Botas de montanha são sempre motivo de discussões apaixonadas no meio montanhístico. Alguns defendem até o túmulo suas opinões sobre as qualidades da marca ou modelo favorito. Em geral não há meio-termo. Ou ama-se ou odeia-se um modelo. Raros os que têm o bom senso de analisar friamente um equipamento como esse que desperta tantas paixões. Tentarei manter meu óbvio entusiasmo com este modelo específico de botas e fazer uma análise crítica do produto, tentando ajudar o interessado em adquirir este item. Eu mesmo já odiei a Snake Trilogia e depois de usá-la, quando comprei meio contra vontade só para aproveitar o preço promocional, passei a amá-la.
Da mesma forma que as pessoas tem rostos, braços, pernas e outros componentes do corpo diferentes uns dos outros o mesmo acontece com nossos pés. Talvez seja essa a explicação por eu e a Bota Nômade Titã termos nos entendido tão bem! Mas dizer que somos par perfeito não é explicação convincente. Portanto enumerarei meus motivos para o já citado entusiasmo que me levou a adquirir não apenas um, mas dois pares do calçado.
1º A bota funciona! Mas o que é uma bota que “funciona”? É a bota que faz com que quando você chega ao seu destino não sinta a desesperada necessidade de retirá-la dos pés. Ou seja, você sente que mesmo caminhando horas e horas por terreno acidentado a bota protegeu muito bem seus pés. Seja da dureza do piso, seja da lama daquela trilha mal conservada ou mesmo do calor sufocante dos trópicos. Todas as botas deveriam ser pensadas nesse sentido: CONFORTO!!!! É o que faz a Botas Nômade, sediada em Curitiba. Conversando com o Fábio, “pai” da criança e proprietário da empresa, fui apresentado a este conceito de que a bota deve antes de ser impermeável ou bonita, ser confortável. Com conforto você vai mais longe ou, pelo menos, não chega tão cansado ao destino. Por isso o investimento em materiais mais leves, evitando o uso de couro hidrofugado e outros materiais mais apropriados às latitudes mais elevadas, com clima menos quente e mais seco. Conclusão: cliente contente!
2º Preço honesto! Isso é muito importante! Porque pagar quinhentos ou mais reais em uma bota importada, adaptada a realidades diferentes da nossa, que, claro, também funcionam por aqui, mas que custam os olhos, os ouvidos e o nariz da cara? Dispenda apenas uns trezentos mangos e você terá uma bota honesta! Claro, talvez ela não tenha a mesma durabilidade de uma bota construída em couro, nobuck ou qualquer um desses materias mais “rígidos”. Principalmente se você for daqueles que encaram caminhadas com qualquer condição climática. Aliás, é bom saber que você deve sempre lavar sua bota (qualquer que seja o modelo) ao chegar em casa com ela enlameada. Quando as partículas de barro secam em sua bota o trabalho que a escova da sua mãe (ou esposa, ou você mesmo, porque não?) faz ao esfregar as fibras literalmente detona o material. Claro que é legal largar tudo num canto e se preocupar com a manutenção do equipo em momentos mais propícios. Mas deixe de porquice e cuide do que é seu. Afinal o material terá sua durabilidade aumentada e dinheiro não se acha no lixo. Tudo bem que esta bota não custa tanto, mas tente dar uma caprichada assim que chegar em casa de volta daquela trilha nojenta…
3º Visual agradável! Como diria o cantor Falcão: “As feias que me perdoem mas a feiúra é de lascar!” A Nômade Titá é uma bota bonita. Ok, ok…é uma posição pessoal. Tudo bem que aquela que está na foto no início da matéria é mais bonita ainda, pois foi feita sob encomenda para nós do NasNuvensMontanhismo, com logo gravada e tudo… Aliás servi de cobaia, pois fui o primeiro a comprar um deste exemplar em uma loja. Testei o material na Travessia Marins-Itaguaré, dei um veredito e o pessoal se empolgou… Encomendamos vinte peças. Praticamente todos estão satisfeitos, tanto com visual quanto com o conforto.
Bem, teria muito para falar da bota, mas antes que chegue-se a inevitável conclusão que estou sendo parcial citarei alguns defeitos, que no meu entender fazem parte do processo, pois é impossível atender à todas as exigências. Seria como querer que uma Ferrari tivesse bom desempenho em rallies fora de estrada. Como a bota privilegia o conforto é possível sentir falta de uma certa “estrutura”. Com cargueira pesadas você sente-se como se estivesse calçando tênis, ou seja, a bota é pouco robusta. Outro ponto fica por conta do sistema de impermeabilização, que não senti funcionar como promete a propaganda… Por mim não tem importância, afinal se você quer ter os pés secos vá caminhar no deserto e não na mata atlântica… E nisso o fato de a bota ser construída em tecido é um ponto a favor, pois seca muito mais rápido, nos pés mesmo, sem causar problemas de bolhas, assaduras e coisas parecidas. Quanto ao cheirinho de queijo parmesão fica por conta da individualidade biológica de cada um…
Poderia escrever mais umas dúzias de linhas sobre o produto e blá-blá-blá-blá. Não vou cansar o leitor. No entanto reforço: a bota funciona, tem preço honesto e é bonita. Minha próxima ocasião, quando do falecimento por exaustão dos meus dois pares que disponho será uma Titã Nômade. Se minha opinião ajuda aí está!
>>Dois pés felizes na montanha!!!
Um forte abraço!