Circuitão sabatino pela trilha das Antas

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Após semanas de tempo desfavorável – no inverno + umido e molhado q se tem noticia – quebrei um jejum de pernadas topando um convite p/ voltar aos arredores da Serra do Mar mogiana, cujos encantos vão alem da tradicional picada q bordeja o Rio Itapanhaú. Dessa forma, num sabadão de sol forte e céu azul, percorremos cristas e encostas forradas de densa Mata Atlântica ate dar na beirada da gigantesca Garganta do Gigante, atravessar a barragem e Rio Itatinga, p/ depois retornar pelo Parque das Neblinas. É a tal “Trilha das Antas“, circuitão relativamente tranqüilo q alterna picada e vara-mato, e palmilha atrativos menos conhecidos nos limites serranos dos municípios de Mogi das Cruzes e Bertioga.


Cheguei na Est. da Luz na cia da Báh (Bárbara), onde encontramos o Carlos, Roberta, Eric, Leo, Vagner, Nei, Ana e Gabriel, p/ dali tomar o trem c/ destino a Guaianazes, as 7:20. Após meia hr num agradável&nbsp, “quase-metrô”, saltamos no nosso destino onde imediatamente tomamos a baldeação p/ Mogi, agora numa composição bem + precária q a anterior, onde apenas nossos dotes de salto c/ vara foram capazes de vencer a distancia entre a plataforma e o vagão. Mas nem mesmo os ambulantes praguejando impediram q cochilássemos na tal “minhoca de latão”, uma vez q td mundo madrugara p/ poder comparecer no horário combinado. Bem, ou quase tds.

Chegamos finalmente em Mogi por volta das 8:30, onde encontramos o resto do povo: Claudio, Leila, Ricardo, Neia, Fernando e Abade. Após um breve café na Padoca Mogi, tomamos&nbsp, rumo à Pca das Bandeiras, a alguns quarteirões dali, onde aguardamos o busão q nos levaria ao inicio da picada. Enfim, as 9hrs embarcamos no “105-Manoel Ferreira” q deixou Mogi p/ tomar o asfalto rumo litoral, viagem q mostrou-se vagarosa e bem demorada.

Por volta das 10hrs saltamos nos confins do Bairro de Manoel Ferreira, num local apelidado de “Balança”, dominado apenas por um simplório boteco beira de estrada. E foi lá mesmo onde mandamos ver +&nbsp, pasteis e coxinhas, de modo a q reforçassem + nosso desjejum matinal. Alonga aqui e alonga ali, eis q 10min depois damos inicio à pernada, andando rente o asfalto sempre em frente ainda por quase 1km, sob um sol de rachar miolos. No entanto, este detalhe passou facilmente despercebido diante a empolgação e descontração geral no começo da pernada, uma vez q logo entraríamos na mata. Dito e feito. Logo numa curva à esquerda ao sopé de um morro, deixamos a rodovia e tomamos uma larga picada a direita. Lá, topamos c/&nbsp, um palmiteiro sentido contrario portando 2 enormes facões, q se não nos meteu medo apenas nos alertou p/ não farofar na mata. Tá, dica anotada.

Este inicio de “trilha” é uma “quase-estrada” obvia, apenas cercada de mata de ambos lados – principalmente pinheiros e eucaliptos – e decorada por belos canteiros de maria-sem-vergonhas, q não oferece problemas de orientação. Basta apenas acompanhar a picada principal e ignorar bifurcações menores ou trilhas transversais.Tendo sempre na dianteira o Fernando, Nei e Abade, auxiliados eventualmente pelos ptos plotados pelo Claudio, cruzamos c/ eventuais trechos encharcados q nos obrigam a saltar aqui e ali, sempre no sentido sul/sudoeste. Mas após um certo tempo, a picada mergulha na mata e continua em suave declive, s/ maiores transtornos. O agradável som de água marulhando nalgum canto a nossa direita anuncia estarmos próximos de algum gde curso d´água, audível de leve desde o inicio da pernada. Mas não tardou a esbarrar c/ um 1º riozinho se interpondo no caminho, q bastou cruzar cautelosamente (alguns metros acima) por dois precários troncos carcomidos remanescentes do q outrora foi uma ponte.
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Após este obstáculo, a picada nivela em meio a um bosque de pinheiros, sai no aberto, mas novamente mergulha na mata fechada, eventualmente palmilhando uma vala erodida e escorregadia. As 11:40 esbarramos com um novo riozinho no caminho, q foi transposto através de troncos besuntados de limo, q obrigaram os menos confiantes a descer ate o rio e cruza-lo por baixo mesmo, c/ + segurança. Mas as paradas p/ descanso são raras, principalmente pelas enormes mutucas q não nos dão sossego e picam ate por cima da roupa!

Após bordejar um belo laguinho pela esquerda e novamente nos enfiarmos na mata, um 3º rio é vencido nos mesmos moldes q o 2º. Aqui a picada já se estreitou o suficiente e nos obriga a redobrar a atenção no caminho, q pode gerar confusão nas trilhas laterais q se entrecruzam e nas bifurcações, mas o sentido é sempre pela picada principal (geralmente p/ esquerda), p/ sudoeste. E após um suave declive e saltar um pequeno córrego por cima das pedras, passamos a bordejar a encosta da serra, eventualmente desviando do mato e gdes arvores tombadas no caminho. Notamos q visivelmente aqui fora uma larga estrada, dados o cortes verticais talhados na encosta, q agora foi tomada pelo mato pelo desuso.Alem disso, passamos por vestígios do q restara de antigas construções, inclusive uma escola, onde o metal de antigas carteiras agora reluzem aos raios solares filtrados pela farta vegetação.

As 12:30 alcançamos nova bifurcação, esta de alguma relevância: p/ esquerda teoricamente daríamos na Garganta almejada, pra direita daríamos no Rio Itatinga e, + adiante, nos limites do&nbsp, Pq das Neblinas. Tomamos a da esquerda, ansiosos pela possibilidade de descer a Garganta e, quem sabe, alcançar a planície costeira. Pois bem, a picada prossegue sempre na mata, subindo suavemente ate dar no q parece ser uma crista, p/ na seqüência começar a perder altitude no mesmo compasso. Mas meia hr após a bifurcação a trilha some completamente, o q nos obriga a decidir q rumo tomar abrindo mato no peito, porém no sentido desejado. Neste trecho, o Carlos e a Roberta decidiram retornar pois não estavam preparados pra pernoitar na mata, pois varando mato ate nosso destino tal possibilidade era real. Por sorte ele tb havia plotado a picada ate aquele trecho e pode retornar ao inicio s/ maiores dificuldades.

C/ o grupo reduzido, prosseguimos abrindo caminho na raça, embora isso não fosse tão difícil devido à vegetação bem espaçada entre si, e pelo fato de estarmos numa crista não havia muito mato caído no caminho. Mas não demorou em termos de descer pela encosta direita, q por sua vez ganhou declividade num piscar de olhos! Mais um pouco e nos vimos numa beirada da montanha forrada de mata, onde as poucas frestas possibilitavam vislumbres da imponente Garganta do Gigante a nossa frente, c/ paredões esmeraldas despencando vertiginosamente ao sopé da serra. Ao longe, a linha do horizonte se dividia entre o bege claro das praias de Bertioga, o azul intenso das águas do mar e o azul claro e límpido do céu! Como prosseguir era impossível, nos reunimos pra decidir o q fazer, e resolvemos tomar rumo à Barragem de Itatinga, cujas cachu era perfeitamente audível onde estávamos.

Pois bem, dali apenas subimos um pouco o morro de modo a sair daquele barranco quase vertical, pra depois derivar p/ direita e, desviando diagonalmente de maiores matacões s/ dificuldade pela encosta, alcançar as beiradas da Barragem orientados apenas pelo som da água. Este processo td não levou nem 10 min, e logo nos vimos as margens do largo Rio Itatinga, um dos gdes tributários do conhecido Rio Itapanhaú. O Itatinga, após serpentear de forma ruidosa boa parte do planalto, tem suas águas represadas mansamente pela muretinha da pequena Barragem, q depois são canalizadas por um impressionante aqueduto&nbsp, – construído em pedra no inicio do século passado – até lá embaixo, já na planície costeira, onde moverão as turbinas da hidrelétrica homônima, q ainda gera energia pro porto de Santos.

O visu da Barragem tb é bem bonito: uma pequena casinha/guarita guarda a represa, por sua vez debruçada sobre o planalto frontal à planície costeira de Santos. S/ sinal da costumeira nebulosidade&nbsp, q domina a região, tínhamos uma ampla e bela vista do litoral, mesmo enfiados no meio da mata. O visu de Bertioga, por sua vez, deixou a Báh alucinada p/ chegar ate lá, mesmo q pra isso tivesse q pagar uma porção de camarão pra td mundo depois, promessa q ninguém esqueceu, claro!

Voltando à pernada, como cruzar pro outro lado da Barragem por cima da muretinha tava fora de cogitação (não pela dificuldade mas pq é prop. privada e um guardinha já tava de olho na gente) o jeito foi bordejar as encostas rentes ao rio de modo a alcançar um trecho mais raso p/ atravessa-lo. Entretanto, as 13:30, estacionamos naquela piramba forrada de mata de sombra, e cômoda e oportunamente nos permitimos um breve lanche e algum descanso, c/ direito ate a miojão preparado pelo Ricardito &amp, Néia, do povo pedindo gentilmente p/ Leila fumar numa área reservada p/ tal, e da tagarelagem do sociável Eric com uma matraca q não deixava ninguém conversar. Alem de ouvir os animados causos da Cris, Vagner e Ana.

Retomamos a caminhada 40min depois, ladeando a margem do rio, ora subindo ora descendo a encosta conforme o mato e declividade permitiam, s/ maior dificuldade de avanço. Subimos o rio então ate um ponto onde ele era visivelmente mais raso, porem mais movimentado e repleto de pedregulhos, mas de visual tão encantador qto o anterior. Pausa pra fotos antes da travessia, claro! A partir dali cada um seguiu por onde lhe fosse + fácil, o Nei, Vagner, Fernando e Abade seguiram corajosamente por um trecho onde cruzaram c/ água quase&nbsp, ate o peito, c/ as mochilas na cabeça. O resto optou um pouco + acima, onde cautelosamente e pisando c/ firmeza nas pedras +seguras e q nos dessem apoio garantido, cruzamos o rio com água ate o joelho, embora aqui a correnteza fosse maior.

Esta travessia foi demorada, razão q alguns aproveitaram a deixa pra se refrescar nos poços cristalinos ou nas hidros do Itatinga. A Báh, o Nei e o Gabriel q o digam.

Uma vez na outra margem, as 15:30, bastou seguir um rastro obvio de picada visível entrando na mata q foi só acompanhar. Estávamos agora nos domínios do Parque das Neblinas, já no município de Bertioga. O parque, por sua vez, é uma reserva particular q integra a antiga Fazenda Sertão dos Freires, região limítrofe ao Pq Est. Serra do Mar. Pois bem, andamos um tempão na mata fechada por uma trilhona bem batida, inicialmente em subida pra depois descer em definitivo, sempre suavemente e ornada de canteiros de maria-sem-vergonhas e lirios-do-brejo. As 16hrs, após cruzar uma floresta secundaria, caímos no aberto numa estradinha maior, em meio a um enorme reflorestamento de eucaliptos. Explica-se: o parque pertence à Suzano, empresa produtora de papel q constituiu o Instituto Ecofuturo p/ opera-lo.

As 16:30 damos num emplacamento q indica termos saído dos 2km q percorrem a “Trilha do Itatinga”. Vendo q a sinalização Tb indicava apenas 300m pra “Cachu do Sertão”, resolvemos conhecer a tal queda. Mas qual nossa surpresa ao chegar lá e de sermos barrados por um funcionário sob alegação q “o local estava reservado apenas pra um pessoal q estava numa sessão de fotos inteiramente despidos!” Animados pela possibilidade de se tratar da gravação de um “pornô-ecológico”, nosso intento de entrar pela mata pra prestigiar os despudorados atores de nosso efervescente cinema nacional foi água abaixo qdo o mesmo funcionário avisou o resto dos guardas da nossa presença (ilegal, lógico!) mostrando-nos gentilmente a saída.

Voltamos então a estrada principal no mesmo ritmo anterior, passamos pela entrada de outras trilhas (“das Antas”, “do Itatinga” e “do Acampamento”) ate dar numa enorme ponte asfaltada sobre o Rio Itatinga, cujas águas cristalinas corriam mansamente 20m abaixo. Antes, porem, fomos interpelados por dois veículos de guardinhas, c/ os quais argumentamos de onde vínhamos e da nossa necessidade de sair por ali. Compreensivos e sempre prestativos, os mesmos fizeram questão de nos dar carona (ou seria escoltar?) ate a saída, quase 10km dali, alem de nos presentear c/ folders informativos do parque! Melhor q isso, impossível!
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E dessa forma oportuna e imprevisível, nos esprememos em dois carros feito sardinhas, e lotamos a caçamba de um deles! Tanto q o veiculo teve q parar diversas vezes devido a aquecimento do motor. Fora isso, percorremos os 8k restantes em meio a bosques intermináveis de eucaliptos, passar pelas simpáticas instalações do parque e dar na entrada principal, as17:30, marcada por uma lacônica placa “Faz. Pedra Branca- Suzano Papel Celulose”. Enfim, estávamos teoricamente em Bertioga e nada da Báh pagar nossa merecida porção de camarão…

Lá fora, no meio do nada cercado de mata, fomos orientados a aguardar um busão q passaria as 18hrs. Contudo, como nossa necessidade de boteco aquela altura era primordial, não pensamos duas vezes em seguir pela estrada de terra 1km adiante (sentido Taiaçupeba) onde as infos davam conta q havia um. Chegando lá, numa casinha no meio da mata a beira da estrada, qual nossa decepção q o mesmo havia fechado faz tempo pela sua idosa dona, q agora recebia a visita de seus trocentos netos. Claro q a molecada colou bem curiosa na gente, assim como os latidos estridentes de um barulhento totó q insistiam em reverberar nossos combalidos tímpanos. E lá aguardamos, aguardamos e aguardamos..e nada do busão! Não fossem as historias pitorescas da molecada sobre a região (como da presença de onças, da criação de uma cobra e uma anta pelo avô, do medo de lobisomem, da morte da irmã maior enforcada, etc) essa espera teria sido bem tediosa.

Enfim, não tardou pra noite cair e preencher o firmamento de estrelas alem de um friozinho nos obrigar a vestir anorakes. E nada do busão. Foi ai q a Leila, desesperada, percebeu q perdera sua carteira. Claro q ela e + alguns a acompanharam pro parque novamente na vã tentativa de achar a dita cuja. Enqto isso, o busão (“Pedra Branca”) finalmente passava por ali as 19:30, e a trip foi um autêntico off-road rumo Mogi, mas q mesmo assim não impediu q tds (sem exceção) puxassem um merecido ronco em meio a tanta trepidação e sacolejo.

Chegamos apenas uma hora depois em Mogi, onde encostamos num boteco pra aguardar o resto do povo e bebemorar a empreitada. Ricardito, Néia e Eric zarparam antes disso. Mas qdo chegaram os retardatários (s/ encontrar a maledeta carteira fujona), imediatamente nos dirigimos p/ tomar o trem de volta pra Sampa, mas não s/ antes degustar um dogão e um espetinho de gato local, as 22hrs. A trip agora foi inteira no mundo dos sonhos, e a medida q o trem se aproximava da “Terra da Garoa”, o povo foi se despedindo, descendo de estação em estação, sendo q a ultima leva esfacelou-se na Est. da Luz. E finalmente, cheguei no aconchego e conforto de casa por volta das meia-noite e meia, apenas pra tomar uma ducha merecida e constatar dois malditos carrapatos alojados ilegalmente no meu quadril. Alem de beliscar alguma coisa, já q não tive meu quinhão de porção de camarão “di grátis”.
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Enfim, por mais incrível que possa parecer, esta região repleta de opções aventurescas está á aproximadamente 60 km do centro da paulicéia desvairada, e apesar disto, nos permite desfrutar de um lugar natural bastante preservada da Serra do Mar. Alem da “Trilha das Antas”, tem a descida da Garganta do Gigante ao litoral, a subida do Rio Itatinga ate sua nascente ou ate mesmo um circuitão abrangendo a Cachu Furada e a do Elefante, entre outros programas q a criatividade demandar. Enfim, opções não faltam. E se a palavra Mogi, em tupi, significa “Rio das Cobras”, a região serrana q abraça esta pacata cidade oferece não apenas Mata Atlântica de sobra pra abrigar o referido ofídio. O habitat natural do temido peçonhento – como também das antas q dão nome a picada supracitada – nos brinda com mais um verdadeiro e promissor paraíso pra andarilhos.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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