Mal amanhecera e uma chuva fina já caia sob as ruas de Sampa, desanimando td e qq incursão à região da , Serra do Mar. Isso deve ter desanimado metade do povo q confirmara presença pro perrengue em questão, reduzindo o sexteto inicial a um mero trio de participantes. Como sei desde longa data q se fosse depender de bom tempo e cia pra pernar fatalmente acabaria mofando em casa, nessas horas acabava sempre me embrenhando sozinho no mato. Não era o caso, pois além deste q vos escreve tb deram às caras corajosamente na Est. da Luz a escaladora Karina Filgueiras, q tinha bons motivos pra retornar à vila inglesa após 15 anos de ausência, local onde iniciara sua “vida de aventuras” q depois tomou caminhos menos horizontais, e seu jovem sobrinho, o Murilo, q apesar de sua rotina outdoor limitar-se à duas rodas e alforge tinha disposição e vontade de sobra pra experimentar novas modalidades esportivas digamos.. radicais.
Dessa forma saltamos do latão em Paranapiacaba às 8:15 juntamente com um grupo numeroso de orientais portando tanto mochilas, bastões de caminhada como guarda-chuvas. Contudo, pra nossa surpresa constatamos q o tempo por lá estava mto melhor q na capital paulistana e não havia sequer vestígios do tradicional “fog” londrino, típico da vila. Apenas uma nebulosidade clara tomava conta daquela manhã, onde pequenas janelas no céu acinzentado ameaçavam raiar um sol lindo e maravilhoso. Num piscar de olhos cruzamos a passarela metálica sobre o complexo ferroviário e tomamos rumo à famosa Estrada do Taquarussu, atravessando as ultimas ruas ornadas com casas destilando sua charmosa arquitetura inglesa.
A pernada pela precária e bucólica estrada de terra supracitada fora embalada pelo aroma adocicado de lírios-do-brejo e damas-da-noite, assim como pela animada conversa com a Karina, q me deixava à par de suas ultimas peripécias pela Patagônia, antigas roubadas na cia do Eliseu Frechou e recentes presepadas do CEU. Mas após cruzar o discreto marco de cimento q separa os municípios de Sto André e Mogi das Cruzes, por volta das 9hrs, deixamos a estrada em favor da tradicional picada q leva tanto p/ Vale do Quilombo, a Comunidade, a Volta da Serra e o Anhangabaú, e por ela prosseguimos inipterruptamente, seja chapinhando brejos e charcos resultantes das ultimas chuvas, desviando da mata tombada e de enormes deslizamentos, como tb comendo as teias de aranha no caminho.
O som silencioso da mata só era rompido pelo q parecia ser alguma moto-serra nalgum canto, mas q depois soubemos ser um grupo de motociclistas dando rolê pela região. Vale tb salientar q um elétrico cachorro
preto da vila, q apelidamos de Totó, nos acompanhou por boa parte daquela manhã de sábado.
As 10:10hrs alcançamos a famosa “bifurcação das bananeiras” e tocamos pra esquerda, q nos leva de fato pro Vale do Quilombo. Após cruzar um riachinho, subir uma nova encosta, cair num topo de serra e tomar à esquerda noutra bifurcação, era a partir dali q começava a descida ao fundo do vale propriamente dito, onde o som do furioso rio já era perfeitamente audível. Inicialmente suave em ziguezagues pela encosta pra depois tornar-se beeem íngreme em meio a uma crista evidente, ali foi onde perdemos altitude num piscar de olhos. Em tempo, fomos deixando marcações de plástico na vegetação neste ultimo trecho pirambeiro caso retornássemos pela mesma trilha, uma vez q ali a picada não era assim tão obvia por estar em desuso e quase q tomada plenamente pelo mato. Felizmente essas marcações não foram necessárias.
Desembocamos às margens do Rio Quilombo a exatas 11hrs, e nas enormes pedras q ornam seu leito tivemos um merecido pit-stop tanto pra descanso como pra lanche. O Totó tb ganhou sua recompensa, sob a forma de pedaços de bisnaga e de barras de cereais. Felizmente estávamos num setor do rio q parecia ser divisor de declividade, pois a partir dali ele despencava bem íngreme e mto mais acidentado serra abaixo. Como nossa intenção era subi-lo até suas nascentes ao norte, aparentemente isso seria mto mais facil por estarmos já num setor de planalto com pouca variação de altitude. E embora minha única preocupação real ser do Murilo ter se queixado de dores no pé durante a descida ao rio, o q poderia atrasar a subida propriamente dita, decidi irmos ate o fim da nossa trip proposta. E seja o q Deus quiser. O mínimo q poderia acontecer seria termos de pernoitar na mata desconfortavelmente. Mas e daí? Quem ta na chuva é pra se molhar…
Meia hora depois iniciamos a subida de rio de fato, ora caminhando pelas pedras de seu leito rochoso ora palmilhando a encosta plana cheia de mata de sua margem esquerda. Alguns trechos onde surgiam obstáculos como enormes piscinões, gigantescas rochas ou voçorocas de mata caída eram transpostos contornando os mesmos sem maiores dificuldades. E tome escalaminhada de rochas, vara-mato simples e cruzamento de belas prainhas e remansos fluviais, sempre enfiando as botas no rio com água ate o joelho ou um pouco acima dele. Mas foi ai q descobrimos uma picada q acompanhava o rio pela sua margem esquerda e da qual não resolvemos sair, pois por meio dela o avanço era mto mais rápido e facilitado. Num determinado pto da trilha, minha desatenção fez com q pisasse num buraco escondido pela folhagem onde minha perna td caiu com força, me desequilibrando e estatelando no chão. Francamente, levei um tombo q deixou minha coxa dolorida pelo resto do dia e só não tive fratura no fêmur devido ao meu biótipo mais atarracado. E tome Dorflex!!
Mas como alegria de pobre dura pouco, a picada logo desviou do rio subindo a serra. Como nossa intenção era seguir o rio a abandonamos e retomamos a pernada pela água ou pela margem florestada. Assim sendo, continuamos nosso avanço vagaroso pelo rio ou pela margem, conforme onde fosse mais fácil, pelo rio o cuidado era saber avaliar tanto a profundidade dos poços como das pedras (menos escorregadias e mais firmes) em q pisar no caminho, pela margem ou encosta havia q saber onde havia menos mato a transpor, principalmente qdo surgiam voçorocas de xaxim espinhento ou deslizamentos q traziam meia floresta abaixo.
Num determinado pto do rio, houve necessidade de cruzar à outra margem do rio pois um enorme paredão vertical de rocha guardando um fundo poção se interpunha por onde originalmente íamos. Isso no exato momento em q começou a chover de leve. E esse processo foi se repetindo continuamente, nos obrigando a ir “costurando” o rio conforme dava. No caminho, enormes e imponentes blocos de pedra represavam mtos piscinões formando mini-cachus, resultando num dos trechos mais bonitos do trajeto. Foi tb por aqui q nos separamos do Totó, q não conseguiu nos acompanhar num setor onde havia q entrar no rio com água ate a coxa ladeando uma enorme rocha, pra depois cair numa encosta menos íngreme.
O tempo passou e nesse compasso inabalável fomos avançando rio acima, no exato momento em q a chuva dava uma trégua. Após ladear uma enorme rocha com água ate a cintura, tivemos um breve descanso na margem esquerda do rio afim de remover a areia das botas e evitar q tivéssemos os pés esfolados, as 14:20. Foi aqui q fui dar uma olhada na encosta e descobri uma trilha bem marcada q acompanhava o rio na direção desejada. Uhúúú, chega de ralação! E assim demos continuidade à pernada pela mesma rio acima com velocidade e agilidade maior, sempre prestando atenção à direção apontada pela bússola. Eventualmente a vereda subia e descia encostas, afastando-se do rio, q por sua vez era sempre audível, mesmo á distância.
Mas foi ai q a picada desembocou noutra, e depois noutra e assim sucessivamente. Q direção tomar então? Se perder na Serra do Mar é uma das coisas mais fáceis q há, principalmente qdo não se tem à disposição GPS. Mas qdo se tem algo mais funcional e q dispensa baterias, o cérebro, basta apenas colocá-lo pra funcionar com auxilio de uma carta e bússola. Nas bifurcações bastou apenas tomar o ramo q juntasse as 3 condições a seguir: q fosse mais batida, seguisse na direção desejada (norte) ou apenas acompanhasse o rio,mesmo á distância, sem gdes dificuldades.
O fato é q cruzamos pela ultima vez o Rio Quilombo, agora bem menos largo q antes, e em sua outra margem foi só acompanhar uma picada recém-roçada q desembocou num largo aceiro ao sopé de um enorme reflorestamento de eucaliptos. Sinais óbvios de “civilização” sob a forma de papel de bala no chão não deixam mais duvidas q rumo tomar corroboram nossa intuição. Como reflorestamento é sinal de fazenda bastou acompanhar o aceiro até q caír numa precária estrada de terra, as 15:15hrs.
Descendo pela mesma a encosta de um gde morro, atravessamos agora o largo Córrego Taiaçupeba com água ate o calcanhar e terminamos dando na sede do Sitio Quilombo. Sob o olhar amarrado do capataz da fazenda, conseguimos carona na caçamba de um caminhão q recém deixava o local. Uhúúú! Esta trepidante e sacolejante carona foi decerto bem dolorida pros nossos traseiros, mas q compensou por nos poupar bons kms de pernada de volta como nos proporcionar mais um momento “aventura” de onde saímos imundos de serragem. Após passar o Camping do Simplão e a decrépita Capelinha Sto Antonio, o caminhão nos deixou na Estrada do Taquarussu, pela qual retornamos sem pressa, numa velocidade q deixaria uma tartaruga manca ou uma lesma preguiçosa coradas de inveja.
As 16hrs alcançamos a Vila do Taquarussu, onde o lilás e amarelo das quaresmeiras destoando do tapete verde q emoldura a serra do entorno, a charmosa igreja Sta Luzia parecia nos receber tal qual andarilhos peregrinos. Lembrando um presépio semi-abandonado, o vilarejo – composto de uma capela, um jardim c/ coreto, um lago e um punhado de casas – surgiu com a vinda de trabalhadores italianos numa mineradora desativada q explorava carvão, durante a 2ª Guerra Mundial.
Após algumas fotos retomamos a pernada rumo Paranapiacaba, aonde finalmente chegamos as 17:10 já com a vila inglesa fazendo jus ao nome, isto é, encoberta pelo seu típico nevoeiro de final de tarde. Desnecessário mencionar q o Murilo chegou se arrastando ao vilarejo, mas sentindo-se vitorioso por concluir o programa proposto sem dar um pio sequer. Na verdade estávamos tds moídos de cansaço, e desabamos numa das mesas do Lgo dos Padeiros onde meia dúzia de turistas tb curtia aquele sabadão acinzentado no alto da serra. Mandamos ver salgados e brejas pra comemorar a trip, pra somente hr depois embarcar no latão e trem de volta pra paulicéia desvairada. Foi ai, com o corpo frio e sem a adenalina da trip, q senti a coxa latejar.
Mas e daí, isso não era nada mais q lembrança mais q merecido, não?Embalados no mundo dos sonhos, uma certeza era a de q o pedal marcado pro dia sgte pelos meus dois companheiros de bate-volta certamente daria lugar a um domingo esticado sob as cobertas, regado a um descanso prolongado bem mais q merecido. Pois no final tds haviam saído satisfeitos: a Karina, por matar suas saudades da antiga vila e constatar q não mudara mta coisa desde então, a não ser as atuais restrições de acesso a trilhas outrora liberadas, o Murilo, q não vê a hora de retornar num roteiro menos pauleira pela região e se calçar melhor pra atividades mais radicais munido de cartelas de Dorflex, e
finalmente eu, por selar em definitivo minha intimidade com uma das mais belas e cênicas bacias hidrográficas da Serra do Mar paulistana. E isso a apenas 40km do caos e stresses da urbe metropolitana.
Texto e fotos de Jorge Soto
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