Feche os olhos e imagine passar a noite em uma barraca na montanha. Uma montanha de 6.400 metros. Nos Himalaias. Em temperaturas abaixo de zero. No meio de uma nevasca. Por quatro dias. O fotógrafo e atleta Jimmy Chin conhece esta situação muito bem, e ainda captura lindas imagens dos desafios que enfrenta.
Chin deu uma entrevista à revista Bon Appétit sobre os alimentos e seu preparo em expedições, em especial durante a escalada do monte Meru, que ele realizou com Conrad Anker e Renan Ozturk e virou documentário de mesmo nome. Jimmy e sua equipe comeram basicamente mingau de aveia e cuscus por 12 dias seguidos, levaram comida para 7 dias mas acabaram ficando por 18, e comiam todas as refeições em um só pote e com uma só colher, que os três montanhistas dividiam.
Bon Appétit: Como é a comida na expedição?
Jimmy Chin: Bem básica. Quando tentamos escalar o Meru, nossa dieta era bem simples. De manhã, comíamos mingau de aveia com proteina em pó e mirtilos secos. Também tínhamos um drink energético com proteínas que bebíamos três vezes por dia. Não tinha muito gosto de nada mas era quente e leitoso, então era gostoso. Enquanto escalávamos, eram alguns géis e uma barrinha.
Você tem algum sabor preferido de barrinhas e géis?
Não, na verdade é só um combustível. Mas também tínhamos uma barrinha de chocolate por dia, que dividíamos em três toda noite. De jantar, comíamos cuscus, mas na verdade o cuscus era só um veículo para o azeite.
Por que azeite?
Azeite é bem denso em calorias em relação ao peso, e também tem um gosto ótimo. Punhamos azeite no cuscus, com pedaços de queijo parmesão e salame. Precisa ser um queijo duro, que é mais durável, você pode jogar no fundo da mochila e saber que ele não vai ser esmagado. Só tínhamos um prato no cardápio, e era este. Conrad acha que quanto menos decisões você tiver que fazer nesta situação, melhor. Quando você está escalando algo tão desafiador quanto o Meru, precisa pensar muito na eficiência. Mesmo uma decisão pequena, sobre o que comer no jantar, pode gastar energia preciosa que você poderia usar tomando decisões mais importantes.
É verdade que vocês quase ficaram sem comida durante a expedição?
Sim! Normalmente fazemos uma previsão de quantos dias achamos que levaremos para chegar ao cume, baseados na dificuldade da escalada, e adicionamos um pouco de otimismo. Tínhamos planejado sete dias de escalada, e trouxemos a quantidade apropriada para isto. Mas depois de dois dias de escalada, ficamos presos em uma nevasca de quatro dias. Só nisso já se foram seis dias, e depois ainda escalamos mais 12. E em condições muito frias, você queima milhares de calorias.
Isso parece horrível!
Bem, você vai para lá sabendo como vai ser. Sabemos que se vamos forçar nossos corpos até o limite desse jeito, vamos ter que passar por algumas privações. Eu já tinha feito várias expedições, pelo menos 15, com o Conrad. E cada vez, eu costumava perder 4-9 kgs. Durante a nevasca nós racionamos a comida, e comemos bem pouco. Você não se mexe, então está basicamente hibernando.
Você sonhou com comida?
Tínhamos fantasias com comida o dia todo, sobe hambúrgueres, pizza, um belo bife. É engraçado que você acaba não falando tanto de sexo quanto falaria normalmente com amigos. Acho que tem a ver com a hierarquia das necessidades. Sua necessidade mais básica não está sendo atingida, então você fica naquela: "Vamos falar mais de comida!".
Qual a coisa mais esquisita que você já comeu em uma expedição?
Já tentei comer alguns arbustos. Nós estávamos em uma travessia de mais de 20 dias sem apoio, seguindo o caminho de migração de um antílope ameaçado de extinção no platô de Chang Tang, no Tibet. Vimos que os antílopes comeram um certo arbusto, então pensamos "se eles comeram, nós também poderíamos".
Vocês cortaram arbustos e comeram?
Sim! E não estavam tão ruins.