Não foi fácil, mas também não foi impossível, fizemos passo a passo, contou Lidia Huayllas, uma das cinco autodenominadas Cholitas Escaladoras de Bolívia, em sua chegada no aeroporto de El Alto, região metropolitana de La Paz, Bolívia, onde foram recebidas como heroínas.
“Cholas” são como são chamadas as índias de origem Aymará na Bolívia. Seus trajes típicos são as saias longas, chapéu de Coco e tranças alongadas. São figuras muito comuns em todo país. As mulheres bolivianas trabalham duro sendo comum observa-las desempenhando trabalhos pesados, como na construção civil e outros.
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Há cerca de 4 anos, Lidia trabalhava como carregadora e cozinheira para seu marido, guia de montanha no Huayna Potosi, montanha de 6088 metros perto de La Paz. Em 2015 ela decidiu deixar os acampamentos e acompanhar os clientes até o cume sem deixar de usar suas indumentarias típicas. Suas primeiras imagens no cume de montanhas geladas viralizou na internet e serviu de incentivo para várias mulheres começassem a escalar e a trabalhar como guias em alta montanha.
“Quando chegamos em Plaza de Mulas no Aconcágua, fomos recebidas com neve e muito mal tempo. No entanto colocamos todos nossos esforços, sentimento e carinho” explicou Ana Lía Gonzales. Relatando seu logo com emoção, demonstrou toda sua atitude respeitosa com a montanha e a divindade que a cerca. “Todos se surpreenderam que terminaram reconhecendo que com a nossa chegada houve uma mudança. Muitos não sabiam se a montanha era um homem ou mulher e nós dissemos que é um Achachilla (espirito), que era homem e que a Pachamama é mulher. Rezamos com Folha de Coca e Alcool“.
Mesmo sofrendo com as baixas temperaturas e ventos intermináveis, o dia de cume da bolivianas foi marcado por uma janela totalmente diferente dos dias anteriores.
O grupo formado por Cecilia Llusco, Lidia Huayllas Estrada, Dora Magueño Machaca, Ana Lía Gonzales Magueño e Elena Quispe Tincuta enfrentaram as dificuldades de escalar a montanha mais alta dos Andes antes mesmo de chegar na Argentina. Cada uma teve que gastar 3 mil dólares para poder escalar a montanha de maneira independente. Mesmo este valor sendo mais barato que as expedições normais, trata-se de um valor muito alto para os padrões da Bolívia.
A viagem só foi possível realizar graças a ajuda financeira de amigos espanhóis que emprestaram dinheiro para a expedição. Elas não receberam apoio financeiro do governo boliviano, mas receberam reconhecimento pelo Ministério de Descolonização da Bolívia. “Hoje o Aconcágua, amanhã o Everest, mas sem nunca se esquecerem de suas tradições” Declarou o Ministro Félix Cárdenas ao entregar uma homenagem às mulheres de saias que escalam alta montanha.