A montanhista espanhola Ana Guerra, de 50 ano, foi a primeira vítima desta temporada 2010/2011 do Aconcagua.
Ana estava acompanhada do marido e veio a falecer ainda no primeiro acampamento da montanha, que fica numa altitude de 3.300 metros. O jornal El Mundo da Espanha, diz que Ana sofreu um acidente, mas não dá explicações.
Já o jornal El Correo diz que as autoridades argentinas afirmam que Ana faleceu de mal aguda da montanha que resultou em um edema cerebral, o que é de se causar estanhamento, já que esta altitude ainda é baixa demais para se considerar complicações que possam levar à óbito.
O montanhista brasileiro José Virgilio Braghetto estava na montanha e contou para o AltaMontanha.com o que ele presenciou no Aconcagua:
Acabei de descer do Aconcagua e estou na cidade Mendoza, ainda perplexo com o que presenciei poucos dias atrás no acampamento Confluencia a 3400 metros de altitude, um acampamento geralmente usado como primeiro ponto de pernoite para quem está subindo o Aconcagua. Vou tentar descrever o mais fielmente possível aquilo que vi e ouvi na manhã de Sábado, dia 28 último, durante pouco mais de uma hora enquanto a médica do acampamento e uma dupla de experientes guias de montanha tentavam salvar a vida de uma espanhola chamada Ana (50 anos).
Eu e meus amigos que formamos um grupo chamado Union Trekking fomos acordados por volta das 07:00 horas da manhã com pedidos de socorro que vinham de algumas tendas ao lado onde um grupo de espanhois chamava pela médica do acampamento para dar assistência a Ana que estava inconsciente. Minutos depois, a médica e alguns guias levaram Ana para a tenda médica onde submeteram a espanhola a um CPR (Ressucitação Cardio-Pulmonar) enquanto esperavam pelo helicóptero de resgate. A partir deste momento começam alguns eventos que me chamaram a atenção, não posso dizer que se algo fosse feito diferente isto poderia ter mudado o que viria acontecer com Ana.
Durante quarenta e cinco minutos, a médica Yemina e os guias Ceferino e Javier fizeram de tudo para manter a espanhola respirando e com o coração batendo, até que o helicóptero a levou, o que para a surpresa de todos, não aconteceu da primeira vez e sim na terceira vez que a aeronave voltou ao acampamento. O que aconteceu foi o seguinte: a primeira vez que o helicóptero veio apenas deixou um tanque de oxigênio, , já que o tanque que geralmente fica no acampamento foi utilizado no dia anterior durante um atendimento a um montanhista com sinais de edema pulmonar que estava entre os acampamentos Confluencia a Plaza de Mulas (4.300 metros), a segunda vez que o helicóptero voltou trouxe mais uma médica que estava em Plaza de Mulas, a Dra. Veronica, que ficou ajudando a Dra Yemina e os guias a manterem os procedimentos de CPR. E como o helicóptero estava sem combustível para levar a paciente até Mendoza, ele teve novamente que voltar a Horcones para abastecer e retornar para pegar Ana, que por final não foi a Mendoza e sim a a Uspallata, uma cidade mais próxima, onde tragicamente foi constatado o seu óbito, aparentemente por um acidente vascular cerebral, mas a família ainda aguarda pela autópsia. Tudo bem confuso para mim, devo confessar.
Eu não sei dizer se caso o helicóptero estivesse pronto e abastecido e se o acampamento Confluencia tivesse um tanque de oxigênio reserva, ou ainda quem sabe, um disfibrilador e outros equipamentos para emergência, o final desta história pudesse ter sido diferente. Mas posso afirmar que os médicos e os guias do Aconcagua fazem um trabalho heróico e anônimo a cada temporada e que merecem o meu respeito.
Desejo a todos os montanhistas que estão a caminho da Aconcagua, sorte, cuidado e atenção aos sinais de seus limites e aos limites da montanha. E à família de Ana Guerra, em especial a seu marido, Angel Guerra que lhe acompanhava nesta aventura, muita força para superar esta grande perda.
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