O jovem escalador Ben Sotero tornou-se o quinto brasileiro a alcançar o cume do Cerro Torre, em El Chaltén, na Patagônia argentina, uma das montanhas mais icônicas e técnicas do montanhismo mundial. Ele também entra para a história como o primeiro brasileiro a completar a ascensão após a retirada das chapeletas, marco que elevou ainda mais o grau de dificuldade da via.
Sotero realizou a escalada ao lado do amigo e parceiro de cordada, o norte americano Chris Deuto, a quem atribui parte fundamental da conquista. Segundo ele, sem Deuto, o feito não teria sido possível. Antes de viajarem para a Patagônia, os dois haviam passado pelo Brasil, onde realizaram a primeira ascensão em livre da via A Resistência, na Pedra da Fortaleza, no Espírito Santo. Chegaram a El Chaltén sem grandes expectativas, mas com paciência para esperar a janela de bom tempo. Mesmo assim, mantiveram o ritmo com caminhadas e escaladas locais para manter o preparo físico e a força.
Ambos já tinham experiência na Patagônia e sabiam que o maior desafio da região costuma ser o clima. Quando uma previsão favorável apareceu, decidiram partir para a primeira tentativa. “Eu tinha escalado a Agulha Media Luna daquele lado vale, mas nunca escalado no Torre em si, que é muito diferente que escalar no Fitz Roy também, é outra pegada”. Sobre a preparação, Sotero acrescentou: “Encaramos como uma missão que pode ou não pode acontecer, mas não fizemos nenhum treino específico antes”.

Acampamento na montanha, além de Sotero e Deuto havia mais dois grupos de escaladores na via. Foto: Ben Sotero @ben.sotero
A dupla levou quatro dias para completar a ascensão e realizar os rapéis. A estratégia foi avançar por metas curtas. “Primeiro a gente colocou como meta chegar no Colo da Paciência. Aí depois que chegamos no Colo da Paciência falamos: vamos tentar as primeiras cordadas até a Haston Crack ou até a Banana Crack? E aí fomos indo mais uma, mais uma, mais uma e quando vi já estávamos na headwall, nas torres de gelo”, detalhou o escalador.
Segundo Sotero, quando saíram de Niponino a montanha ainda estava bastante carregada de gelo, mas as condições melhoraram conforme se aproximavam da base da via. “Pelo que eu entendi, eram as melhores condições que você pode encontrar no Torre. Não estava seco. Muitas cordadas molhadas, mas isso faz parte. O gelo estava muito bom pra escalar. E as cordadas que tinham que estar secas, estavam secas ou mais ou menos secas. Então deu pra passar. Demos sorte com as condições.”
Mesmo com a progressão fluindo melhor do que esperavam, a dupla também enfrentou momentos tensos. Em um deles, a corda foi cortada durante uma queda de Deuto em uma tentativa de escalar a variante em livre. Em outro, já nas Torres de Gelo, não encontraram espaço para bivacar e tiveram de dormir sentados nas cadeirinhas, sob frio intenso.
A conquista tem peso especial para Sotero, que revelou ter sonhado com o Cerro Torre desde os 11 anos, quando assistiu ao filme de David Lama sobre a montanha. “Ter escalado ela realmente foi algo surreal que não cabe em palavras e tecnicamente eu acho que é o ápice da minha escalada. Concordo que essa é uma das montanhas mais difíceis do mundo, pelo seu fator técnico, pela dificuldade do clima, das condições e até mesmo por terem cortado as chapeletas né?”, relatou. “É um sonho que se tornou realidade que nem eu esperava”, concluiu.
Ainda tomado pela euforia da conquista, Sotero afirma que não está fazendo planos para novos projetos por enquanto. “Não estou com nenhuma expectativa de querer escalar algo. Estou tentando curtir um pouco a baixada e a comemoração”, declarou.





















