Se Alcinópolis, motivo da última coluna, fica logo ao sul da Serra do Caiapó, a região de Caiapônia está no seu centro, o que lhe confere formações serranas espetaculares.
Os caiapós que originaram o nome do município são uma tribo amazônica que existe hoje praticamente apenas no MT e PA. Eram caçadores violentos e habitavam o cênico vale do Rio Caiapó. Ocupavam desde tempos imemoriais a bacia inferior do Tocantins.
Após confrontos com os brancos, eles se cindiram: um grupo migrou para a segurança do interior e outro procurou se relacionar com os colonizadores – este foi dizimado por pestes.
Apesar do grande território, Caiapônia é uma cidade pobre e pequena. Uma razão foi a falta de boa conexão rodoviária, implantada há apenas trinta anos. Outra possivelmente é seu relevo um tanto acidentado, pelo menos em comparação com os municípios vizinhos.
Acredito que, se você não for morador da região, deva evitar o verão úmido e quente. Mesmo no outono, quando lá estive, a temperatura chegava a 32C.
Mas o verão tem uma vantagem: o Carnaval da cidade, chamado de festejos do Zé Pereira, onde mulheres se vestem de homem e homens de mulher. Porém não sei se você é afeito ou afeita a essas trocas.
Pois Caiapônia ocupa o centro da Serra do Caiapó, uma longa formação que atravessa todo o sudoeste goiano. O seu trecho mais significativo, correspondente a cerca de 100 dos seus 450 km, se estende no sentido E-W e apresenta escarpas com desníveis acentuados. Ele fica logo ao sul, a 25 km da cidade.
A altitude média é de 735m e a rocha da serra é o arenito, em geral na viva coloração avermelhada. A vegetação que recobre suas encostas é o cerrado. Conforme a sua densidade, ele assume diferentes aspectos, desde o campo até a mata.
As terras de Caiapônia são ocupadas pelas lavouras de grãos nas áreas elevadas do reverso da serra e pela pecuária bovina nas regiões acidentadas de suas escarpas.
Como dizem na região, ela é atravessada pelos rios que correm para o norte e para o sul. E são destinos bem diferentes: no primeiro caso, para o Araguaia, o grande rio de 2 mil km que recebe o Caiapó e seu afluente Bonito. Ambos são cursos importantes – o primeiro percorre o lindo vale que leva seu nome e o segundo passa pelas Torres onde a cidade nasceu.
Os rios do sul, o Verde e o Claro, são cursos longos que afluem para o Paranaíba, um dos formadores do Paraná, após mais de 1 mil km de extensão.
O melhor visual de toda esta região é a formação de 30 km que une as três formações da Serra das Torres, Serra Azul e Gigante Adormecido. Localizada a 20 km ao sul da cidade, é um impressionante maciço em arenito, com presença de pináculos, escarpas e chapadas.
Seu platô central pode ser alcançado com certa facilidade por uma trilha áspera, a cerca de 900m de altitude. O ponto culminante está mais além, a 1.010m. Já a ascensão do Morro do Gigante Adormecido é mais delicada, até mesmo devido ao arenito friável.
Este conjunto é circundado por serras em várias direções: a Serra do Pântano a 930m fica a oeste, o Morro da Capela (onde de fato há uma igrejinha) a norte, a Serra da Taboca a leste e o Morro do Pião a 935m a sul.
Mais além deste fica o ponto culminante da região, no platô retilíneo da Serra do Chapadão, a 1.050m. Estas formações são recobertas por densa vegetação, não apresentando as escarpas lisas do conjunto anterior. Ao norte, em Palestina de Goiás, você poderá conhecer preciosas pinturas rupestres.
Embora não seja exatamente minha praia, reconheço que o principal atrativo de Caiapônia para o público local é o seu conjunto de cachoeiras, das quais umas vinte são procuradas pelos visitantes.
São águas que descem suave ou vertiginosamente das rochas estriadas do arenito, muito limpas e pouco geladas. Listo a seguir as principais cachoeiras com as distâncias da sede e alturas da queda:
São Domingos 53 km 92m
Alvorada 53 km 70m
Samambaia 34 km 54m
Abóbora 34 km 52m
Pântano 11 km 41m
Talvez esteja sendo injusto com as demais quedas menores – as amenas Santa Márcia, Santa Helena e Lajeado.
Lembro em particular a espetacular São Domingos, inserida junto com a Alvorada num bosque de canjeranas e aroeiras, cuja exploração exige quase 4 horas entre seixos, raízes, pedras e galhos.
Seu visual rivaliza com o do Gigante Adormecido, com a queda gigantesca se precipitando da árida parede à sua volta e descendo o cânion verdejante rumo ao horizonte.