Entre os dias 6 e 10/07, o experiente montanhista Denis Urubko e sua companheira de vida e de escalada, Maria “Pipi” Cardell, conquistaram uma nova rota no Nanga Parbat (8.125 m), no Paquistão, uma das montanhas mais desafiadoras do mundo. Batizada de Nezabudka que significa “a garota inesquecível”, em russo, a linha foi traçada sem o uso de cordas fixas, apoio externo ou trilhas pré-existentes, em estilo alpino e em total isolamento.
“Não usamos cordas ou trilhas de outras pessoas. Não houve colapsos, ferimentos ou doenças”, relatou Urubko ao site russo Mountain.ru.
A nova rota, que cruza trechos de gelo, rochas, neve profunda e fendas glaciares, exigiu habilidade técnica extrema. O terreno era exposto a quedas de rochas, risco de avalanches e condições climáticas severas, incluindo ventos de até 90 km/h e tempestades diárias relataram os montanhistas.
No momento da ascensão, Urubko e Pipi eram as únicas pessoas na montanha. Os últimos cumes pela rota normal (a Kinshoffer) haviam ocorrido nos dias 03 e 04/07, e não havia mais expedições ativas na região de Diamir. A solidão aumentou o nível de risco, mas também ressaltou o tamanho do feito.
Uma conquista feminina histórica
Além da complexidade técnica e da nova linha aberta, a conquista marca um feito inédito para Pipi. Ela se tornou a primeira mulher a alcançar o cume de um 8.000 mil metros por uma rota inédita, em estilo alpino.
“Um percurso elegante e lógico. Técnico e de uma dimensão que me levou aos meus limites físicos e mentais. Seis dias em que todas as tardes fomos fustigados por tempestades e neve fresca, em que suportamos quedas de rochas, avalanches e vento. Mas em que conseguimos triunfar graças a uma companheira única, @urubkodenis”, escreveu Pipi em seu Instagram.
No entanto, após a publicação da rota, alguns alpinistas notaram semelhanças com a linha austro-canadense de 2009, aberta por Gerfried Goeschl e Louis Rousseau. Urubko e Cardell explicaram que suas linhas apenas se cruzam em um curto trecho entre 6.600 e 6.800 m, mas que seguiram por trajetos distintos.
Cardell afirmou ter conversado previamente com Rousseau, que compartilhou informações de sua expedição de 2009. “A distância entre as duas rotas é grande. Tudo o resto é especulação”, afirmou.
Parceria forjada ao longo de uma década
A conquista do Nanga Parbat vem após uma parceria de dez anos entre Urubko e Pipi, marcada por treinos rigorosos na Itália, Espanha, Polônia, muitas expedições e tentativas em montanhas como Chapayev, Ushba, Gasherbrum I e II. Em 2019, Urubko chegou ao cume do GII por uma nova linha, batizada de “Lua de Mel” em homenagem a Pipi, que se lesionou durante a tentativa.
“Treinamento e mais treinamento… drytooling, escalada, correr até a exaustão, aprender novas técnicas e hábitos para mim, não beber, chorar muitas vezes, sentir uma felicidade sem limites a cada pequeno passo à frente, duvidar constantemente até que consegui acreditar em mim mesmo e nunca, jamais desistir!”, revelou Pipi.
Nezabudka que significa “garota inesquecível” também é o nome russo de uma flor conhecida em inglês como miosótis ou capim-escorpião. Essa flor pode ser encontrada em regiões montanhosas em épocas em que a neve derrete como no Alasca e também no Acampamento Base do Nanga Parbat.
1 comentário
Que história incrível, de amor e aventura. É extraordinário o que a dedicação e a coragem dessa dupla conseguiram. Fico pensando como devem ter sido desafiadores esses seis dias de isolamento e perigo no gelo. Mas Orubko e Cardell conseguiram, e não devem parar tão cedo!