As Montanhas Eternas e as Fortalezas do Tempo.

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A subida me trouxe uma sensação estranha: não era o cansaço nas pernas, muito menos o fato da trilha estar mais aberta, mas uma sensação de estar voltando no tempo, algo nostálgico…

 “Após mais de trinta anos sem subir uma montanha, tive o privilégio, neste último final de semana, de voltar e acampar no ponto mais alto do Sul de meu País: o Pico Paraná.

A subida me trouxe uma sensação estranha: não era o cansaço nas pernas, que por sinal estava menor que há trinta anos, já que com os novos equipamento o peso não ultrapassava os 5 kgs, muito menos o fato da trilha estar mais aberta, quase uma avenida, mas uma sensação de estar voltando no tempo, voltando aos meus 20 anos, algo nostálgico, bom e ruim ao mesmo tempo.

Fui invadido por antigos pensamentos, pensamentos estes que a muito não percorriam minha cabeça, e nessa enxurrada de antigas lembranças e sensações comecei a entender o que me levava a, por incansáveis finais de semana, repetir as mais diversas trilhas.

Embora o grande mar verde estivesse menor, os cantos da araponga também fossem mais raros e as pedreiras estivessem muito maiores, o avanço da cidade não me espantava tanto quanto a sensação de ser humano e de estar existindo.

Percebia que ao andar pelas montanhas, me mesclava, me incorporava, ao rio, às árvores, às pedras, esquecia meu corpo, deixava de sentir e até mesmo de existir, me tornava a própria paisagem, ao ponto do tempo não passar. Era como se o Humano deixa-se de ser(-humano).

Essa sensação, da total quebra das barreiras do Ego, das barreiras do próprio ser, me espantava sobremaneira, me deixava com medo. Embora a sensação viesse agora de forma fugaz, a lembrança sinestésica das minhas totais imersões no nada me levou a uma crise de choro. Sentia que a montanha não era mais o meu lugar.

Pela primeira vez, realmente me sentia vivo, existindo.

Desci o Pico Paraná melancolicamente, sabia que nunca voltaria. Enfim, entendi que estava eternamente amaldiçoado a andar pelas fortalezas do tempo, porém sabia que essa tinha sido a minha escolha.

Somente ao andar pelas Montanhas eternas, entendi a finitude do meu próprio ser, descobri por quê elas estão lá.”

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