Brasileiro realiza voo inédito de parapente do vulcão mais alto do mundo, o Ojos del Salado

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O montanhista brasileiro Ricardo da Costa Rui alcançou um feito histórico: ele decolou de parapente diretamente da cratera do Ojos del Salado, o vulcão mais alto do mundo, localizado na fronteira entre o Chile e a Argentina. Com impressionantes 6.893 metros de altitude, a montanha é considerada uma das desafiadora, tanto pelo terreno quanto pelas duras condições climáticas. E ao que tudo indica, Rui é a primeira pessoa no mundo a realizar um voo de parapente a partir desse local.

Rui decolando do Vicuñas. Foto: Kayna Moreira

Apaixonado por aventuras desde a adolescência, quando acampava no interior de Minas Gerais, Rui teve sua primeira experiência em montanhismo aos 17 anos ao escalar o Agulhas Negras, e desde então não parou mais. Em 2002, tentou o Aconcágua com um amigo de forma independente, mas uma mudança no clima os obrigou a recuar por segurança. A experiência, no entanto, serviu de motivação para continuar explorando as montanhas do Brasil e do mundo.

Há oito anos, ele teve o primeiro contato com o voo livre, incentivado por amigos. “Fui para o parapente pra descer de montanha”, brinca. Após o primeiro voo, decidiu se aprofundar no esporte e fez um curso de voo livre. A combinação de montanhismo com o parapente se tornou uma paixão.

O primeiro voo em montanhas de grande altitude aconteceu em 2019, durante uma expedição ao próprio Ojos del Salado. Durante o período de aclimatação, Rui percebeu o potencial de voo na montanha 7 Hermanas,  e decolou pela primeira vez em altitude lá. Além disso ele também conseguiu voos do Mulas Muertas, a partir de 5.300 metros e 5.750 metros de altitude.

Voo em meio as montanhas de seis mil metros do Puna do Atacama. Foto: Kaynã Moreira

Essas experiências marcaram o início de uma nova fase: Rui passou a observar as montanhas de altitude também com os olhos de um piloto, sempre atento a rampas naturais e janelas de vento favoráveis.

O primeiro voo acima dos 6 mil metros foi no Medusa, montanha com 6.135 metros de altitude. Em um dia de descanso da expedição, ele saiu ainda de madrugada e subiu sozinho até o topo para aproveitar uma breve previsão de vento favorável. “Tem que ter muita disposição para sair do acampamento, subir a montanha sem saber ao certo se será possível”, comentou.

Já no início desse ano, ele voltou à região do Puna do Atacama com equipamento de voo. Após subir algumas montanhas ele encontrou os integrantes do time da Soul Outdoor que estavam indo para o Vicuñas (6.067 m). Como ele já conhecia a montanha e sabia que era possível decolar de lá, ele decidiu pegar uma carona com o grupo. “Decolei de bem perto do cume, dei a volta na montanha e pousei do lado do carro”, contou.

“É um prazer tão grande conseguir voar, quando dar tudo certo é difícil até de explicar porque são montanhas muito brutas, difíceis de decolar, algumas você tem que dar a volta na montanha. Então o fato de dar tudo certo é muito bom. Ainda mais quando as condições estão perfeitas e você consegue um voo e um pouso perfeito ao lado do carro”, declarou.

Mas a grande conquista ainda estava por vir. Após o voo no Vicuñas, exausto porém empolgado, foi incentivado pelo amigo e guia de montanha Kayna Moreira a verificar a previsão do tempo para o Ojos del Salado. A previsão era perfeita — e Rui já conhecia uma possível rampa de decolagem na montanha. Apesar do cansaço, poucas horas depois ele iniciou uma nova subida.

Chegando ao local previsto, os ventos estavam contrários. Ele esperou por quase três horas, e estava considerando desistir, quase descendo a pé, quando o vento virou. “Foi incrível. Deco­lei tarde, por volta das 11h30, com bastante atividade térmica. Mas o voo foi maravilhoso. Fiquei em êxtase. Era a hora certa e o dia certo”, contou. “Foi uma alegria imensa voar do vulcão mais alto do mundo. Eu sonhava com isso há anos.”

Parapente estendido na base do Ojos del Salado após o voo. Foto: Ricardo Rui

Rui contou que o seu principal objetivo dentro do voo era pousar com segurança em um local de fácil resgate. “Se pousar no lugar errado, são dias andando até encontrar alguém. Com as condições das montanhas de lá, seria impossível sobreviver.” Por esse motivo, os voos duraram apenas cerca de 15 minutos. 

Sobre a preparação para esse tipo de expedição, Rui destaca a importância do planejamento: verificar a previsão do tempo, direção dos ventos, ponto de decolagem e, principalmente, onde pousar. Além da logística, o montanhista alerta para os perigos da região, como a forte atividade térmica com dust devils (redemoinhos de poeira), que podem tornar o voo impossível em certos horários, além dos ventos extremos que surgem rapidamente.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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