Detesto fazer compras pelo simples fato de não ter saco e mto menos ter a virtude sacra da paciência em escolher presente. Encarar filas ou qq multidão q seja apenas endossa essa minha radical decisão. Mas infelizmente este ano não tive como fugir desse encargo. Com a proximidade das festas de fim de ano e desejoso em agradar a “sobrinhaiada”, não me restou alternativa senão meter as caras na famosa e muvucada Rua 25 de Março, o maior centro comercial e “shopping a céu aberto” da América Latina, por sua vez situada nas redondezas do coração de São Paulo. Mas pq a Rua 25 de Março? Ué, simplesmente pelo bom preço. Esse é o segredo de td essa zona.
Salto então do busunga na Pça do Patriarca um pouco antes das 11hrs e imediatamente me dirijo a Rua São Bento, q cruzo num piscar de olhos. Emparedado pela verticalidade dos altos prédios, vou já me acostumando á presença da turva humana esbarrando suas enormes sacolas diante minha passagem. Boa parte dela já retornando das compras justamente de onde pretendo chegar, a tal Rua 25 de Março, q recebe este nome em homenagem a 1ª Constituição brasileira. De qq forma se eu quiser sair vivo ao cabo das duas próximas horas preciso ter um objetivo principal, sem distrações ou perda de tempo, como qq pernada q se preze. Não tinha tempo para delongas. Diferentemente da maioria das pessoas e sacoleiros q se dá o trabalho na maratona de pesquisar (e desgastar) no entra-e-sai de loja, eu já tenho endereço certeiro: a loja atacadista conhecida como Armarinhos Fernando!
No Mosteiro São Bento já corto pelo Metrô do mesmo nome e dou de cara com a entrada à 25 de Março, isto é, a via semi-inclinada conhecida como Ladeira Porto Geral, de onde tenho uma prévia do “formigueiro humano” q ia encarar. A visão dali já era desoladora: Muita, muita, mas muita gente se espremendo feito sardinha entre lojas, ambulantes, carros e motos. Como é praxe, a presença policial é maciça e constante. “Ainda dá tempo pra voltar atrás!”, pensei. Mas contrariando o bom senso crio coragem, respiro fundo, coloco a carteira colada ao corpo, na virilha, e me entrego num dos ciclos do inferno de Dante.
Uma vez na famigerada via me deparo com uma multidão aglomerada numa esquina, prestigiando o show de duas “estátuas-vivas” cujos artistas provavelmente devem estar derretendo por baixo de td aquela pesada maquiagem e quilos de roupa sob o forte sol do quase meio-dia. Me levanto na pta dos pés apenas pra ver um mar de gente invadindo o trecho margeado pelos prédios ao redor, elevando-se pelos lados.
Curiosidade é saber q até pouco antes de 1850 td aquilo ali já fora leito do Rio Tamanduateí, recebendo as águas do Rio Anhangabaú pra desaguar no Tietê. A Ladeira Porto Geral por sua vez era o porto (jura??) q servia de escoadouro pras mercadorias q vinham de Santos. O tempo passou, o rio foi drenado por conta de constantes enchentes e a urbanização tomou conta ate chegar no formato atual, uma rua pequena q não dá nem 6 quarteirões e limitada por duas pequenas praças.
Deixando esta curiosidade histórica de lado e voltando á intrépida e ousada caminhada, la me vejo ora buscando passagem em meio àquela muvuca comercial ora desviando dos transeuntes caminhando apressadamente, carregando td sorte de embrulhos, pacotes, bolsas e sacolões, seja nos braços, ombros e até na cabeça. Com um ponto de interrogação encima das minhas madeixas, me aproximo de uma outra aglomeração de gente na esquina com a Ladeira da Constituição. Era a tradicional apresentação de mais um “vidente-macumbeiro”, aquele q coloca uma “mãozinha-adivinhatoria” no chão! Passo batido, claro. Não posso perder o foco do meu propósito ali, no vaivém das pessoas.
O caminhar é lento e as pessoas parecem não avançar, estacionadas entre as barracas de camelôs q disputam espaço com as lojas comerciais. Ofertas e promoções ficam expostas nas vitrines, balcões e até no chão, atraindo a atenção do povão. E a minha tb, diga-se de passagem. É pen-drive de 128Gb , bijus, apliques de cabelo, bolsas, tênis, camisetas, raquete anti-moscas, depilador de nariz, helicóptero-bexiga, e td sorte de tranqueiras e bugigangas sendo vendidas a plenos pulmões. Mas quem mais lucra mesmo é o vendendor de água, já q o calor é quase palpável e faz com q tds se aglutinem na pouca sombra existente, tornando o ambiente ainda mais insuportável numa superlotada calçada. “Ei, cabelo.. vai um Rolex ai?”, me diz um jovem com cara de mano, tirando um relógio de uma sacola de plástico e olhando ao redor, como preocupado em ser visto. Declino da oferta, claro, e prossigo minha jornada. Isso, mantenha o foco!
Entre um passo e outro, mais “estátuas-vivas” surgem assim como td sorte de artista mambembe, no espaço q sobra entre as barracas e a rua. São músicos, malabaristas e equilibristas q exibem seus dons por alguns trocados. A trilha sonora daquele ambiente caótico vai desde uma mistureba de td música imaginavel vinda de vários rádios ligados ao mesmo tempo, a td volume, na frente das lojas. É sertanejo, pagode, forró e funk, estilos q não me caem bem. Tinha até um pago-funk (!?). Não bastasse isso, a gritaria constante dos ambulantes e de um maldito apito q distorce a voz, cantando uma conhecia melodia infantil, completam aquela cacofonia ensurdecedora, q inclui sotaques misturados de gente de td pais e até de fora.
Pronto, enfim cheguei no tal Armarinhos Fernando. Mas estava enganado ao imaginar q lá a coisa iria melhorar. Literalmente aquilo era um “labirinto de hamsters”, apertado, abafado e sem ventilação alguma. Não se anda além de poucos metros. Ao invés de mato espesso, é gente q impede a passagem, espremida no frenesi daquela massa humana, entre empurrões e atropelos, pontapés e cotovelos. Um legitimo “corredor polonês”. Agoniado, me dirijo imediatamente à sessão de brinquedos, por sinal igualmente lotada, a procura de algo interessante pra molecada. E rápido pra logo me mandar dali. Mas a oferta é tamanha e variada q perco um bom tempo nesse processo, buscando o melhor preço q se adapte ao meu bolso, habitado por um escorpião q impedia gastos além do previsto. Isso pq nem mencionei o tamanho da fila a espera do pagamento da mercadoria. Enqto espero, enfim na dita cuja, bato uma foto pra registrar meu sufoco mas qdo preparo o segundo clique um negão q faz jus ao nome de “armário” q nomina a loja me pede gentilmente pra guardar a máquina. “Captação de imagem interior só com autorização do gerente!”, intima ele. Foi malss.
Eram quase 13hrs qdo deixei a loja, respirando aliviado. Mas me sinto vitorioso segurando meu prêmio sob a forma de uma enorme e barulhenta sacola com os presentes. Ao pisar novamente na 25 de Março percebo o movimento na mesma duplicado. Mas como a fome já dava as caras a algum tempo resolvi tomar a Comendador Kherlakian sentido o Mercado Municipal, a apenas dois quarteirões dali. No caminho, a tentação de adquirir algum eletrônico na Galeria Pagé passa pela minha cabeça. Afinal, sobrara algum trocado das compras. Mas só de ver a entrada da famosa galeria de muambas totalmente intransitável já dilui qq esperança (e coragem) de entrar nela. “Pague pra entrar, reze pra sair!”, pensei, “Tô fora!”. De repente, um tumulto toma conta da rua causando um certo frenesi como meu súbito esmagamento. “Olha o rapa, olha o rapa!”, alerta um camelô pro outro, jogando tds seus dvds, óculos e cds piratas numa sacola pra então se perder no meio da multidão. De fato, na sequencia dois policiais passaram com cara de pouco amigos, me medindo da cabeça aos pés.
No Mercado Municipal a muvuca parecia ter continuidade, embora tenha sido o elevado preço do chopp e do sanduba de mortadela q acabou me afastando dali. Resultado: mandei ver mesmo um suculento e delicioso churrasquinho grego na Rua Cantareira, com direito a dois sucos grátis! Enqto abocanhava ávidamente meu pão com fatias de carne e vinagrete transbordando pra fora, presenciei algo no minimo curioso. Outra pessoa tb veio pedir a iguaria, mas ela estava com uma máscara cirúrgica, provavelmente com temor de contrair gripe suína (ou seja la o q fosse) naquele “formigueiro humano”. O mascarado baixou a dita cuja pra fazer o pedido e na hora de comer, claro. “O que esse cara tem na cabeça, além da máscara?”, pensei. Como se a mascara fosse imuniza-lo de contrair qq "macróbio", vírus, bactéria ou pereba q fosse, ali naquela concentração atacadista das mesmas. Vai saber..
Pois bem, era hora de ir embora. Mas não pela 25 de Março, lógico! Não havia necessidade. Contornei pelas transversais e fui parar outra vez na Pça do Patriarca. Minha missão (ou seria peregrinação?) estava concluída. Dali ainda estiquei pra Augusta e Paulista, e no embalo da caminhada acabei voltando pra casa, na zona oeste, a pé! Pois é, pra quem já não visitava o miolo do centrão de São Paulo faz séculos até q a ocasião foi bastante produtiva, sem voltar pra casa de mão abanando. E nem deveria, embora td tenha seu preço.
E na 25 de Março não é diferente. É cansativo, é. Mas vale a pena, lógico. Basta uma boa dose de perseverança, um pouco de paciência e boa sola pros pés. E foco, claro. Só assim pra vencer “a rua mais movimentada do Brasil”, onde o rico e o pobre andam juntos, da mesma forma q o comercio legal e o ilegal. Todos norteados única e exclusivamente por tentadoras promoções e pelo bom preço.
No final das contas, só espero q td o sacrifício tenha valido a pena e q meus sobrinhos gostem do agrado, sob risco de serem sumariamente deserdados pelo tio andarilho.
Boas Festas e um Ano Novo repleto de mais trilhas e mto perrengue.
Texto e fotos de Jorge Soto
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