“Tempo frio e chuvoso durante o dia e a noite” alardeava a maledeta previsão meteorológica pra ultima sexta-feira, q já se anunciava desfavorável pra qq programa natureba desde o inicio daquela mesma semana, extremamente fria e chuvosa. Contudo, contrariando td e qq pingo de bom senso, ainda assim insistimos no nosso planejado bate-volta pela Serra do Mar litorânea, juntando de ultima hora um grupinho para o qual não existe tempo ruim e topa qq parada, independentemente de qq previsão q seja.
Dessa forma, eu, Fabio, Vivi e Nando apanhamos o ultimo integrante da trupe em Riacho Grande (SBC), o Ronaldo, após longa espera pela manhã, com direito ate a risco de sequer começar a pernada, ao quase ficar sem gasolina no meio do asfalto do Rodoanel. Sanado esse problema e enrolando mais um pouco num boteco, q nos proveu de um desjejum regado a café e cerveja deixamos Sampa com ligeiro atraso e tomamos rumo à Via Anchieta depois das 10:30. Ao chegar ao litoral o tempo realmente não se mostrava nada animador: respingos de garoa fustigavam o pára-brisa do veiculo permitindo apenas vislumbrar uma Serra do Mar de tons foscos e imersa totalmente em brumas. Dane-se, afinal, “quem ta na chuva é pra se molhar”.
Após passar por Guarujá e andar um tempão, um pouco antes de cruzar a enorme ponte sobre o Rio Itapanhaú é preciso atentar a um estabelecimento na margem esquerda da estrada, o “Pastel do Trevo”. Deixamos então o asfalto em favor de uma estrada de chão q adentra o simplório portal de um condomínio residencial, no qual eventualmente é solicitada a devida identificação pra entrada. Não foi o caso, pois bastou um cordial “bom dia” pro tiozinho da guarita q adentramos no local sem maiores problemas, ao meio-dia. Daqui em diante é só tomar a estrada principal ate o final, virar à esquerda e seguir ate a ultima casa da Rua Mario Bottoni, pra dali buscar um local apropriado já pra deixar o carro. O tempo havia ate dado uma trégua, mas bastou sair do veiculo q a chuva tornasse a cair, nos forçando a buscar proteção no precário telhado da entrada de uma garagem.
Ate a chuva diminuir de intensidade já havíamos tomado uma garrafa de vinho tinto q o Ronaldo trouxera a tiracolo, razão q devíamos já começar a andar, independente de condição meteorológica, do contrario ficaríamos ali o resto do dia, largados à mercê das tentações etílicas e guloseimas q trazíamos em nossas mochilas. Daqui basta procurar qq acesso q te leve no sentido serra, tanto é q nos enfiamos num matagal de belas alfasemas após cruzar um muro tombado, e imediatamente caímos às margens do enorme e manso Rio Jaguareguava. Aqui é encontrada uma picada obvia q sobe o rio pela margem esquerda, em meio à mata, eventualmente bordejando limites de propriedades particulares, onde um par de enormes cachorrões nos dão boas-vindas de forma bem ruidosa e estridente.
Chegamos então numa enorme ponte de metal carcomido sobre o Rio Jaguareguava (q em tupi-guarani significa “onde a onça bebe água”) q cruzamos sem problema algum, apenas atentando aos trechos esburacados q permitiam enxergar as águas límpidas do riacho, logo abaixo. Esta é a famosa “Ponte da Banana”, datada de 1929 e tem alguma importância histórica por ter sido antigo local escoagem das plantações de bananas para o Porto de Santos. A pernada prossegue a partir dali por uma picada larga, ornada por extensos canteiros de alfasemas e tremendamente encharcada q acompanha no aberto as torres de alta tensão q abastecem a antiga usina de Itatinga.
O tempo aqui resolveu dar uma folga arriscando ate algumas pequenas e raras frestas de céu azul, e logo o calor da longa e desimpedida caminhada nos forçou a retirar os anorakes pra prosseguir a empreitada mais a vontade. Porem, ao alcançar a torre de numero 47, deixamos a picada principal pra tomar uma variante q passa por baixo da torre e adentra na mata fechada por trilha obvia e igualmente encharcada.
Em nível e sem muita variação de altitude, a caminhada aqui é prazerosa em meio a densa e úmida floresta, onde cruzamos com vários córregos cristalinos e belos remansos de prainhas fluviais. Mas não dá nem uma da tarde q a picada desemboca num enorme e belo poção, ao lado de uma apropriada área de acampamento capaz de comportar inúmeras barracas. E é aqui q temos nosso primeiro pit-stop pra descanso e beliscar alguma coisa a fim de aliviar peso da mochila. Embora o tempo aqui estivesse mais cálido e ameno q na capital, ninguém arriscou um tchibum no poço, limitando-se apenas a animada prosa regada a lanche.
A pernada continuou logo depois no mesmo compasso – em parte enxotados por inconvenientes pernilongos – sempre acompanhando com suave aclive o ruidoso riacho do poção, mas não demorou a começar a subir e descer por íngremes encostas da margem esquerda do curso d´água, q pela carta revelou ser o Rio Canhambura (ou Caiabura). Mas ao cruzar pra outra margem por sobre as pedras, a picada passou a tornar-se cada vez menos obvia, demandando algum farejo pra encontrar sua continuidade, mas depois de um tempo ela sumiu por completo. Assim, não nos restou opção senão acompanhar o riacho através da mata embrófila de encosta,desviando das pirambas maiores e vegetação mais densa. Mas este trecho de vara-mato simples não demorou muito pq logo encontramos, na mesma margem direita, uma picada larga q felizmente ia no sentido desejado, isto é, rio acima.
Pouco tempo depois, a vereda cruza novamente pra margem esquerda do rio por sobre as pedras e sobe fortemente uma encosta, pra depois descer no mesmo ritmo. Mas ate ali já podíamos ouvir o estrondo de uma gde queda d´água próxima, o q nos fez apressar o passo. Eram 14hrs e num piscar de olhos tropeçamos com uma enorme e bela cachu, q provavelmente devia ser a tradicional “Cachu do Canhambora”, famosa na região! A água do riacho despenca em dois níveis do alto de quase 35m na cota dos 100m de altitude, formando um pequeno poço em sua base q o Nando não deixou por menos e mandou ver um tchibum básico, enqto os demais se acomodavam nas escorregadias pedras do entorno pra mais um merecido descanso e nova leva de comilança. O lanche teve um capitulo a parte, com o Ronaldo literalmente levando comida na sua cargueira pra um pelotão completo! E tome um self-service de Club-Social, bisnaguinhas, Bis branco e preto, patê, queijo, waffer, salame, etc..
Donos absolutos do pedaço, enqto o povo se banqueteava resolvi subir ao topo da cachu pra dar uma explorada superficial. A picada q leva ao alto sai dos íngremes lajedos do paredão esquerdo da queda d´água. A partir dali é escalaminhada forte q demanda tanto braços qto pernas pra ganhar altitude, nos segurando em pedras, raízes e cipós. No alto da cachu somos presenteados com uma privilegiada vista do litoral de Bertioga, felizmente num raro vislumbre de tempo aberto! Rio acima a picada sugere continuidade pela margem esquerda, ganhando altitude em meio a enormes pedras, tocas e encostas cada vez mais íngremes. Mas por ora chegar aqui já ta bom demais, ainda mais com o tempo novamente se encobrindo de denso nevoeiro e tornando a garoar cada vez mais forte, nos obrigando a vestir outra vez os anorakes.
Depois q o pessoal se fartou do buffet proporcionado pelo Ronaldo e clicar o visu fechando do alto da cachu, iniciamos o retorno pelo mesmo caminho, sob finos respingos de chuva. Voltando pela obvia e larga trilha encontrada na margem direita do rio não tivemos o problema dos perdidos da ida. A picada é bem larga e obvia o bastante q só se perde quem fizer uso de bengala e cão guia. Em menos de uma hora desembocávamos no aberto outra vez, mais precisamente na torre de numero 44!! Daqui é só tomar a picada q acompanha as torres, agora em ordem crescente, rumo a “Ponte das Bananas” novamente.
E lá vamos nos chapinhando pelo caminho envoltos tanto pela fina garoa como pela animada conversa pós-trilha, com promessas nova leva de rango e bebidas nalgum boteco de Bertioga. Por sobre o ombro olhava uma ultima vez pra serra q havíamos percorrido apenas pra vê-la envolta num denso e úmido nevoeiro.
Chegamos no veiculo por volta das 16hrs, onde trocamos as vestes úmidas por roupa seca e aconchegante. O tempo melhorara consideravelmente e a chuva parara quase em definitivo. Ao cruzar a ponte do Rio Itapanhaú pudemos observar o pequeno risco alvo da cachu q havíamos visitado, destoando dos tons verde escuros da muralha serrana. Em Bertioga estacionamos numa lanchonete próxima da balsa onde bebemoramos a breve porem prazerosa trip daquele dia, entre goles de cerveja, nacos de pasteis e “coxinhas no palito”.
A chuva então retornava castigando Bertioga com forca total, nos obrigando a entornar saideira trás saideira, presos ao boteco. Óh, q sacrifício, não? Noutras palavras: saímos do local bem “tortinhos” por volta das 20:30hrs, pra somente chegar em Sampa em torno da meia-noite. Embalados alem do mundo dos sonhos, as promessas de retorno à região são gdes. As possibilidades vislumbradas são inúmeras e vão desde uma travessia completa rio acima do Canhambora, como exploração dos trocentos afluentes no enorme Vale do Rio Jaguaraguava. Estas são as maravilhas q o município de Bertioga oferece aos andarilhos, beneficiadas em gde parte pela sempre generosa e verdejante Serra do Mar deste rincão privilegiado do litoral norte.
Texto e fotos: Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos