As Cachu de Juquitiba

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Centro de esportes radicais próximo de Sampa q recebe muitos visitantes nos fds e feriados, Juquitiba é uma região rica em nascentes, rios e riachos, inseridos em meio a muita Mata Atlântica preservada. Como não poderia deixar de ser, seus recursos hídricos resultam numa diversidade de cachoeiras pra tds os gostos, passiveis de serem alcançadas ora de carro, bike e até a pé, com alguma determinação. E aproveitando a recente onda de calor q fomos nos refrescar em duas destas belas quedas dágua, num bate-volta sussa e descompromissado desta região repleta de atrativos escondidos na mata. E a apenas 70km de Sampa.

Não pisava em Juquitiba desde o século passado, literalmente. Minha única experiência no local se deu numa já esquecida canoada com acampamento pelo Rio Juquiá, na cia da saudosa galera do GE Paineiras. Desde então sempre acalentei o desejo em lá retornar, mas esta ideia por algum motivo acabou sendo adiada e adiada, até cair no limbo do esquecimento em caráter permanente. Bem, até a semana passada, qdo o Nando me chamou pra ir lá dar uma refrescada nalguma cachu tendo em vista os dias estupidamente quentes q haviam se debruçado sobre a Metrópole paulistana. Ok, confesso q tremi nas bases qdo ele me chamou pra esse rolê. Afinal, nossas duas ultimas incursões resultaram em verdadeiras roubadas com vara-mato homéricos, nos vales do Preguiça e Cubatão de Cima. “Q nada, desta vez é trip sussa, nada selvagem! Passeio no bosque mesmo!”, garantiu. Então tá, né?

Pontualmente as 8hrs nos encontramos no extremo do Jóquei Clube, zona oeste de Sampa, na frente do pto de bus em frente ao Pq Alfredo Volpi, no Morumbi. Ali tomamos o “Valo Velho” (647-A), latão q nos deixaria no extremo sul de Sampa. E lá fomos nós, cruzando tds os bairros nesse meio termo, com destaque pros barracos verticais q permeiam o Capão Redondo. Em tempo, a idéia de atingir Juquitiba atraves de busunga veio do objetivo em fazer um circuito q não nos prendesse a algum lugar especificamente e, dessa maneira, ter alguma independência no q der e viesse.

Após muito chacoalhar, finalmente saltamos no limite municipal de Sampa e Itapecirica da Serra, as 9:20hrs, em frente duma tal Loja Santos. Olha, nunca tinha pisado nestes cafundós e francamente me senti na fronteira boliviana. Ali literalmente era onde o “Judas perdeu as botas”! Lotações de rodo cruzando pro “outro lado”, camelôs anunciando a pulmões cheios seus produtos, gente com tds as feições e etnias imagináveis, etc. Cruzamos então pra Itapecirica da Serra, onde aguardamos o busão q nos levaria pra Juquitiba. Só faltou carimbar o passaporte. Apesar de demorada, esta trip de bumba tava, antropologicamente falando, bem interessante.

Felizmente a espera não tardou muito e, as 9:30hrs, o “Juquitiba-Barnabés” (C-030) zarpou atravessando o centro de Itapecirica pra rumar sentido a BR-116, mais conhecida como Rod. Regis Bittencourt. Ali a paisagem mudou completamente. O cinza e a horizontalidade urbana deram lugar ao mais puro verde. Emoldurados pela janela do intermunicipal, vegetação farta e exuberante exibia seus mais variados tons esmeraldas na forma de florestas, campos e morrotes cobertos de mata.

Pois bem, após mto sacolejo e cruzar ate por São Lorenço da Serra, saltamos do busao as margens da rodovia por volta das 10:30hrs, após a ponte sobre o Rio São Lourenço. Estávamos no Bairro das Palmeiras, distante ainda quase uns 6 ou 7km do centro de Juquitiba, pois nossa programação pressumia de fato q logisticamente nosso circuito comecava por ali e depois findaria na cidade mesmo. Passamos pro outro lado da passarela e começamos a andar por uma estrada de terra batida, a Estrada do Soturno, q resumidamente tomou sentido leste o tempo td, sem gde variação de desnivel. Nosso destino ali seria a Cachu Palomar, em tese 3 ou 4km distante da rodovia. Em tempo, evite perguntar aos locais a distancia da cachu pois cada pessoa lhe dará uma distância.

O Bairro das Palmeiras se resume a umas duas lojas de comercio e mais um punhado de casas. E só. Num piscar de olhos nos vimos perambulando solitários por uma via empoeirada cercados por um cenário bem bucólico, pontilhado de morros cobertos de mata e córregos cruzando o caminho a td hora. Vez ou outra, uma chácara ou sitio surgia no caminho pra quebrar a monotonia natureba dali. O dia estava perfeito pois o sol brilhava forte sem nenhum vestígio de nuvem no firmamento. Por sua vez, a Estrada do Soturno acompanha o ribeirão do mesmo nome, sempre audível a nossa esquerda, ora longe ora afastado.

Após andar um tantão pela via principal, chega uma hora em q a Estrada do Soturno faz uma curva fechada e toma direção sul. Isso fica patente numa bifurcação onde ela se ramifica de forma bem evidente. Mas aqui basta abandoná-la e tomar a via da esquerda, q segue sempre sentido leste. Em caso de dúvida, é so acompanhar o emplacamento q diz “Chácara Palomar”. Mas a pernada por esta via não nos toma muito tempo pq não da nem 1km após a bifurcacao q já temos q prestar atenção a entrada da trilha da cachu. Mas nem isso é preciso pq bem na frente da entrada da trilha há um sitio bem peculiar com as inscrições afro “Ilê Asê Alaketu Baba Epê”. A picada sai da frente desta casa de umbanda (ou candomblé, sei la). Fácil demais.

Uma vez na trilha (alias, uma quase estrada) é so tocar por ela, rumo sul, onde um enorme teiú se assusta com nossa súbita presença. A medida q se avança a vereda se estreita, passa por uns reflorestamentos de pinnus e embica num vale não muito fundo onde já se pode ouvir o som de muita água correndo. E assim as 11:30hrs desembocamos no pocinho ao sopé da bonita Cachu Palomar. Esta cachu oferece quase 10m de queda dagua límpida, divididos em vários patamares de mini paredões de pedra. O único inconveniente é q pela proximidade da estrada principal o lugar está repleto de lixo e de macumbas, infelizmente. Alias, muuuitas macumbas e despachos, cuja procedência não é difícil de adivinhar, claro! Olha, sou a favor da liberdade de expressão e religião, mas fico possesso qdo se valem destes preceitos pra emporcalhar o q é de uso coletivo. Fico passado com essas coisas, um lugar lindo como esse e sujo daquele jeito. Portanto não vou duvidar se depois deste desabafo publico contra esses “sujismundos” não encontre meu nome escrito na boca de um sapo.

Pois bem, mas ainda assim não nos fizemos de rogados e mandamos ver um tchibum no pocinho principal. O calor estava chapando nossas cacholas e uma chuveirada naquela altura do campeonato cairia muito bem. Após uma boa refrescada, fomos bisbilhotar o topo da cachu, acessível pela mesma trilha q viemos, so q por uma ramificação q subia a mesma pela direita. No caminho, pra variar, mais despachos e td sorte de artigo religioso apodrecendo de ambos lados pela mata. Aquela ai deveria se chamar a “Trilha dos Despachos”, isso sim. Num piscar de olhos nos vimos nos lajedos do alto daquela bela queda, com bela vista da serra do entorno e da sequencia de quedas despencando a nossos pés. E analisando a carta topografica de Embu-Guaçu, o rio q abastece esta queda é um afluente do principal daquele vale, ou seja, do Ribeirão Soturno.

Após um tempo de contemplação e de muitos cliques do lugar, iniciamos nosso retorno pelo mesmo caminho. Afinal tínhamos outra cachu pra visitar naquele dia e havia muito chão pela frente. Retomamos a pernda pela estrada, desta vez com calor infernal martelando nossas cacholas. Dureza q era td aberto e a pouca sombra no caminho era disputada a tapa. Mas felizmente conseguimos carona com um jovem engenheiro florestal q nos deixou no Bairro das Palmeiras as 12:30hrs em ponto, onde estacionamos num boteco afim de tomar umas 3 brejas pra molhar a goela, alem de esperar o sol baixar um pouco pra dar continuidade a pernada.

Pois bem, pra acessar a próxima cachu do dia (a do Monjolo) teríamos q retornar algo de 2km pela BR-116, e dali entrar noutra estrada secundaria. Como andar a beira do asfalto naquele calor infernal tava fora de cogitação, resolvemos dar um “migué” básico: tomamos um busao sentido contrario e, na proximidade da entrada, dissemos pro motora q havíamos “errado” o coletivo, na maior cara-de-pau. Saltamos enton no pto sgte, as 13:30hrs, o q nos poupou apenas um km de pernada no asfalto, nos obrigando a andar o restante por pura falta de lábia em permanecer mais um pto no latão.

Adentramos então na Estrada dos Britos, marcada por uma enorme placa “Motel Lago Azul”, e por ela seguimos impreterivelmente, sempre sentido oeste, serpenteando a morraria q se apresentava a nossa frente. Esta via, ao contrario da outra, é bem mais “selvagem”, por assim dizer. Quase sem sinais de civilização e cercada de muita mata, o bom era q sempre estavamos envoltos no frescor da sombra da vegetação do entorno. E la fomos nos, perambulando naqueles cafundós nos fiando apenas dalguns ptos de referencias plotados pelo Nando em seu indefectível aparelhinho, onde pelos seus cálculos a Cachu do Monjolo distava apenas 3km do asfalto. Em linha reta, claro.

Passado o tal Motel Lago Azul, um bucólico laguinho, mais algumas casas isoladas e outras bifurcações meio óbvias, caímos finalmente na Estrada do Monjolo, situada no bairro rural do mesmo nome. Dali começou um árduo sobe e desce pela morraria, pra oeste, q naquele sol foi bem desgastante, uma vez q o calor parecia emanar mais do chão q de cima. O termômetro marcava quase 38 graus centigrados e a perspectiva de ter um refrescante mergulho num belo poço era o q nos movia naquele instante. So visualizávamos água na nossa frente!

Mas eis q finalmente ao adentrar num pequeno vale uma placa a beira de estrada nos da as boas vindas á Cachu Monjolo, as 14:40hrs. Tomando uma curta trilha q se espicha ate o interior de um estreito e fechado vale, finalmente desembocamos as margens de um enorme poço sombreado q nunca nos pareceu mais convidativo. A Cachu do Monjolo era o q menos importava naquela altura do campeonato. Pequena e bem menor q a do Palomar, a cachu era praticametne uma larga “bica” q despejava agua da altura de menos de 2m. No entanto, o gde poço por ela formado naquele lugar privilegiado e sombreado era o q mais nos satisfez, e claro q não nos fizemos de rogados e mandamos ver um merecido tchibum, seguido de lanche.

Apesar de próxima a estrada, a longa distancia ate ali mantinha a cachu intacta e limpa, isenta de td e qq macumba, principalmente. Um oásis em meio a um inferno verde, embalado no canto metalico das arapongas!
Revigorados e satisfeitos, meia hora depois retomamos a pernada, agora tocando sentido sul/sudoeste, fechando o circuito indo de encontro ao centro de Juquitiba. Bem q tentamos agregar mais uma cachu (a São Francisco) ao circuito, mas a incerteza qto sua localização e a enorme distancia q ainda nos separava da cidade diluiu essa pretensão. Alem do mais, o calor desgastante daquela tarde tava mais convidativo pra encostar num boteco em Juquitiba q ficar perambulando a esmo por enfadonhas estradas empoeiradas.

Por sorte, ao deixar a Estrada do Godinho pra entrar na Estrada Estadual, conseguimos carona na caçamba duma saveiro q, após muito sacolejo e poeira, nos largou no centro de Juquitiba as 16:30hrs, nos poupando de quase 4km tão penosos qto escaldantes. Juquitiba por sua vez é uma cidade com ar bem interiorano, e la q nos jogamos num boteco próximo do pto de bus, onde merecidametne mandamos ver sei-la-qtas-loiras-geladas esperando o sol baixar pra embarcar no latão de volta pra Sampa. Por sua vez, via-crucis demorada e interminavel q demandou o mesmo tempo de ida, diga-se de passagem.

Juquitiba está repleta de outras cachoeiras além das duas q visitamos nessa ocasião. Fazendo jus ao nome q, em tupi significa "terra de muitas aguas", a região ainda tem a Cachu do Engano, São Francisco, do França, Sobe Desce e mtas outras, além de furiosas corredeiras como a Pauleira e dos Carmos. Acredito q a exploração destes e outros tanto lugares escondidos por estas matas seja mto melhor otimizado com o auxilio de uma magrela, dadas as longas distancias entre estes atrativos. E claro, é bem verdade q estas cachoeiras são bem modestas e mais domésticas se comparadas aquelas “selvagemente gigantes” de Paranapiacaba e Mogi das Cruzes. Mas ainda assim não deixam de ser cachoeiras. E suas águas límpidas e cristalinas, logicamente, já servem a contento como refresco natureba prum domingão sussa de muito sol e calor pela serra.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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