“dar o cambau no parque Marumbi”

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Aproveito a discussão sobre as várias formas de burlar o controle no Parque Marumbi para chamar a atenção dos verdadeiros montanhistas, ambientalistas e ecologistas para assuntos e fatos que realmente colocam em risco nossas montanhas.


É até chato acumular experiência e ver as pessoas cometendo os mesmos erros das gerações passadas e principalmente se agarrando a estes enganos como se fossem dogmas de fé. A ideologia de esquerda que insiste em nos proteger de nós mesmos, tanto mal fez ao mundo e ainda faz estragos em nosso raciocínio. Ela desvia nossa atenção do importante para se concentrar no risível. Vejam o ministro Temporão que apanha feio do mosquito da dengue, mas insiste em proibir propaganda de biscoito. É proibido dirigir depois de beber uma cerveja, mas é aceitável comandar o país mamando num Johny Walker. Leis para atrapalhar, para não se cumprir.

O montanhista é um apreciador da natureza e se sujeita a riscos consideráveis para ficar imerso nela. O que é mais arriscado; escalar o Dedo de Deus com chuva ou burlar o guarda-parque para escalar o Dedo de Deus com chuva? A proibição é só mais um tempero na aventura. Lá não tem escadinhas, não tem lixo nem “farofa”. Quem vai até lá tem consciência do risco e amor a aventura. Respeita a montanha.
 
O Parque Marumbi no papel é uma jóia rara de perfeição, seria até engraçado se não fosse tão nefasto à sua natureza e mesquinho diante de sua história. Das várias trilhas e rotas abertas pelos montanhistas pioneiros que tanto cultuamos sobraram apenas duas permitidas pelos “ecologistas/ambientalistas” de plantão. Razões nunca faltam; a Crista do Gigante é perigosa demais, o Facãozinho é frágil demais, o Alfa-Ômega perturba a perereca da cara preta, e por aí vai.
 
O resultado é a concentração excessiva em poucos pontos; engarrafamento nas correntes. A solução é trocar as correntes por degraus e a conseqüência é mais gente despreparada subindo para o cume, mais lixo, mais impacto, mais “farofa” que precisa ser protegido de “si próprio”, então fecha-se a trilha quando chove, quando venta, quando o guarda-parque está com dor-de-barriga.
 
Para proteger o “farofa” vale fazer cadastramento, na entrada, distribuir panfleto. Lá se vai meia hora em burocracia, uma hora ou mais quando se formam filas ou o atendente desliga o despertador e volta a dormir. E o que se faz com o papelório? Já saí do parque sem fechar o ponto e até hoje não foram procurar meus ossos nas encostas.
 
 Há pouco tempo se discutia o uso do facão pelos montanhistas que quando muito vara um taquaral. Porque antes não vão tirar a foice do palmiteiro, a espingarda do caçador ou a moto-serra do lenhador? Isto é importante.

 
Agora se faz um carnaval porque montanhistas paulistas discutem numa lista na internet como “dar o cambau no parque Marumbi”. Isto soa ao bairrismo mais descarado, indigno de nossa atenção, como se não fizéssemos o mesmo por aqui e por lá também quando tanta coisa de importante está clamando por atenção bem em nosso quintal.
 
A Torre do Prata virou uma pista de motor-cross, a trilha de baixo para o Taipabuçu está sendo cercada com arame farpado e a plantação de pinus avança pela encosta. Eco-chatos,  e “ambientalistas” de todas as cores poderiam sugerir uma lei contra a hipocrisia sem medo de ser presos “nestepaiz” onde tudo que vai pro papel é bem intencionado. Errados são os resultados.
 
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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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