feliz? Eu gastava meu dinheiro nas coisas certas?

Eu sinto falta da minha liberdade, das minhas viagens, dos encontros com amigos. Das compras no shopping, até o momento, não senti falta alguma…

Dentre as viagens, aquelas que mais sinto falta, são das que me colocavam em contato com a natureza. Tenho saudades das caminhadas íngremes pelas montanhas carregando a mochila pesada com equipamentos para o acampamento e a cabeça cheia de sonhos e desejos. Tenho saudades de ver o sol se por e depois nascer do alto de um monte. Saudade da solidariedade da equipe que sempre está conosco nessas viagens, dos incentivos para não desistir, da mão amiga para ajudar a superar um obstáculo.

Vista do acampamento durante o trekking o Monte Roraima

Minhas noites e amanheceres mais lindos foram todos no alto de montanhas! 

Olhar para o céu repleto de estrelas, é algo que me faz chorar. Um choro de alegria e gratidão. Choro que significa momentos de extrema felicidade, de poder sentir que realmente a vida vale muito a pena!

Estrelas e nuvens

 

 

 

E poder relembrar isso, minhas incríveis vivências com amigos que são “Gente de Montanha”, ajuda-me a manter a saúde mental estável nessa pandemia e consigo olhar para a situação com esperança, sabendo que mais cedo ou mais tarde, isso tudo vai acabar e assim como o Chico falou em sua música, vamos, em breve, poder dizer:

“Eu pergunto a você

Onde vai se esconder

Da enorme euforia

Como vai proibir

Quando o galo insistir

Em cantar

Água nova brotando

E a gente se amando

Sem parar”

Marise e equipe do Gente de Montanha no Monte Roraima

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Sobre o autor

Marise Cestari é médica neurologista e aventureira. Começou sua vida de aventura no Caminho de Santiago, onde descobriu que o trekking é uma terapia para o corpo e a alma. Desde então não parou mais, já tendo realizando diversos trekkings e ascensões nos Andes e Venezuela, inclusive curso de escalada em rocha.

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