Rotineiramente o escalador toma todos os devidos cuidados e ainda checa se o parceiro também os tomou. Nós, mosquetões e todos os demais equipamentos são sempre verificados duas ou mais vezes por no mínimo duas pessoas! Qualquer escalador, seja experiente ou que tenha recém saído de um curso de escalada, sabe destas premissas, e isto faz com que a escalada em rocha seja cada vez mais um esporte comumente seguro.
Contudo, não deixa de ser um esporte em que qualquer erro, por menor que seja, possa causar um resultado de proporções grandiosas, como a que ocorreu com a escaladora Chang Wei.
E não cito aqui apenas o erro humano. Equipamentos que apresentam defeitos, muitas vezes ocultos sobre a capa da corda ou sobre uma aparência indestrutível do alumínio ou do aço, podem esconder uma alma desgastada, com cortes ou um mosquetão com bolhas de ar em seu interior.
Infelizmente não tive o prazer de conhecer a escaladora Chang Wei. Mas pude perceber que era uma pessoa muito querida e admirada por todos que estavam a sua volta. E para todos, ela era uma boa escaladora e com muita experiência no esporte.
As notícias sobre sua morte na Ana Chata, em São Paulo, chegaram quebradas e com erros. Órgãos de imprensa oficiais retrataram fatos desconexos. Alguns inclusive informando que a escaladora estaria realizando um curso de rapel, o que é totalmente inverídico e demonstra com clareza que não podemos nos ater apenas em matérias jornalísticas. Estas servem, quando muito, para informar um fato e se for o caso, colocar algo em discussão, mas nunca para julgar ou retratar fielmente uma situação a qual não se estava presente.
E o grande perigo que passa a surgir de tais matérias fantasiosas é que elas acabam atingindo o perfil de “verdades absolutas”. Sobre tais “verdades absolutas”, muitos começam a especular. “Foi porque a corda era velha”. “A corda bateu na chapeleta e arrebentou”. “Ela passou a corda pelo olhal da chapeleta”. Não demorou muito para que, quem realmente estava presente chegar e desmentir tudo. Ele próprio cortou a corda, horas depois do acidente, para auxiliar no resgate do corpo.
E os “sabedores” de tudo somem, deixando para trás um legado que prejudica a imagem de uma pessoa que não mais pode se defender.
Porém o acidente aconteceu, uma vida foi perdida, e é de suma importância que se averiguem os reais motivos. Erro na confecção do nó? Cordelete velho e desgastado, que não teria resistido a um peso de 60 kg? Equipamento com defeito? Suposições é que não faltam. E até que uma perícia qualificada traga as informações corretas, nada disso deixará de ser somente suposição.
E nos resta apenas aguardar tal perícia e continuarmos “re” verificando duas, três vezes nosso equipamento.