Em primeiro lugar há de prevalecer a lógica como fio condutor do pensamento. Fatos são teimosos e não respeitam nenhuma ideologia. Um diagnóstico correto é passo importante para a eficácia da ação. O que se deseja no Monte Crista e em todas as outras montanhas é a preservação e o respeito ao eco-sistema e à paisagem natural.
A ocupação maciça e desenfreada das trilhas e dos cumes é um grande problema pelo impacto ambiental que produz nestes ambientes frágeis, mas há exeções como o próprio Monte Crista e o Itupava. Falar de uso excessivo da trilha nestes dois casos é uma besteira uma vez que estes caminhos estão preparados deste há séculos para o tráfego intenso das tropas de mulas como é de conhecimento geral, assunto que já tratei no livro Caminhos Coloniais da Serra do Mar editado pela Natugraf em 2006 e no site Caminho do Itupava aqui no Alta Montanha. Neles a questão se concentra na falta de educação e no mais puro vandalismo.
Comparações com o Anhangava no 1º de maio são totalmente descabidas uma vez que as multidões que para lá se dirigem tem o único propósito de rezar a Deus. Isto já lhes confere muitos valores éticos e predisposição a organização. O caso das peregrinações neopentecostais mostrou-se um pouco mais complicado, mas em ambos existem líderes dispostos ao diálogo. No Marumbi se implantou um parque com alguma fiscalização, mesmo que precária, mas o grande resultado veio mesmo com o aumento astronômico das passagens de trem que desviou o problema para o Pico Paraná. Parques no Brasil acabam se transformando em mais um problema em vez de constituir soluções para os montanhistas.
Na subida para a Pedra do Açu, em Petrópolis, os guarda-parque podem revistar as mochilas para impedir a entrada de bebidas alcoólicas, armas e drogas ilícitas, se bem que há inúmeras formas de evitar a guarita no Bonfim. No Aconcágua a vigilância se dá em todos os acampamentos. Fiscalização não é novidade nos locais de grande concentração de pessoas, afinal o Monte Crista como toda a Serra do Mar ainda estão em território brasileiro e sujeitos as mesmas leis que deveriam reger a nação.
Claro que a educação é a solução final como salientou o leitor Teotônio Marques, mas isto está distante de acontecer e o Monte Crista precisa de uma ação emergencial. Diferentemente do Anhangava a multidão que o freqüenta não vai lá para rezar. Vão lá para fugir da sociedade civilizada e dos limites por ela imposta. Transformaram o local em feudo livre das leis onde se consome bebidas e drogas sem o mínimo controle. Quem não respeita o próprio corpo também não se importa com a natureza. Que educação se pode transferir a essa gente?
A Associação Joinvilense de Montanhismo pediu sugestões para preservar a montanha e sua paisagem da sanha feroz desta multidão. Basta um diagnóstico preciso da situação para que a solução salte aos olhos. O relato da Bárbara Pereira, do Reginaldo Carvalho e as fotos do Elcio Douglas mostram crimes ambientais cometidos por vândalos drogados e alcoolizados num ambiente de total impunidade. É antes de tudo um caso de polícia que cabe as autoridades de Santa Catarina resolver, e o Programa Adote uma Montanha se tornaria realmente útil e eficaz assumindo a responsabilidade de incomodar estas mesmas autoridades para fazerem o trabalho necessário. É um bom começo.
Limpar trilhas, fazer escadinhas, coletar lixo e conter erosão apenas facilitam o acesso e melhoram a vida dos vândalos. Como preservação ambiental, antes de resolvido o problema principal, é o mesmo que enxugar gelo. Mas há de se ter moral para entrar numa delegacia, nas prefeituras, câmaras de vereadores e assembléias de deputados e fazer esta denúncia, e vontade férrea para que ações reais sejam implantadas.
Quem tem ouvidos para ouvir que ouça, quem tem olhos para ver que veja disse o Nosso Senhor, quem tem moral e vontade para fazer que faça, completo.