Apesar do primeiro passo bem intencionado falta ainda um longo caminho a ser percorrido até que esta arvore dê seus frutos. E seguramente a federação não está preparada para operar esta mudança de rumo a curto prazo, até porque não será apenas administrar a longa fila que vai se formar as portas da FEPAM para contribuir com a primeira anuidade. Os “independentes” não têm este nome de graça, são desconfiados e anárquicos por natureza e experiência. Atrair e manter a participação desta gente vai demandar muita força política e o real desejo de mudar a forma como se faz a institualização do montanhismo no Paraná. Estas mudanças só poderão ocorrer com o aval dos clubes.
A forma mais óbvia de melar a iniciativa é estabelecer um valor desproporcional aos benefícios. Para isto acontecer basta enumerar as possíveis vantagens de curto e médio prazo atribuindo valores monetários a cada uma e estabelecer uma anuidade igual ou superior a soma delas. De imediato é dificílimo, uma vez que a Fepam tem a distribuir mais responsabilidades do que direitos e mais custos que benefícios, mas não é impossível porque montanhistas são altruístas natos.
Causar um desequilíbrio entre as contribuições dos clubes com as dos “independentes” é mais complexo, mas igualmente desastroso. Imaginem que um clube com 10 associados contribua com R$ 250,00 e a anuidade imposta ao “independente” seja R$ 50,00. Isto significa que o “independente” paga o dobro para as mesmas “regalias”, mas tem um problema mais a frente. Apenas 5 “independentes” equivalem ao clube e com economia não se brinca, rapidamente a federação se direciona para aumentar as vantagens para todos e acaba por atrair 50 “independentes” que contribuirão com R$ 2.500,00 que equivale a 10 clubes com 100 associados. Então o peso econômico dos “independentes” tende a se sobrepor a importância dos clubes e a federação se transforma num grande clube dividido em várias panelinhas. O resultado é o fim dos clubes. Uma maneira de desarmar esta armadilha é estabelecer a contribuição dos clubes por cabeça, proporcional ao número de associados, e outra pouco maior para os “independentes” de forma que houvesse alguma vantagem econômica em criar e manter um clube. Mas nenhum clube favorecido pela cota fixa aceitaria passivamente esta alteração que lhe reduz a sobra no caixa.
Sendo o bolso a forma mais fácil de inviabilizar uma idéia, está no cerceamento da participação nas decisões o jeito mais seguro de conseguir o mesmo resultado. Principalmente quando se considera que a filiação traz poucos benefícios imediatos e está praticamente baseada na vontade latente que estas pessoas têm de participar com suas idéias e colaborar para o desenvolvimento sustentado do esporte. “Independentes” receberam este nome em função do comportamento avesso a organização em grupos e não é por estarem filiados que vão mudar de atitude, então será necessário inventar um canal eficiente de comunicação para recolher suas contribuições individuais, responder as suas demandas e prestar contas das decisões e ações da federação. Felizmente os instrumentos já existem com a internet e o site da FEPAM, mas ainda é preciso desenvolver ferramentas de administração compatíveis com a demanda futura. Imaginar que os “independentes” venham a eleger um representante para votar e decidir em seu nome é no mínimo demonstrar total desconhecimento do problema. Há de se encontrar um interlocutor que se prove confiável e comprometido com alguns conceitos de liberdade e conduta para administrar este novo canal de comunicação, mediar as discussões, encaminhar suas demandas para a diretoria e com total isenção representar em plenário os pontos de consenso. Estando isto bem equacionado a iniciativa tende a prosperar, mas ficando mal resolvido é uma catástrofe.
Mas o aspecto mais importante para o montanhismo paranaense é uma definição acertada do conceito que deverá orientar as ações da FEPAM. A federação deve dizer com todas as letras o porquê de sua existência e seguir adiante pela trilha escolhida, sem atalhos nem desvios. O montanhismo brasileiro nasceu no Marumbi, anárquico, rebelde e destemido. Nunca contou com o patrocínio estatal nem pediu permissão ao governo da hora, jamais se dobrou para as proibições públicas ou privadas e apesar das dificuldades continua existindo. Montanhistas são todos ecologistas, mas o contrário raramente é verdadeiro e tanto o estado como muitos particulares vem corriqueiramente se travestindo de ecologistas aproveitando a onda da moda para impor restrições descabidas e proibições irresponsáveis aos esportes de montanha. Diferenciar montanhismo – esporte e risco – em suas várias modalidades do turismo de aventura que abomina o risco e a responsabilidade. O objetivo maior deve ser sempre defender o montanhismo como esporte em que se arrisca a vida com responsabilidade individual e intransferível.
E finalmente o maior perigo que ronda todas as federações é transformarem-se em pelego do estado, sindicatos, grupelhos seletos ou de partidos políticos, infiltradas por elementos descompromissados com seus ideais máximos para usá-las como trampolim em seus projetos particulares. Os “independentes” são extremamente arredios para se deixarem usar como massa de manobra e facilmente debandariam novamente para a informalidade onde são mestres no cambau. Daí se poderia novamente culpar os “independentes” pelo fracasso da bem intencionada iniciativa, afinal não atenderam ao chamado para entrar na legalidade, não aceitaram o cabresto que lhes foi oferecido. São culpados por pisar na grama, por entrar clandestinamente em áreas proibidas ou controladas. São culpados por realmente serem livres e escalar montanhas.