Chris Stangl: A queda!
Naquele ano, o austríaco, cuja especialidade eram os speed climbs (skyrunnings), objetivava realizar a ascensão mais rápida já registrada ao K2. Em uma vertiginosa escalada solo da Rota Abruzzi, ele chegou ao cimo no dia doze de agosto, após meras setenta horas (base – cume – base). Um marco espantoso, dadas as condições péssimas de neve e clima durante o ataque ao cume.
Todavia, a sua descrição da aventura aos demais montanhistas que estavam no campo-base continha várias inconsistências, e não tardaram a pipocar suspeitas.
O website americano ExplorersWeb, ao tomar ciência dessas suspeitas, conduziu uma investigação minuciosa das fotos divulgadas pelo austríaco e das declarações de todos que estavam no K2. Ao entrevistar Stangl, esse reagiu de modo virulento: “Se para ser parte da comunidade alpinística mundial eu tenho que me sujeitar a ser interrogado como um criminoso, então não quero fazer parte dessa comunidade”, afirmou. A continuação das investigações apontou para conclusões alarmantes: Stangl não tinha feito cume (sequer havia estado acima dos 8100 metros), havia escondido seus equipamentos embaixo de umas rochas para despistar os demais escaladores e havia forjado fotos no photoshop na tentativa de validar a sua mentira.
Quando foi finalmente desmascarado, inventou outra história bizarra. Nos seus dizeres, “imaginou ter feito cume no K2”. Alegou que a hipoxia da alta altitude o induziu a imaginar de maneira tão forte que estava no cume, que passou a acreditar ter culminado.
A emenda foi pior que o soneto. Caiu em desgraça e foi massacrado pela mídia internacional. Um jornal de seu país natal chegou a afirmar que essa era a “mentira da década”. Até os dias de hoje ele é conhecido como o alpinista que imaginou ter culminado o K2 (algo como um Barão de Munchausen do montanhismo).
Chris Stangl: A redenção?
Anos se passaram e o austríaco continuou firme na condução de seu projeto pessoal, que consiste em ser o primeiro alpinista a conquistar o Triplo Sete Cumes (ou: 21 Cumes). Essa aventura engloba a escalada dos três pontos mais elevados de cada continente, que são:
América do Norte – Denali, Logan, Orizaba
América do Sul – Aconcágua, Ojos Del Salado, Pissis
Europa – Elbrus, Dykh Tau, Shkhara
África – Kilimanjaro (Kibo), Mt Kenya (Batian), Mawenzi
Ásia – Everest, K2, Kangchenjunga
Oceania – Carstensz, Mandala, Trikora
Antártica – Vinson, Tyree, Shinn
O início de sua jornada foi no Elbrus, em 2006. Naquele ano, também culminaria o Everest. No ano seguinte, angariou Ojos Del Salado, Aconcágua, Denali e Carstensz. A busca pelos 21 Cumes intensificou-se a partir de 2010.
Em 2012, veio sua segunda tentativa no K2; desta vez ele não “imaginou o cume”, ele efetivamente atingiu o ponto mais elevado do maciço na grande onda do dia 31 de Julho. Com o K2, Stangl soma vinte montanhas do circuito Triplo Sete Cumes, faltando-lhe apenas o Shkhara (5193m), localizado na Geórgia, cadeia do Cáucaso. O austríaco chegou a tentar essa montanha em junho, como aclimatação para o K2, mas o tempo virou, entrou uma nevasca forte que duraria vários dias, e ele preferiu abandonar o intento em prol de sua expedição ao Karakoram.
No segundo semestre, ele deve retornar ao Shkhara para concluir os 21 Cumes e entrar para a história como o pioneiro desta aventura. Se essa conquista é suficiente para passar uma borracha na página negra por ele escrita no K2 em 2010, ou se essa mácula é de tal modo forte a continuar sujando seu currículo para todo o sempre, somente o tempo dirá.
Para quem quiser se aprofundar nos Triplo Sete Cumes: http://skyrunning.at/
Por Rodrigo Granzotto Peron