Após conduzir 4 clientes do Rio Grande do Sul no Cerro Plata 5943 m. Voltamos a Mendoza para esperar a próxima expedição que seria em Salta junto com a Ana Sudo no dia 28/02.
Eu e a Luciana Moro estávamos no Camping Suizo na segunda-feira 21/02/2022 e recebemos o convite do amigo Pedro Hauck da Soul Outdoor para um churrasco no Refúgio Mausy no Parque Provincial do Cordón del Plata. Obviamente aceitamos!
O Pedro estava por conduzir o Cerro Plata com clientes com o auxílio do guia Seba (Sebastián Hernán García). Já conhecíamos ele de outra expedição no Ojos del Salado em 2020, outro churrasco também. Além de guia, o Seba é um excelente parrillero (churrasqueiro). Também estavam lá o nosso amigo Filipe Careli de Almeida e os demais conhecidos até o momento apenas de grupos do WhatsApp como o Douglas Dutra e Bernardo do Espinhaço.
Após o banquete que teve até um delicioso matambre de porco recheado, acampamos próximo do refúgio. Na manhã do dia 22/02 auxiliei o Hauck com a pesagem dos equipamentos para as mulas da expedição dele.
Checamos a previsão do tempo para algumas montanhas e vimos que havia uma janela de tempo bom para a quarta mais alta dos Andes. E ela ainda estava no nosso trajeto até Salta. Já que o Pedro havia guiado a única expedição brasileira com êxito ao cume do Bonete Chico. Tiramos todas as dúvidas antes de ir embora.
Iniciamos nossa viagem de 419 km até San José de Jáchal com a intenção de acampar no camping municipal. Fizemos uma parada em um mercado de Mendoza para a compra da alimentação da próxima montanha e também a carne do próximo churrasco.
Escolhemos uma bela peça de Tomahawk com mais de 1 kg e um bom vinho Malbec Salentein Reserva. Tudo isso por módicos R$ 60,00. Já no Brasil a mesma refeição sairia por mais de R$ 300,00.
No dia 23/02 iniciamos nossa viagem de 307 km até o Refúgio del Peñón na RN 76. Em Villa Unión fizemos a única parada para abastecimento do carro. Chegamos com bastante tempo ao belo refúgio construído entre 1860 a 1870. Acampamos nas proximidades junto com outros grupos que iriam fazer no outro dia o 4×4 de Corona del Inca.
No dia 24/02 desmontamos o acampamento e partimos para 68 km de estrada e trilha 4×4. Tínhamos um certo receio, pois o tracklog que tínhamos era antigo do Max Kausch do Gente de Montanha. Os mais atuais que conseguimos não eram confiáveis.
No caminho paramos em outro refúgio de pedra. Segundo a história um arrieiro morreu de frio no local e seu corpo foi tapado com pedras ao lado do refúgio. Mas, no outro dia amanheceu destapado (dando nome ao refúgio).
Seguimos a Ruta Nacional na direção do Paso Pircas Negras, mas desviamos para o caminho 4×4 que leva a Corona del Inca. A partir daqui os tracklog’s do Max e os mais atuais começavam a divergir. Preferimos arriscar e usar o tracklog mais atual.
Em um momento desviamos para uma trilha 4×4 a direita. Basicamente seguimos os rastros de poucos que usaram este caminho. Conseguimos chegar de carro sem dificuldade até 5420 metros. Montamos o acampamento base no local com uma bonita vista do Veladero 6436 m e Baboso 6070 m.A noite após receber via Inreach Garmin a confirmação de tempo bom para os próximos 2 dias. Traçamos a nossa estratégia de ataque ao cume. Seria de fazer um acampamento avançado a 5730 m e atacar o cume a partir deste. Daqui a 3 dias teria bastante vento para o cume, ou seja, chance única.
Acordamos tarde no dia 25/02. Não fez tanto frio, mas fui verificar como estava o carro. Carro a diesel sofre com baixas temperaturas, pois o combustível pode virar um gel e entupir a bomba de combustível. Na viagem até a montanha não encontrei o “anti congelante” do diesel. Então dei a partida no carro e deixei ligado por cerca de 30 minutos para aquecer o motor e circular combustível entre o tanque e o motor. Ajeitamos tudo e partimos em estilo alpino para o trekking de 2,697 km até o acampamento avançado.
No caminho vimos marcas de pneus de um carro 4×4 que aproximou até mais alto. Na hora bateu um arrependimento de não ter averiguado o terreno na véspera. Contudo, passou quando lembrei que o carro iria pernoitar mais alto em local ainda mais frio e com maior risco de não dar mais a partida.
Chegamos sem grande dificuldade até um bom local para o pernoite, protegido do vento e com manchas de neve para obter água. Após montar a barraca já começamos com o processo de derretimento do gelo. Dormimos sem problemas.
No dia 26/02 acordamos às 04:30 para os preparativos de se vestir, comer algo e se hidratar bem com chá quente. Saímos às 5:45 da barraca e fazia -9 ºC sem nenhum vento. Ainda no escuro seguimos o traçado que o GPS mostrava. O começo da manhã foi espetacular.
Havia algumas manchas de neve onde precisávamos usar crampons e piolet, porém conseguimos contorná-las. Levamos ambos, mas nesse tipo de situação de colocar e tirar a toda hora perde-se bastante tempo para colocar e depois tirar.
Mais próximos do cume compreendemos o porquê do nome Bonete Chico.
Bonete Chico traduzido para o português é chapeuzinho de aniversário de criança. De longe olhando para a montanha você não nota essa pequena elevação. Porém, quando está perto do cume, é uma pequena elevação.
Chegamos cedo no cume por volta das 10:57. Lá ficamos até às 11:40 observando a Corona del Inca, Reclus 6275 m, Pissis 6795 m, Tres Quebradas 6239 m, Famatina 6107 m e outras dezenas de montanhas acima dos 6000 metros da região da Puna do Atacama.
Iniciamos a nossa descida e chegamos ao acampamento avançado 5730 m às 14:50. No total foram 8,555 km de ataque ao cume entre ida e retorno.
A minha curiosidade sobre o caminho 4×4 era grande e assim pedi para a Luciana ficar e desmontar o acampamento. Desci os 2,697 km até o acampamento intermediário a 5420 m e verifiquei por onde poderia subir com o carro.
Demorei algum tempo, mas encontrei os rastros do péssimo caminho 4×4 com muitas pedras grandes. Sorte que estava com pneus BF Goodrich A/T, pois as pedras tinham quinas cortantes. Para surpresa da Luciana estacionei o carro às 17h no acampamento avançado.
Ajeitamos tudo no carro e descemos imediatamente para tentar acampar o mais baixo possível. Pois a previsão para o próximo dia era de muito vento. A nuvem lenticular que vimos próximo o Famatina 6107 m corroborava com o prognóstico.
No retorno uma foto do Cerro Bonete Chico visto da trilha 4×4.
No final da tarde quase começo da noite chegamos ao Refúgio del Peñón e acampamos. Novamente estava cheio de turistas que vieram perguntar de onde viemos. Um carro com placa do Brasil em um paso desabilitado por conta do COVID não era comum. Contamos o que havíamos feito e ficaram admirados com a nossa velocidade na ascensão da montanha. Jantamos e dormimos muito bem após o desgastante dia.
No dia 27/02 acordamos com bastante vento no acampamento a 3610 metros. Imagina lá em cima! Desmontamos o acampamento e partimos rumo a província de Salta. No caminho ainda paramos para fotos na belíssima Quebrada de la Troya.
Paramos em Villa Unión para comprar carne e pimentões para o churrasco de comemoração. No percurso tentamos acampar na cidade de Rosário de la Frontera, mas havia uma festa municipal da colheita da soja e o camping municipal estava fechado. Fomos até o camping municipal da cidade seguinte em San José de Metán na província de Salta. Onde finalmente acampamos tarde e fizemos o nosso assado comemorativo.
Finalmente no dia 28/02 viajamos por mais 147 km até Salta e encontramos com a Ana Licia Sudo no aeroporto. No dia seguinte começaríamos outra expedição pela Puna de Salta.
Nosso tracklog: https://www.wikiloc.com/hiking-trails/bonete-chico-6672-m-115536875
Nossas próximas altas montanhas: www.clubetrekking.com.br/travessias/