Circuito pelo Rio Quilombinho

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Por incrível que pareça não pisava em Paranapiacaba desde o ano passado, mas não por falta de oportunidade e sim devido ao desânimo q as últimas restrições de acesso ao seu entorno gerava. Quebrando esse jejum de pernadas pelo Pq das Nascentes e julgando a poeira das proibições já assentadas, domingo passado retornei a caminhada relativamente sussa pelos contrafortes serranos da pacata vila inglesa. Sussa pq desta vez bisbilhotei duas picadas transversais q sempre ignorei durante minhas incursões ao Vale do Quilombo. O resultado foi um circuitinho breve e sem gde desnível q percorre as nascentes do Rio Quilombinho, passando pelas simpáticas Cachus da Biquinha e do Lúcio.

 

Encontrei a Lu e o Lúcio pontualmente as 7:45hrs em frente da padoca Barcelona, tradicional pto de encontro da galera trilheira em Rio Gde da Serra. Molecada indo pra vila prestigiar suas festividades, algumas de bota indo pra Cachu Fumaça e outras tantas mochiladas em direção ao Lago Cristal. A padoca tornou-se referencia obrigatória pra quem se dirige pras veredas e caminhos pelos contrafortes da vila inglesa. Além disso, a padoca serve de providencial pto pra forrar o estomago antes das pernadas, e foi o q sagradamente fiz antes de encontrar meus amigos. A combinação pingado e pão na chapa sempre foi minha pedida ideal prum delicioso desjejum dominical.

Tomamos na sequencia o latão as 8hrs, q imediatamente se pirulitou pelo asfalto deixando a pacata Rio Grande pra tras. Viagem rápida e sem gdes percalços uma vez q desembarcamos 15min depois. O frio e as brumas espessas pela manha cedinho agora já davam lugar a um deslumbrante ceu azul, com promessa de sol e tempo perfeito, ideal pruma pernada pela serra. A vila recém despertava pra mais um dia, senão o ultimo, duma das tradicionais festividades q arrolam o vilarejo durante o ano. No caso, o evento em questao era a Festa do Cambuci, q so perde pro Festival de Inverno no quesito popularidade.

Atravessamos o burburinho matinal da vila, de cabo a rabo, e logo nos vimos palmilhando em meio ao silencio da bucólica Estrada do Taquarussu, precária via q corresponde a espinha dorsal de trocentas outras aventuras pela região. Entre uma conversa e outra, breves paradas pra clicar os nuances desta bela estrada são obrigatórias, cujas folhagens da vegetação ao redor ainda exibem o brilho reluzente da umidade noturna depositada, assim como o frescor inebriante do odor exalado por Damas da noite(flor) invade as narinas de forma implacável. Chama a atenção neste trecho o gde numero de deslizamentos na encosta, com terra quase invadindo além das margens da estrada.

Adentramos na famosa picada q leva ao Vale do Quilombo por volta das 9hrs, mergulhando suave e desimpedidamente no frescor da mata fechada. Vereda esta outrora utilizada por carvoeiros atrás de mata nativa pra virar combustível pra baixada. Num ritmo ágil e mais q oportuno, ganhamos altitude de forma quase imperceptível pela encosta serrana, pra em seguida começar a descer td aquilo no mesmo compasso. Sempre no sentido sul-sudeste, a pouca mata tombada a meio caminho não basta pra atrapalhar nosso ritmo de pernada, q se mantem ágil e rápido. O som de agua nalgum canto invade os ouvidos, mas logo se materializa por volta das 10hrs na forma dum correguinho cruzando a trilha. Gde equivoco da maioria é passar batido por ele, pois descendo a encosta sem gde dificuldade se alcançar um patamar nivelado onde se tem bela visão duma simpatia queda, q depois soube se chamar Cachu da Biquinha. Queda simplória apenas um pouco maior q a Cachu do Banquinho, claro.

As 1015hrs tropeçamos com a famosa bifurcação das bananeiras, tocando desta forma pra esquerda, onde em menos de 5min desembocamos nas margens do Rio Quilombinho, onde paramos rapidamente prum momento de relax e mais alguns cliques. Após beliscar quase um pacote inteiro de pipocas do Lucio, retomamos nossa pernada, agora chapinhando ora pelo leito do rio ora pela agua mesmo, acompanhando o curso do Quilombinho serra abaixo, ou seja, sentido oeste.

O inicio da descida de rio não oferece gde dificuldade, nem em desnível ou em termos de obstáculos, mas ainda assim o Lucio faz questão de não molhar seus pezitos. “Ta muito fria a agua!”, queixava-se ele.  Eu e a Lu nem ai, pois caminhávamos melhor naquele terreno irregular e escorregadio na segurança do pe na agua! Durante o trajeto, despertou-me a atenção, pra variar, o gde volume de mata tombada, o q nos obrigou a muitos desvios e ate escaladas do mato no caminho. Mas no final de contas, nada assim do outro mundo. Mas não deu nem meia hora após meter o pe na agua q a abandonamos em favor duma evidente picada cortando transversalmente o rio. Esta picada já foi palmilhada no sentido da esquerda e ela desce ate o fundo do vale, mais precisamente na foz do Quilombinho no Quilombao! A incógnita no caso era o lado direito desta picada, e foi pra essa direção q nos mandamos, deixando o rio pra tras. 

Subindo suavemente em meio  mata olhei pra bússola e reparei q nossa rota tendia pro norte, sem gde variação de altitude. Sempre ladeando a msma encosta, fomos deixando o som de água pra trás e adentrando noutra dobra serrana, onde o som da água e profusão fez-se escutar gradativamente. Percebi q estávamos num vale paralelo ao do Quilombinho, onde as águas deste outro riacho juntavam-se as deste primeiro, mais abaixo. Notei q esta picada, embora bem batida, esta isenta de td e qq vestígio de lixo! E assim prosseguimos por ela pra ver onde daria, já q a curiosidade a respeito de sua origem invadia meus pensamentos desde longa data.

Mas foi qdo a picada tangenciou este riacho q reparamos algo no fundo deste. Era uma cachu encaixotada entre duas gdes pedras, ao fundo! Logicamente q esta visão bastou pra sairmos da rota e bisbilhotar a mesma! A queda é um pouco maior q a do Banquinho e a Escondida, mas o conjunto de duas enormes pedras acopladas permitiam q a agua escorresse pela lateral lajotada duma delas, fazendo do espetáculo algo minimamente singular. Um belo poço completava este belo visual q, embora raso, não animou nenhum dos integrantes a experimentar suas águas geladas. Por desconhecer totalmente seu nome terminei apelidando a queda de Lucio, em homenagem ao nosso convidado escaldado. Se alguém souber o verdadeiro nome favor me corrija.

Retomamos a pernada pela já supramencionada vereda, sempre no mesmo sentido e em suave aclive, ate q a mesma abandonou o grotão da Cachu do Lucio, cujos murmúrios foram ficando cada vez mais inaudíveis. Ate q subitamente o terreno nivelou e assim se manteve por um tempo. Não deu nem 5 minutos e desembocamos numa picada maior e, mais batida e evidente, tocamos pra direção desejada e q se mantivesse em nível, sem perda de altitude. Foi ai q percebi q havíamos dado um giro e provavelmente estávamos retornando a picada principal anteriormente palmilhada, ou seja, a dos carvoeiros. Dito e feito, num piscar de olhos caímos novamente na bifurcação das bananeiras!!! E 11hrs estávamos oura vez as margens do Rio Quilombinho, pto inicial da descida do ribeirão! Um mistério já solucionado!

Após descansar um pouco, cruzamos o Quilombinho e prosseguimos pela picada, morro acima. O segundo mistério a ser desvendado estava logo a seguir e logo materializou-se noutra larga e espaçosa picada! Aqui sempre tomei sentido da direita, q atinge o cume da crista serrana pra depois tocar pro fundo do Vale do Quilombo. Tocando pra esquerda eu sabia q daria próximo do Taquarussu, so não sabia a q altura..e era isso q tencionava naquela ocasião de diluição de duvidas a respeito. E vamo q vamo!

Tomei a dianteira e la fomos nos, engolindo as teias de aranha do caminho, tocando sempre pela trilha q bordejava a encosta sempre em nível, sentido norte. Visivelmente esta picada fora uma estrada, assim como boa parte das veredas da região, e isso era visível pela largura da vereda e corte vertical na encosta. Mas logo nos deparamos com o odor agridoce dalguma coisa próxima e olhando pro chão encontramos muito cambuci espalhado pela vereda! O caminho estava repleto de pes do fruto q avla homenageava! Provamos alguns q estavam com aparência decente e tava delicioso, embora levemente azedo.

A pernada prosseguiu no mesmo compasso, se perda de altitude e sempre no sentido desejado, ou seja, norte! Não perdendo de olho o ponteiro apontado pela bussola, eventualmente a picada adentrava nas dobras serranas mudando de direção, mas felizmente a mesma era retomada logo a seguir. Igualmente as vezes a picada estreitava-se a pto de sumir, mas ela era logo reencontrada mais a frente. Foi ai q veio a primeira bifurcação significativa, mais especificamente uma em formato de T, na qual o bom senso nos fez tomar o ramo da esquerda. 

Tocando sempre nessa direção, a picada tornou-se parcialmente coberta de brejo, o q pos em duvida se era realmente o caminho certo. Mas felizmente mais adiante a vereda normalizou, descendo suavemente pro norte, conforme desejado. As vezes fugia da rota, mas pro meu alivio ela a retomava na seqüência. Afluentes menores surgem no caminho, mas os ignoramos sempre em prol da picada. E eis q surge nova bifurcação, onde desta vez tomamos a variante da direita, q descia e ia pro norte. E assim fomos nos. Memorizando td trajeto feito, havíamos estipulado o período de 1 hora pra chegar na estrada do Taquarussu, pois em tese ela não tava longe. Se isto não ocorresse estávamos redondamente no caminho errado, e em comum acordo decidimos q nesse caso voltaríamos tudinho pelo mesmo caminho.

Mas felizmente não houve necessidade disso e minha navegação por bússola mostrou-se certeira, pois as 12 e meia desembocamos numa casa de madeira onde um possante jipe tava estacionado. Já havia estado aqui noutra ocasião e o senhor q la estava corroborou minhas suspeitas..estávamos nos cafundós da Fazenda Taquarussu. Dali bastou apenas tocar pela bucólica e extensa estradinha de chão ate cair na via q leva ate o Simplao, e dali finalmente pisar na Estrada do Taquarussu, uma hora depois. Bem q torcemos conseguir carona, suspeitando q o festival aumentasse o fluxo de veículos na estrada, mas q nada… fizemos td trajeto a pé mesmo, com paradinha de descanso no vilarejo-presépio do Taquarussu, com direito ate a tropeçar com uma cobrinha serelepe tomando sol no caminho.

Pisamos na vila inglesa pouco depois das 14hrs, em meio a muvuca e borburinho da Festa do Cambuci, mesclado ao som onipresente dalguma musica do Raul Seixas tocando nalgum lugar, onde estacionamos facilmente no Lgo dos Padeiros afim de descansar e bebemorar o breve rolezinho. Um simplorio e gratificante bate-volta que não apenas representou meu retorno a vila inglesa neste ano. Alem de matar algumas curiosidades pendentes, tb serviu pra exercitar as pernocas e a navegação artesanal num circuitinho banal e fácil. Mas qdo se trata de Serra do Mar, até nas coisas mais simples e faceis é ainda possível descobrir simpáticas e novas cachoeirinhas, as quais vc pode se dar o luxo de nomina-las conforme bem entender. Enfim, descobertas diárias q são exclusividade única da Serra do Mar paulistana. E de Paranapiacaba também.


Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

1 comentário

  1. Boa Tarde, eu acho que o poço a que você se referiu pode ser o “Poço das Moças” lugar de lendas, contadas na minha infância por minha tia e por meu pai que foi proprietário do Sítio Quilombo onde se localiza o rio Quilombo.
    Durante minha infância tive oportunidade de brincar muito nesse rio assim como passear pelo local que na época
    era um mar de bananeiras a perder de vista.

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