Continuando a exploração do PNI – parte 1

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Pois é, depois de um ano, continua a minha exploração particular do Parque Nacional do Itatiaia, primeiro parque brasileiro. A iniciativa do feriadão no parque foi idéia do Tácio, dando continuidade ao seu projeto de montanhas de 2010, para tanto ele reservou o abrigo Rebouças e tratou de convidar toda a trupe que era composta pelas figuras: Elias Maio, Flávio Varricchio, Davi Marski, Cintia Marski, Tácio Philip, Paula Neiva, Dom Miranda, Rafael, Patrick Godoy, Pedro Hauck e eu. E lá vamos todos nós pro parque que é habitat natural de montanhistas e amantes da natureza em geral!!


Apressados que só, combinamos de partir antes de todo mundo eu, Dom e Patrick. Antes de o Tácio nos apresentar virtualmente, sequer nos conhecíamos. Agora só posso agradecer ao Tácio por me colocar em contato com estas figuras gente boníssima, valeu bode albino pelo contato! Por e-mail resolvemos tudo, Dom e Patrick passaram na minha casa sexta cedinho, por volta de 06:15h, pra me pegar e irmos pra estrada, assim foi.

Pensávamos encarar algum engarrafamento mas isso não aconteceu, mas de qualquer maneira o Itatiaia não é logo ali, então pudemos aproveitar a viagem pra ir nos conhecendo via bate-papo no carro, trocando experiências. Quando chegamos no Abrigo Rebouças ao meio dia, já estávamos habituados ao papo salafrário de vendedor do Dom (ahahahah), das estórias de cirurgias caninas do Patrick (cirurgião veterinário), e dos meus perrengues andinos.

Ainda na estrada uma surpresa agradável que já indicava um feriadão promissor, demos de cara com um pequenino Gambá passeando pela estrada alta do PNI, a cerca de 2.150 metros de altitude. Que coisa! Paramos o carro, e já com a câmera na mão corri pra tentar fotografar o bichano, mas não deu, logo ele se embrenhou na mata e tudo que pude fazer foi um vídeo estilo paparazzi só pra tentar registrar sua passagem, não ficou muito bom porque as folhagens na frente roubavam o foco, mas deu pra ver mais ou menos!

Com vontade de só curtir a calma do parque por aquela tarde, o Dom ficou no abrigo enquanto eu e Patrick, previamente já combinado e decididos, depois de almoçar pegamos a estrada às 13h rumo ao Pico do Urubú, montanha que eu desconhecia existir no Itatiaia e só ganhei conhecimento na ocasião em que o Tácio passou por lá ano passado. Quando saímos do abrigo depois de almoçar, o tempo não prometia porcaria nenhuma, muita neblina, nuvens baixas e como previsto, vento, muito vento. Fomos assim mesmo contando com a sorte pra ter algum visual lá chegando.

Avançamos praticamente passeando pela trilha super aberta que sai do final da estrada já observando o tempo abrir rapidamente seguindo a direção e velocidade dos ventos, que em certos momentos chegava fácil aos 60 km/h. Não demorou nada e logo estávamos mais baixos que a altitude média do planalto de 2.350 metros, já a aproximadamente 2.200 metros, onde tivemos a primeira vista do Morro do Urubú! Ficamos de cara felizes por um bom tempo nos dar boas vindas, entramos em uma florestinha e continuamos a descida em direção ao abandonado Abrigo Massena.

Já bem próximos ao Abrigo, cerca de 100 metros em linha reta, vimos uma saída a direita em ângulo de 90 graus seguindo reta pro Morro do Urubú, pegamos ela. Cerca de 70 metros depois e estávamos em uma casa de pedra aparentemente abandonada, onde tínhamos uma visão muito privilegiada do Prateleiras, da Assentada e do outro lado do planalto, que descrevo mais adiante.

Parar pra que? Vambora! Começamos a descer a encosta do morrinho onde fica a casa de pedra e logo atravessamos um rio, começando de fato ali o ataque ao cume. Quando chegamos no topo desta primeira crista nos vimos em um local singular. Um descampado arenoso perfeitamente plano, onde sem exagero deve caber umas 30 ou 40 barracas, leito de um pequeno lago que secou provavelmente devido à seca que o sudeste passou nos últimos meses. Certamente este local voltará a ser um lago em algumas semanas, quando as chuvas se intensificarem definitivamente no parque. Mesmo assim, ali estavam alguns pedaços que denunciavam a presença humana e deixaram a paisagem menos natural: Alguns pedaços de madeira (perna de 3) e de telha quebrada, evidenciando alguma intenção de construir algo que não vingou.

Continuamos, logo estávamos no primeiro e falso cume do morro, apelidado pelo Tácio de Urubuzinho. Dali até o cume foi só fazer uma travessia curta entre os morros e o ataque final. Depois de 2h e 15min chegamos ao cume do Morro do Urubú de Itatiaia, a 2.270 metros de altitude. Meu GPS marcou 2.272 metros, medição precisa. Finalmente consegui a vista que queria ter do Prateleiras e da Pedra Assentada daquele ponto, raramente fotografado.

Vista do cume do Morro do Urubú de Itatiaia

Dali, o Prateleiras muda completamente de aparência, deixa de ser aquela fantástica coleção de rochas gigantes amontoadas para ser um simples morrinho com rochas menores em seu flanco visto desde o Urubú. A Pedra Assentada não muda muito, só fica mais fácil visualizar a Pedra Assentada propriamente dita, a rocha onde fica o livro do cume. Também é póssível ver mais ao longe e a norte o morro do Couto e sua antena, à sua esquerda a esquecida e escondida Serrilha dos Cristais, diretamente a noroeste a Serra Fina sob uma enorme massa de nuvens sendo iluminada por raios de sol que insistem em ultrapassar a barreira tempestuosa.

Agora a melhor visão, a leste tínhamos a notável paisagem de montanhas que visitei ano passado com o Tácio e outras que ainda preciso visitar: Maromba, Leão, Leoa, Gorila, Gigante e Pico do Ovo se destacam e são facilmente reconhecidos dali.

Fotografamos, fizemos um vídeo e começamos a descer querendo chegar ainda com luz no abrigo e assim pegar o pôr do sol e suas cores nas rochas do Agulhas Negras. Avançamos rápido e chegamos lá na hora “H”, após 2h e 25min de retorno, por volta das 17:50h.

Antes mesmo de entrar no abrigo subi ainda com o Patrick o morrinho ao lado pra fazer algumas fotos, mas nuvens sobre o Couto bloquearam a luz do sol se pondo, só restando um pequeno buraco que permitiu-me uma foto de alpenglow em uma nuvem reduzida ao lado do Agulhas, até que ficou bonita a foto, diferente, fiquei satisfeito.

Entramos no parque e já encontramos a outra parte do grupo que chegou durante a tarde, Davi, Cintia, Pedro e Rafael. Conversa noite afora, jantar, fomos todos dormir já com diferentes programações para o próximo dia.

Acordamos cedo, começamos a nos preparar e logo o Tácio chegou com a Paulinha, era só isso que faltava pro quinteto Serra Negra se completar e partir. Às 09h e 30min começamos a caminhar sentido Agulhas Negras, na bifurcação pegamos a trilha da Pedra do Altar e dela a saída a esquerda para entrar definitivamente na trilha da travessia. Não paramos quase nada, só para fotos e mesmo assim rapidamente. A primeira parada e mais longa foi na base do Morro do Cristal de Itatiaia, outra montanha desconhecida e possivelmente quase nunca visitada dentro dos limites do parque. Ali, eu e Pedro ficamos preguiçosos apreciando um almoço liofilizado e a vista impressionante do vale do Aiuruoca, Ovos de Galinha, Pedra do Sino, Pico sem nome e morros próximos a Pedra do Altar. Tácio, Paulinha e Dom subiram o Morro do Cristal. Eu não queria me desgastar muito já que eu havia caminhado 8,5 kms no dia anterior para chegar ao Urubú, já tinha aquecido as pernas e esta subida seria um gasto a mais.

Eu e Pedro indiando na base do Morro do Cristal, no Vale do Aiuruoca

Ali, Pedro e eu almoçamos, colocamos o papo em dia e eu ainda consegui fazer umas fotos de uma bela aranha que ali passava, um pouco tímida, mas a foto saiu assim mesmo.

Continuamos a caminhada. Depois de pouco tempo chegamos a cachoeira do Aiuruoca, achei que fosse mais bonita de tanto que ouvi falar, nada demais. Fiz uma foto tão tímida quanto a aranha e seguimos pela trilha. Em pouco tempo chegamos a um trecho de mata recém queimada, dali continuaríamos a descer sem parar perdendo altitude rapidamente.

Que caminhada interminável, descemos, descemos, descemos…Depois de umas 6 horas de caminhada a trilha perdeu a graça e ficou chata, a paisagem tornou-se repetitiva e massante. Passamos por algumas propriedades privadas, ranchos, currais, cercados pra engorda de gado, até vimos um Carcará em uma cerca mas não foi possível fotografa-lo, voou logo que nos aproximamos.

Logo fizemos o encontro das trilhas de travessia Maromba e Serra Negra, e continuamos a descer. Depois de longas 8 horas caminhando, ainda com luz de sol, chegamos ao bairro de Serra Negra, com algumas casas, não muitas, uma paisagem de invejar e muita, muita tranquilidade a 1.740 metros de altitude. Nos informamos com os locais e acabamos indo parar em uma casa/ pousada da família que costumava trabalhar no Alsene, Sonia e sua irmã Vanessa.

Combinamos o preço e acampamos ali mesmo depois de jantar e conversar muito, depois de um longo dia de caminhada ao longo dos 18 kms de aproximação que fizemos e mais de 1.400 metros de desnível de descida, que trataram de maltratar os joelhos de todos nós cinco. Não cheguei lá cansado pois a trilha é sempre um passeio, só tinha dor nos pés e nos joelhos.

A impressão que tivemos é de que a trilha provavelmente deveria ser alguma interligação de cidades do interior mineiro desde muito tempo atrás, quem sabe até do Brasil colônia. Mas isso é papo para outra ocasião. Ali ficamos e nosso planejamento era de sair tão cedo quanto possível para fazer o ataque a esta montanha desconhecida pelos montanhistas, quintal de turistas que visitam o pitoresco bairro montanhoso da Serra Negra, conhecida pelos locais pelo nome de Pedra Preta.

Uma outra informação legal, desde a primeira vez que cheguei ao cume da Pedra Furada namorei uma montanha que parece um Pico Agudo desde lá. Agora pude ter uma visão panorâmica desta montanha e melhor, descobrir seu nome e que existe trilha pra lá. Mais detalhes depois que eu for lá é claro hehehe.

O porco colocando terror na galinha (que resolveu encarar e depois deu no pé) e seus pintinhos.

Ao final deste dia, o total que eu já havia caminhado somava agora 26,5 kms. Cada um fez seu jantar e fomos todos dormir cedo junto das galinhas, um porco, muitos passarinhos, três ou quatro cachorros e um gato. O próximo dia seria memorável.

Continua na segunda parte…

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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