Confira o relato da escalada Cães e Caravanas na Pedra do Baú

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Desde que comecei a escalar em 2017, sempre escutei falar sobre a via “Cães e Caravanas” que fica na Pedra do Baú em  São Bento do Sapucai – SP. Porém, um famoso vídeo de uma queda colossal nesta via sempre me deixou receoso em entrar nesta via, até que, após começar a explorar algumas vias pouco frequentadas no complexo do Baú, como “Fúria de Quimera”, “Domingos Giobbi” e a “Fissura Chove Não Molha”, foi escalando a lindíssima via “Bito Meyer” (talvez a mais bela do Baú), que me despertou o interesse e encorajou a enfrentar a “Cães e Caravanas”, conquistada por Bito Meyer e Karina Filgueiras.

A “Cães e Caravanas” 6º VIIb (A2/VIIIb) D3 E3 tem cerca de 300 metros e 9 enfiadas, cada uma muito peculiar. Ela mistura lances em livre, bem protegidos para os padrões tradicionais da face norte do Baú. A via também apresenta lances em móvel. Existem dois trechos que podem ser escalados tanto em artificial quanto em livre: o primeiro deles na 5ª enfiada, “O Muro” (A2/VIIIb); e a enfiada seguinte (VIIb), na 6ª enfiada, logo após a “Travessia Du Loren”.

 

Eu, Julio Pimentel e Arthur Parenti partimos então numa manhã de sábado para desbravar mais uma no Baúzão, emendando as duas primeiras cordadas através da via “Transbaú” e acessando o platô MSP.

A partir do platô MSP, às 09h30, a P2 para P3 que é bem tranquila, uma sequência de agarrões até um sistema de fenda com bastante opção de proteção móvel e muitas agarras de mãos e pés. Ao final da fenda, já protege a 1ª chapa e toca para a esquerda por baixo e depois para cima em direção à 2ª chapa, e novamente sai por baixo pela esquerda e depois para cima em diagonal para a esquerda rumo ao platô da P3, que é confortável.

P3 para P4

Sai à direita da parada numa fenda em diagonal para a esquerda que estava cheia de vegetação bem onde se protege em móvel; uma jardinagem básica permite colocar umas peças móveis e sempre com boas opções de pés e depois vai para cima em diagonal para a esquerda em direção às chapas. A 1ª chapa começa a escalar pela esquerda e depois vai indo para a direita em direção às demais chapas, onde tem um crux técnico de bons regletes e bem protegido (7A br) até dominar a parada indo bem pela direita da última chapa. A P4 é bem desconfortável embaixo da parede laranja (“O Muro”).

 P4 para P5

“O Muro” é o artificial A2 ou um 8b br se escalado em livre; optamos por escalar em livre. A saída é bem em cima da parada, bem delicada, com agarras pequenas e abauladas, depois vai tocando pela direita até a 3ª chapa, até que vem o 1º crux que é abrir a mão esquerda e se transferir para a esquerda, depois disso vai para uma laca de oposição com boas mãos e volta a ir para a direita, onde tem a parte mais dura do crux, que é alcançar um reglete pequeno e super afiado de mão direita, arrumar os pés e dominar outro reglete pouco melhor de mão esquerda, após isso vem uma sequência de regletes que vai melhorando até ficar de pé com a cara num tetinho com uma fenda fina. Eu limpei a fenda e consegui colocar um Micro Cam BD #0.1 e depois um CAM offset #0.5 para virar em direção ao platô da P5, que é razoavelmente confortável. Em resumo, esta enfiada é curta e bem dura em livre, compensa ir somente com os equipos que vai usar e sem mochila.

Natan guiando ‘’ O Muro’’. Foto: Natan

P5 para P6

A “Travessia Duloren”, é bem curta e tranquila e pode ser protegida com um CAM BD #0.3 até chegar na 1ª chapa. Depois começa um vertical na parede preta; na 2ª chapa é melhor ganhar altura reto e depois ir ganhando diagonal para direita usando um garrão invertido. A travessia é delicada para a direita com regletes até chegar num garrão, montar nele e ganhar altura para a 3ª chapa. Lance super delicado e um pouco exposto. Para a próxima chapa, melhor ir levemente pela esquerda e reto na chapa, até dominar um agarrao e montar nele. A partir desta chapa, o beta é ir meio que reto e depois levemente para a esquerda até alcançar uma agarra de esquerda meio abaulada para sacar ou sacar de um reglete bom em cima da chapa. Após isso, vai virar um platozinho pequeno meio bom para respirar e já tem outro crux com uma micro fenda e microgletes no estilo Rio de Janeiro. O segredo são os pés; e então, com as mãos é melhor pegar a 2ª microfenda de direita na oposição até dominar os agarroes bons em cima e ir para a P6 que é mista, a mesma do último diedro da “Bito Meyer”, em resumo esta cordada é bem constante a partir da 2ª chapa, num vertical de parede preta e com uma leitura difícil de achar os melhores regletes e posicionamento.

Julio Pimental na “Travessia Duloren”, e Arthur Parenti na seg. Foto: Natan

P6 para P7

“Bem-vindo a Ixtlan”: a partir daí vem a famosa travessia exposta em pedras podres, começa delicada com pés e mãos em pequenas agarras e frisos, cabe um CAM BD #4 num gavetão em cima da cabeça, não é uma colocação bomba mas é melhor que nada. Depois disso, melhor descer o máximo possível na travessia e ir para a esquerda, até chegar na chapa e após isso um lance fácil pra cima em direção à P7, que é uma base relativamente confortável debaixo do “Teto Amarelo”.

Arthur Parenti na travessia “Bem-vindo a Ixtlan’’. Foto: Natan

P7 para P9

“O Teto Amarelo”: começa uma enfiada em artificial A0. O beta é levar 1 costura panic + 1 FIFI + solteira regulável para fazer bem agilizado e ganhar tempo. As chapas são bem próximas, mas o teto é negativo e puxar no braço cansa bastante. Qualquer fita de 60 cm como estribo já resolve a situação. Nesta cordada, o beta máster é emendar até a P9, que é o artificial com a última cordada “o caminho de Nagual” pois a parada do artificial (P8) não é muito óbvia, são duas chapas verticais que confundem com o próprio artificial, além de ser uma parada super desconfortável. Inclusive, emendamos sem perceber esta cordada. A cordada “o caminho do Nagual” é algo como um 6sup bem tranquilo em bons regletes na parede pedra, e depois que ganhar o platô cabe um CAM BD #0.75 bomba numa gaveta para direita para virar em agarroes até uma P9 no rampão e já está quase no cume. Depois disso tem uma rampinha que vai quase andando até a floresta do cume e aproximadamente às 17h00 a via está concluída.

Natan, Julio e Arthur no cume da Pedra do Baú.

No meu ponto de vista, a “Cães e Caravanas” é uma excelente pedida no complexo do Baú para quem busca uma sequência de cordadas exigentes e com graduação mais apimentada. Não achei a via exposta como dizem, mas, por estar em uma via de parede, tem todos os riscos eminentes que são padrão desta modalidade de escalada. O ideal é ir sempre com cuidado, testando as agarras quando tiver com certa exposição e sempre procurar a leitura correta da via. Desta vez, não fizemos a primeira cordada que sai do chão para acessar o platô MSP para ganhar tempo, mas certamente retornarei à via para tentar a cadena das cordadas “O Muro” e “Du Loren”. Para esta via, um jogo de CAM BD do #0.1 ao #4 te deixa bem confortável nos lances em móvel, não precisa levar  NUT ou repetir peças. Agradeço ao Julio Pimentel e Arthur Parenti pela parceria nesta empreitada.

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2 Comentários

  1. Quero parabenizar pelo artigo sobre a via “Cães e Caravanas”! Sua descrição detalhada e empolgante traz à tona a beleza e os desafios desta icônica escalada na Pedra do Baú. É inspirador ver a forma como você compartilha sua experiência e motiva outros a enfrentar esse desafio. Ótimo trabalho em promover o esporte e encorajar a comunidade de escaladores!

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