Tínhamos o propósito maior de escalar o Chimborazzo (6310), montanha mais longínqua do centro do planeta terra e mais próxima às estrelas, e também o Cotopaxi (5895m), vulcão em atividade mais alto do mundo. Com certeza lugares de muita energia e força.
Como todo brasileiro acostumado com baixos níveis de altitude, começamos aclimatando lentamente em montanhas próximas a cidade de Quito, fizemos o Rucu Pichincha (4800m) e já na volta pegamos chuva e mau tempo novamente.
Será que mais uma vez iríamos ser surpreendidos pela grande inconstância do clima em todo o Planeta?
De forma desapegada e guerreira, continuamos nosso objetivo seguindo a uma região de fazendas onde se encontrava nosso próximo desafio de aclimatação El Corazón (4800m), uma montanha de Pedras, grandiosa que também é um vulcão, porem inativo neste momento. Já durante a subida do Corazón tivemos o primeiro grande presente que foi poder chegar ao cume com um lindo dia, podendo visualizar de longe nosso primeiro objetivo principal, o imponente e terceira montanha mais escalada da Terra, o Cotopaxi, que desta vez mostrava-se aberto aos nossos olhos e receptivo a nossa presença.
Depois deste dia intenso cheio de emoções, voltamos felizes para fazenda onde iríamos descansar um dia para a tentativa primeira do Coto, como é chamado pelos hermanos equatorianos.
Partimos então com todos os pensamentos positivos e muita perseverança ao primeiro refúgio localizado a 4810m, de onde acordamos as 24h00min para a tentativa de cume.
A madrugada estava simplesmente perfeita, com a lua cheia que nos permitia apagar as lanternas de cabeça e seguir o caminho iluminado pelos céus, com clima caliente, caminhamos então 5hs15min até chegar ao tão sonhado cume que nos proporcionou uma sensação impar de estarmos olhando a cratera de um vulcão em atividade, respirando, e diluindo nossos egos em contemplação e prazer. Porem nosso objetivo ainda não terminara, descansamos mais um dia buscando cada vez mais aquietar nosso ego e deixar que nossa mente se mostrasse limpa, fora dos condicionamentos sociais.
Em clima de comemoração seguimos ao Chimborazzo, onde buscaríamos vencer e entender a nós mesmo nesta montanha que pela ultima vez que estivemos por aqui, nem sequer se abriu para nós.
Como no Cotopaxi seguimos ao refugio 1 localizado agora a 5000m e as 23:00 despertamos para a tentativa.Nos equipamos por completo e iniciamos a subida que pouco a pouco foi mostrando-se bastante dura , mesclando trechos de rocha, pedras soltas, neve e gelo duro, porque este glaciar muda a cada ano e realmente não sabemos quanto tempo irá durar.Aliás os efeitos do aquecimento global aqui no Equador foram avassaladores alterando completamente as rotas de escalada e o visual das montanhas , mesmo que este ano de 2010 não tenham sido constatado degelo na Antártica e prometer ser assim um ano bem frio em todo nosso planeta.
Após 7hs de esforço físico e controle mental, chegamos ao cume máximo (Whimpper), gozando de um dia claro e fantástico horizonte azul e montanhoso.
Terminando toda esta jornada e alcançando todos os nossos objetivos, voltamos a cidade e buscamos sentir a mesma sensação do cume e da escalada , em meio aos carros, ônibus e poluição do urbano.
Parece difícil, mas o que nos torna guerreiros de verdade é saber contemplar igualmente o limite pessoal, o cume de uma montanha, e o nosso simples cotidiano de trabalho e afazeres.Não há desafio maior que conquistar seus próprios cumes, sejam eles de uma montanha, de um relacionamento familiar, ou encarar o dia a dia assim como ele é, e aceitar as naturais cobranças e valores sociais que estamos inseridos.
As montanhas mais uma vez conseguiram deixar bem claro nossas questões existenciais e responde-las com toda a maestria da natureza… O que sou eu? O que estou fazendo aqui?
É exatamente as respostas destas perguntas que nos tornam mais conscientes, extremamente vivos e confiantes durante uma escalada.
Nesta próxima semana estarei indo a Bolívia guiar um grupo de brasileiros, e em seguida parto a mais um desafio…