PARQUE NACIONAL DA SERRA DA BOCAINA (SP/RJ)
Encravado na divisa dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Serra da Bocaina tem uma característica peculiar que o torna visitável em qualquer época do ano: sua área compreende desde o nível do mar (Praia do Cachadaço, em Paraty) até altitudes que chegam a 2088 metros, como o Pico do Tira Chapéu. Só para ter uma ideia, Campos do Jordão está a 1600 metros do nível do mar. Apenas os parques estaduais do Marumbi (PR) e da Serra do Tabuleiro (SC) têm essas características, sem alcançar tamanha altitude.
Por essas montanhas passavam boa parte do carregamento de ouro no século 18, proveniente de Minas Gerais, com Paraty como ponto de chegada antes do embarque para Portugal. Essa última perna da Estrada Real é a tão propalada Trilha do Ouro, mais famoso atrativo do parque e um belíssimo programa para quem curte uma caminhada mais pesada com direito a alguns trechos de piso pé-de-moleque, gélidas cachoeiras, pernoites em casas de colonos e contato direto com tudo o que a Mata Atlântica oferece.
São José do Barreiro, pequena cidade paulista, é o ponto de partida para alcançar a portaria do Parque Nacional. A encrenca começa na terrível estradinha de terra, cheia de buracos, 26 quilômetros montanha acima. Quem for fazer a Trilha do Ouro, vale mais a pena deixar o veículo em Barreiro e alugar uma 4×4 ou um fusquinha para subir a serra.
Bota amaciada, mochila nas costas: é hora de começar a travessia. A partir da portaria do Parque são três dias de caminhada. Logo de cara são 23 quilômetros com direito a duas cachoeiras – Santo Izidro e das Posses – para contemplação, uma vez que elas são geladas inclusive no verão. Araucárias são bem presentes nesse primeiro dia de trekking. Para terminar o dia com perfeição, só mesmo uma fogueira para assar pinhão (se for inverno) regado a uma boa prosa com os colonos.
Mais tranquilo, no segundo dia nem se anda muito (cerca de 10 quilômetros), tampouco há grandes desníveis, sobrando tempo para admirar a beleza da Cachoeira dos Veados e seus 200 metros de queda em duas partes.
O derradeiro dia é justamente o que concentra o calçamento pé-de-moleque do século 18. Também é o dia com mata mais fechada e onde efetivamente se desce a serra. Com chuva, o calçamento fica bem mais liso, aumentando a possibilidade de queda. Após 18 quilômetros de incessante descida, surge o Rio Mambucaba para sinalizar o final da trilha. Daí até a Vila de Mambucaba, nas margens da Rio-Santos, são mais 15 quilômetros planos e sem graça. Recomenda-se contratar um veículo para levar até a vila ou mesmo a São José do Barreiro.
Também iniciando na portaria do Parque, a trilha para o Pico do Tira Chapéu é recomendada para quem não estiver disposto a percorrer a Trilha do Ouro ou quem curte apreciar um mar de montanhas. Bom condicionamento é recomendável, a subida de 10 quilômetros tem alguns trechos mais fortes – embora não existam pontos de escalaminhada. No alto dos 2088 metros, a vista das montanhas da Mantiqueira é garantida. Em dias claros, consegue-se ver o Oceano Atlântico ao fundo.
Para mais informações:
Parque Nacional da Serra da Bocaina: (12) 3117-2183
PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA (RJ/MG)
Antes mesmo de existir a Via Dutra, já havia o Parque Nacional do Itatiaia, o pioneiro de país. Criado em 1937 pelo então presidente Getúlio Vargas, o parque é dividido em duas partes, com públicos ligeiramente distintos e vegetação e altitude completamente diferentes
Encostada na cidade de Itatiaia, a parte baixa do parque é Mata Atlântica pura, com muito verde e cachoeiras e poços para banho, mas extremamente gelados fora do verão. Nessa região ficam as melhores opções de hospedagem e famílias com crianças dominam o ambiente.
Um autêntico playground para os trekkers. Assim podemos classificar a parte alta do Itatiaia, situada a 63 quilômetros dali por via rodoviária, sendo os últimos 17 quilômetros em uma estrada pra lá de ruim: a BR-465, a mais alta BR brasileira. Quem for apenas visitar este lado do parque, é recomendável se hospedar na mineira Itamonte.
Com altitudes superiores a 2 500 metros, a Mata Atlântica dá lugar aos belos campos de altitude, com vegetação rasteira e bromélias encravadas nas rochas. Apesar do frio intenso, é no outono e inverno a época ideal para se aventurar pelas montanhas: chove bem menos e os dias ensolarados garantem um visual belíssimo. O esforço para alcançar os cumes será recompensado com dezenas de fotos nas redes sociais e vídeos no Youtube.
Três dias são suficientes para caminhar pelas principais atrações dessa parte do Maciço do Itatiaia. Quem não estiver muito bem preparado fisicamente, uma certeza: vai sofrer pacas, trechos de escalaminhada estarão presentes em todos os picos. A ausência de uma trilha bem definida – a caminhada é feita na maior parte do tempo sobre rochas – torna indispensável a presença de um guia bem experiente.
Como forma de reconhecimento do território, recomenda-se iniciar pela trilha do Morro do Couto, oitava maior elevação brasileira, com 2 680 metros. Ao passar pela portaria, o morro fica logo à direita e é bem extenso, terminando no Abrigo Rebouças, de onde saem as demais trilhas do parque. Ironicamente, a trilha do Couto é a mais extensa, porém com uma subida menos íngreme. Apenas no final tem um trecho de escalaminhada que não chega a assustar. Em duas horas de caminhada, chega-se no cume e a vista 360º engloba o Vale do Paraíba, a Serra Fina, o Pico das Agulhas Negras e o curioso Pico das Prateleiras, alvo do segundo dia de trekking.
Embora mais baixo que o Morro do Couto, o Pico das Prateleiras e seus 2 540 metros exigem respeito. Do Abrigo Rebouças até a base do pico, que parece ter sido esculpido manualmente, a subida exige um pouco das pernas. Quem não estiver bem preparado e sofrer com medo de altura, pode parar por aí que a vista já vale a pena. Os mais corajosos podem seguir por uma hora e meia montanha acima, passando por estreitas passagens e desafiadoras fendas. Em uma delas, conhecida como Pulo do Gato, o uso de cordas é necessário. Tem uns malucos que arriscam um salto, mas se errar o alvo…já era. Uma vez mais a corda é requisitada, poucos metros antes do cume. A vista do Vale do Paraíba e da parte baixa do Itatiaia é ainda mais bela que o Morro do Couto.
Devidamente aclimatado, chegou a hora de vencer a grande montanha: o Pico das Agulhas Negras, o quinto maior do país, com 2 787 metros. A primeira perna da jornada é fácil: um terreno quase plano com direito a uma ponte pênsil sobre um pequeno lago. Essa moleza termina após 40 minutos. Daí para frente o tempo até o cume depende da velocidade do grupo. A subida na rocha tem vários trechos íngremes, a corda será solicitada em alguns momentos, em outros, é necessário lagartear, torcendo por uma bromélia a ajudar no apoio. São no mínimo 3 horas até o topo. Diferente do Couto e das Prateleiras, a vista do Agulhas contempla melhor o lado mineiro: as montanhas de Aiuruoca e de Alagoa, além da Serra Fina. Reponha as energias e encare uma descida tão difícil quanto a subida.
Para mais informações:
Parque Nacional do Itatiaia: (24) 3352-1292
PARQUE NACIONAL APARADOS DA SERRA/SERRA GERAL (RS/SC)
Em qualquer época do ano, o frio é presença certa nos dois parques situados na divisa do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, entre os municípios de Cambará do Sul (com melhor infraestrutura) e Praia Grande. Mas quem vai no inverno tem maiores possibilidades de ficar com o queixo caído ao admirar os fabulosos cânions da região. Chove menos e a incômoda presença da neblina não é tão constante como no verão.
Mais estruturado, o Parque Nacional de Aparados da Serra tem no Cânion do Itaimbezinho seu principal chamariz. Com 5,8 quilômetros de extensão e 720 metros de profundidade, há três maneiras de explorá-lo: a Trilha do Cotovelo é programa clássico, uma trilha plana de 7 quilômetros (ida e volta). Saindo do Centro de Visitantes, percorre parte da extensão do Itaimbezinho até chegar num cotovelo, que oferece o ângulo mais manjado da região. Nitidamente se percebe o contraste das matas de araucária na parte alta e Atlântica na parte baixa. Também com início no Centro de Visitantes e mais fácil ainda, aTrilha do Vértice tem 1,5 quilômetro (ida e volta) e é feita por passarelas na borda do cânion. O sentido é oposto à Trilha do Cotovelo e a vista é de duas cachoeiras (Andorinhas e Véu da Noiva) impossíveis de ser avistadas na outra atividade. As duas trilhas podem ser feitas no mesmo dia e o Centro de Visitantes oferece serviço de lanchonete e banheiros.
Bem mais extenuante é a Trilha do Rio do Boi, que passa por dentro do cânion, atravessando pedras e por vezes andando por dentro do Rio do Boi, que tem o leito formado pelas águas provenientes das cachoeiras Andorinhas e Véu de Noiva. São 12 quilômetros de caminhada pesada e a presença de um guia é indispensável. A trilha começa na portaria da cidade de Praia Grande (SC) e para chegar lá é preciso descer de carro a Serra do Faxinal.
Chegar ao Parque Nacional da Serra Geral requer uma dose extra de paciência. O trecho final de 14 quilômetros da estrada de acesso é por uma estrada de terra (ou seria pedra?) muito chata. Esqueça o Centro de Visitantes do parque vizinho, aqui há apenas uma portaria. Mas vale a pena o sofrimento para se emocionar com o Cânion da Fortaleza, com 7,5 quilômetros de extensão, 900 metros de profundidade e quase 2 quilômetros de largura. Se o Itaimbezinho esbanja charme, o Fortaleza é impactante.
Não é preciso força ou preparo físico para alcançar o Mirante da Fortaleza, onde é possível observar quase toda extensão do cânion e, em dias muito claros, conseguir ver o litoral gaúcho bem, mas bem ao fundo. A trilha tem 3 quilômetros (ida e volta). Quem busca aventura encontra na trilha de 22 quilômetros que sai do Cânion da Fortaleza e vai até os cânions Churriado e Malacara. Andando por vezes pelas bordas, é indispensável a presença de um guia. Fenômeno comum, a formação de nevoeiros traz o risco iminente de sair da trilha e se perder.
Muito procurada é a trilha que leva à Cachoeira do Tigre Preto e à Pedra do Segredo. Basta caminhar por 800 metros até o leito do rio, atravessá-lo (é rasinho e existem várias pedras que ajudam na travessia) e prosseguir mais um pouco em direção ao mirante com vista para a cachoeira. Daí até a Pedra do Segredo a trilha é levemente dificultada, mas sem oferecer grandes obstáculos. Curiosa formação, a base da pedra é bem mais fina que o resto do bloco e está apoiada em outra rocha.
Para mais informações:
Parque Nacional de Aparados da Serra/Serra Geral: (54) 3251-1277
PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS (RJ)
Se você quer criar uma interessante discussão entre os montanhistas ou amantes de caminhada, pergunte qual o melhor trekking do país. Trekking no sentido pleno da palavra, daqueles em que se faz necessária uma reforçada mochila cargueira nas costas e pernoites em barracas ou abrigos. Apesar de plano, o longo Trekking do Descobrimento, entre Cumuruxatiba e Porto Seguro (BA) tem no calor um inimigo feroz. Na mesma Bahia, as caminhadas pela Chapada Diamantina passam por lugares inóspitos. Ao lado do Itatiaia, a travessia da Serra Fina (RJ/SP/MG) é duríssima pela dificuldade geográfica aliada à falta de água nos três dias de jornada. Um pouco menos extenuante que a Serra Fina, a clássica travessia de 34 quilômetros entre Petrópolis e Teresópolis, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ), rende visuais indescritíveis.
Recomenda-se fazer essa travessia com um guia experiente, em três dias e no sentido Petrópolis-Teresópolis: a caminhada é um pouco menos pesada e o final em Teresópolis é próximo ao Centro, com mais recursos de restaurantes e hotel para relaxar após tão penosa jornada.
O primeiro dia é o mais sacrificante, aquele que faz o andarilho perguntar o que ele está fazendo ali. Saindo da portaria do Parque, no distrito de Bonfim, é necessário vencer um desnível de 1100 metros por uma trilha erodida, passando pela Pedra do Queijo e o pelo Ajax (lugares ótimos de parada para descanso e contemplação da linda paisagem) até alcançar os Castelos do Açú, uma curiosa formação que serve de abrigo para o primeiro pernoite. Nesse dia, atravessa-se alguns pontos de água, mas é necessário levar um produto para purificá-la.
Um sobe e desce repleto de vales e lindos pontos de contemplação: assim é o segundo dia do trekking, feito em altitude média de 2000 metros. Nesse dia o trabalho do guia é altamente requisitado. Nem tanto pela dificuldade do terreno, mas por existir várias marcações errôneas na rocha que podem levar o caminhante a se perder, especialmente em dias nublados. O dia reserva a avistagem do Pico Dedo de Deus do alto e a travessia do Cavalinho, uma fenda em que a corda é solicitada. Culmina com a chegada à Pedra do Sino, ponto mais elevado do Parque (2 262 metros) e local de pernoite para o segundo dia. É proibido acampar no cume, mas muitos sobem à noite apenas para apreciar o céu estrelado e as luzes de Teresópolis e do Rio de Janeiro.
Se o primeiro dia foi todo em subida, o derradeiro será uma longa descida até a sede do Parque, em Teresópolis. Como é uma descida relativamente branda, feita em torno de cinco horas, vale subir novamente até o topo da Pedra do Sino e observar o nascer do dia. O declive mostra a transição dos campos de altitude para a Mata Atlântica.
Apesar de aberta o ano inteiro, essa trilha é praticamente realizada entre maio e setembro, quando chove pouco, diminuindo a incidência de raios e deixando as rochas secas.
Para mais informações:
Parque Nacional da Serra dos Órgãos: (21) 2152-1100
PARQUE NACIONAL DO ALTO CAPARAÓ (MG/ES)
Situado na divisa de Minas Gerais e Espírito Santo, o Parque Nacional do Alto Caparaó divide as mais altas elevações do Sudeste com o maciço do Itatiaia e a Serra Fina (RJ/MG/SP). Principal atração, oPico da Bandeira com seus 2 892 metros de altitude é o mais alto do Sudeste e o terceiro do país. Por incrível que pareça, chegar ao cume é bem mais fácil que o Agulhas Negras ou mesmo os picos da Serra dos Órgãos (RJ). Evidente que um mínimo de condicionamento físico é pré-requisito para o sucesso da jornada.
Há acessos por Minas Gerais e Espírito Santo, mas o melhor estruturado é o mineiro, usando como ponto de partida a cidade de Alto Caparaó. Lá se encontram um maior número de pousadas e os guias mais experientes – embora a trilha esteja bem sinalizada, é recomendável subir com um guia.
Da portaria até um local conhecido como Tronqueira, sobe-se de carro por uma estrada asfaltada. Há uma pequena área de camping com a primeira bela vista das montanhas e de Alto Caparaó. Já aqui é possível observar as nuvens que, frequentemente, cobre a região.
Começa-se a caminhada, subindo o tempo todo, porém de uma forma branda e sem pontos de escalaminhada. No começo a aberta trilha margeia o Rio José Pedro, que forma piscinas naturais e pequenas cachoeiras. Esse local é conhecido como Vale Encantado. Após duas horas de andanças, chega-se no Terreirão, um local com área de camping e um abrigo de montanha com banheiros. Pit stop rápido para apreciar a cênica paisagem e um descanso para encarar o ataque final ao pico. A subida fica levemente mais intensa, degraus aparecem com mais constância. Quando se avista ao longe a cruz em cima do pico, é o prenúncio que faltam poucos minutos para se alcançar o Bandeira. Aí é só torcer para pegar céu aberto e se encantar com o mar de montanhas. Considerando que os picos da Neblina e 31 de Março ficam isolados e desertos na Amazônia, é muito possível que quem esteja no cume do Bandeira seja a pessoa em mais alta altitude no Brasil naquele momento. Ao menos em terra.
Quem curte mais adrenalina e encara uma noite acampado num local gelado, pode fazer um programa diferente. Ao invés de subir e descer o Bandeira no mesmo dia, vale a pena curtir as cachoeiras do Vale Encantado e chegar ao Terreirão ao entardecer. Munidos de lanterna e de uma mochila pequena, o ataque final ao pico inicia-se entre as 2h e 3h da manhã, alcançando o cume um pouco antes do nascer do sol. Após o espetáculo do raiar o dia, é hora de caminhar em direção aos picos do Calçado e Cristal, subindo e descendo por vales. Regressando para o Terreirão, aí sim pega-se o mesmo caminho do dia anterior.
Para mais informações:
Parque Nacional do Alto Caparaó: (32) 3747-2555