Quando cheguei a Belo Horizonte para ficar de vez e esbarrei com escaladores que tinham a mesma vibe, entendi que a galera lá do Grajaú não estava fora da realidade como pregavam os “pseudo-tradicionalistas”, que gostavam de escalar de armadura e chamavam Boulder de miniatura de montanha. Onde estava o tão pregado “Pluralismo da escalada”?
Em poucas linhas gostaria de passar um recado a uma casta medíocre e pobre de espírito que só olha para o próprio umbigo e se torna especialista do que nunca viu ou viveu.
Orgulham-se de levar uma vida santificada (que beira o budismo tibetano) e dedicada ao esporte outdoor, mas na verdade estão egocentrados que quase nunca saem detrás de seus monitores de 17 polegadas. Quando saem, se “arriscam” em uma corda por cima ou em uma pequena caminhada no bosque perto de sua casa. Quanta hipocrisia.
Estes especialistas sabem tudo de marcas, se maravilham em lojas de material esportivo e se esbaldam em posts vindos de sites gringos em suas fan-pages nas redes sociais implorando por um “like”. Comentários ácidos e críticas de mão dupla são compartilhados por engenheiros de obras prontas que, sequer por um dia, se comprometeram com uma montanha de verdade.
Já que falamos de hipocrisia, sejamos honestos: Chacaltaya (5.421 MT/Bolivia) não é alta montanha e Top-Roupe não é escalada de verdade. O que há de errado em assumir que esteve nos Andes a passeio e que só foi à Europa para conhecer a Torre Eiffel, comer una bonna pasta em Milão e fumar unzinho em Amsterdam? Deixemos de desonestidade e de arrotar grau, turismo convencional também é notável e rende fotos maravilhosas.
Velhas desculpas não colam mais, falta de tempo ou de dinheiro já é mentira batida. Mais da metade dos viajantes, escaladores e montanhistas que se jogam pelo mundo são professores, médicos, engenheiros, estudantes, guias de montanha ou comerciantes, todas dependem de suas atividades como fonte de renda. Não dá para viajar sem dinheiro. Suor, meus amigos, suor no rosto paga as contas e leva longe quem tem espírito livre e não tem medo de colocar a mão na massa.
Verdade seja dita: criticar é fácil, se esconder em um post mais fácil ainda, botar a cara é difícil e estar na montanha mais ainda.
Puxando a sardinha para prata da casa, Máximo Kausch, o monstrinho das altas montanhas está aí dando a cara tapa para um bocado de gente que o criticou, este mês está na National Geographic com foto de página inteira e acaba de receber o prêmio Go Outside, onde diz que não tem patrocínio, faz o que precisa no suor.
Parofes também bota cara para descer a marreta no Circo que virou o Everest, daí sempre tem um especialista para falar abobrinha sobre o texto. Pedro, Paulo, Marim Jr, Davi, Felber, Luiz, Maluquinho, Formiguere, Tigrão, Campanela, Gustavo (Puta), Acruche, Maicon e etc, etc… A lista não para, citei estes porque me vieram à cabeça agora, sei que vários amigos estão na “vibe” de viver bem e longe do circo. Todos estes ralam demais para viver onde querem e duvido que algum deles tenha medo de trabalho ou se sente coitadinho por não ter pai rico ou patrocínio. Suor no rosto, amigo, suor. Usando alguns comentários do amigo Pedro Hauck (Geologia Ambiental), carregar pedra nas costas também é um trabalho digno.
Minha esposa diz que não existe almoço grátis, tudo tem um preço e não adianta ficar de mi- mi-mi. Quer viajar, escalar e conhecer o mundo? Trabalhe mais e fale menos.
Até onde a escalada me levou? Em mais de dezessete países diferentes, alguns desses visitei mais de seis vezes. Mas a questão não é para onde me levou o esporte outdoor e sim o que ele fez por mim. E continua fazendo bem não só pra mim, mas também pra minha família, que gosta de viver em paz.
Força sempre e boas escaladas
Atila Barros