Entre 1820 e 1853, por ordem do Barão de Antonina, foi construída uma íngreme e estreita calçada de pedras, parte da qual existe até hoje. Após 1853, deu origem ao traçado da Estrada da Graciosa. Atualmente, o caminho corta as curvas desta, e é um atrativo a mais da região, unindo história e natureza.
Vamos voltar um pouco no tempo, até a época em que morava na Graciosa, para contar como conheci esse caminho.
Durante algum tempo procurei saber onde pegar a trilha. Seguindo indicações de moradores da região, resolvi descer a estrada e procurar o caminho. Fui andando, andando, procurando e nada… Cheguei no recanto Bela Vista e falei com um senhor, o seu Raul. Ele me informou onde continuava o caminho, mas procurei e não encontrei. No recanto Ferradura, perguntei ao senhor que cuidava da vendinha, ele me mostrou a continuação, aí sim foi fácil de achar. Segui por este trecho até sair no parque Mãe Catira.
Encantado com a beleza da trilha, não deixei de lado a idéia de conhecer o caminho todo. Em agosto de 2004, descendo de bike num sábado para Porto de Cima, parei para conversar com o seu Raul de novo. Conversa vai, conversa vem, acabei falando que eu queria descer pelo caminho um dia. Aí ele me contou que o filho dele, o Osvaldo, ia descer a Calçadinha no dia seguinte com um pessoal de Curitiba, e me deu o telefone do filho. À noite, liguei para ele, que disse não ter problema de eu ir junto.
Como ele morava perto de casa, fui bem cedo pela manhã de bike até a casa dele. Logo chegaram o Claudemir e a sua esposa Cleide. Além deles, o Tiago, filho do Osvaldo foi junto. Fomos no carro deles até o recanto Lacerda. Pra variar, uma densa neblina cobria tudo. De lá, começamos a descer a pé. Andando um pouco pela estrada, avista-se a placa Caminho da Graciosa. Descendo pela estrada mais uns metros inicia do lado direito uma escadaria que vai para o meio da mata. Este é o início do que restou do caminho, pois o original seguia até Curitiba, pelo traçado da Estrada Velha da Graciosa, passando por Quatro Barras.
Logo começa a calçada de pedras, um caminho muito estreito e liso, que naquele dia estava mais liso do que o normal, por causa da forte garoa. Nesta parte há vários trechos íngremes, sendo muito belo o local.
Mais a frente, o caminho corta a estrada na altura do km 7, sendo necessário ir um pouco à esquerda para encontrar a continuação. O primeiro trecho corta as curvas da estrada entre o recanto Lacerda e o rio Cascata, cruzando a estrada pouco acima deste.
O segundo trecho segue desde cerca do rio Cascata até pouco depois do rio Grota Funda. Esta parte é a com maior desnível, e é ruim de caminhar, porque é muito liso. Alguns rios são atravessados nesta parte, entre eles o Cascata e o Grota Funda. Havia um trecho em que a trilha desmoronou, mas logo encontramos o desvio.
Saindo novamente na estrada, tem que se seguir por ela um pequeno pedaço abaixo. A entrada da trilha estava bem fechada e foi difícil encontra-la, mas por sorte estava marcada com fitas. Como estas já eram antigas e estavam cobertas de musgo, o Claudemir resolveu colocar uma nova marcação: uma sacola azul. Foi só andar um pouquinho e a trilha já ficou aberta de novo. Nesta parte do caminho, a trilha segue meio paralela com a estrada, até um pouco antes do recanto Bela Vista. Pouco depois de iniciar este trecho, o Osvaldo me mostrou uma bifurcação à esquerda que leva até o rio Mãe Catira. Provavelmente mais uma trilha usada por palmiteiros ou caçadores.
Após encontrar a estrada novamente, descemos por ela, passando pelo recanto Bela Vista, onde paramos para falar com o seu Raul. Na primeira curva fechada para a esquerda após o recanto, fica a continuação do caminho. A descida continua, mas já não tão íngreme como antes. Este trecho até o parque Mãe Catira encontra-se mais aberto, pois é mais freqüentado, tanto por turistas, como pelos moradores do local. Antes de chegar ao fim, passamos pelo recanto Ferradura.
O último trecho é o melhor de andar, pois já fica quase plano. Em pouco tempo chegamos ao parque Mãe Catira, ao lado do rio de mesmo nome, onde fica a ponte de ferro. Descansamos enquanto aguardávamos o ônibus que nos levou de volta.
Em janeiro de 2005, resolvi descer o caminho de novo, dessa vez sozinho. Saí de casa já meio tarde. O dia estava nublado e não muito quente, ótimo para andar. Fui andando pela estrada, e em pouco tempo consegui uma carona com um casal de São Paulo, que me deixaram no recanto Lacerda. Novamente, a neblina cobria a paisagem. Ao meio dia entrei no caminho, que como sempre, estava muito liso. Em menos de quinze minutos completei o primeiro trecho.
Tive que procurar um pouco a continuação do outro lado da estrada, pois não tinha mais marcação e o mato estava fechado. Quando encontrei, coloquei uma fita numa árvore. O calor e a umidade aumentavam na medida em que eu descia. Em certo ponto estava tão úmido que minhas roupas ficaram encharcadas. Era quase impossível ficar em pé, tão lisa estava a calçadinha. Porém a neblina havia ficado para trás, ou melhor, para cima! Agora o sol ameaçava aparecer. Uma hora depois de entrar neste trecho, alcançava a estrada novamente.
Parei para descansar um pouco para baixo do recanto Grota Funda, num lugar onde pode-se avistar a cachoeira das Gêmeas no fundo do vale. Por causa do calor abafado dentro da mata, resolvi pular o trecho seguinte e ir pela estrada, onde pelo menos soprava uma brisa. No recanto Bela Vista parei para descansar um pouco, mas como não tinha ninguém para conversar (era uma segunda-feira), segui logo adiante, entrando novamente no caminho.
O calor era cada vez maior, assim como a umidade, que juntos criavam uma atmosfera sufocante. O mato tinha quase fechado o caminho em certos pontos e no meio do caminho haviam muitas teias de aranha, algumas enormes, prova de que ninguém passava por ali há um bom tempo.
Neste trecho entre o Bela Vista e o Ferradura vi a maior diversidade de fauna: além dos diversos tipos de aranhas, uma cobra coral, lagartos e já próximo ao Ferradura encontrei numa árvore um grupo de tucanos que tentava atacar um ninho de papagaios, que se defendiam fazendo a maior barulheira! Uma algazarra que dava para ouvir de muito longe!!!
Chegando ao Ferradura, aproveitei que estava vazio e fui conhecer uma cachoeirinha que fica um pouco à direita da estrada e é formada por um rio que desce direto da serra Graciosa. Voltei à estrada e descansei um pouco com a vista deslumbrante do morro do Sete.
Continuando a caminhada, passei rapidamente pelo último trecho, onde avistei um grupo de perdizes, que logo correram e desapareceram no mato.
Às 15h00 cheguei enfim no parque Mãe Catira, são e salvo! Troquei a calça pelo calção de banho e fui para o rio. Nada mais relaxante depois várias horas de caminhada, boa parte delas dentro da selva sufocante, que um banho nas corredeiras de um rio da serra!!!
Pouco antes da hora do ônibus passar, saí para me secar e fui para a beira da estrada. Enquanto esperava pelo ônibus, resolvi pedir carona. Incrivelmente o primeiro carro já parou. Era uma família da Lapa voltando da praia numa caminhoneta Chevrolet 74, muito bem conservada. Pouco tempo depois me deixaram na porta de casa.
Em março de 2006 retornei ao caminho, novamente sozinho. Desta vez, fui com o objetivo de tirar fotos. Como de costume, peguei neblina no alto da serra. Sem grandes percalços, desci rápido, fazendo poucas paradas. O que me chamou a atenção nesta última vez foi como o mato estava tomando conta. Em muitos lugares já não se vê onde é o caminho. Atualmente não sei como está a conservação.