Visitando o blog da Yuri Hayashi, vim saber de um acidente que ocorreu no outro lado do mundo e que levou a vida de um escalador de maneira trágica.
Nick Kaczorowski estava escalando uma via de 270 metros nas Blue Mountains na Austrália quando sem querer entrou uma variante recém conquistava que era mais dificil do que sua capacidade técnica. Quando ele chegou no crux e percebeu que não conseguiria escalar, ele se ancorou em uma chapeleta e tentou clipar a próxima proteção usando um clipe stick improvisado. Enquanto ele tentava alcançar a próxima chapeleta, a que ele estava preso soltou-se da parede e ele levou uma queda enorme e morreu.
O fotógrado e escalador Simon Carter fez uma vistoria da via, tirou fotos e testou as proteções da via. Pasmem, elas saiam com enorme facilidade e não aguentariam uma queda! Conclusão: O conquistador bateu de maneira errada as proteções, fazendo um furo muito largo. Um erro primário!
No Brasil não estamos impunes de erros como estes. Já vi muitos relatos de proteções que sairam com facilidade da rocha, isso por diversos fatores.
Primeiramente no Brasil usamos material improvisado para equipar vias, tais como cantoneiras e grampos “P”. Estes últimos, apesar de serem bem vantajosos e de alguns já terem sua eficiência testada em laboratório, são feitos com solda e estas podem estragar com maior rapidês.
Existe uma maneira fácil para resolver o problema da solda do grampo “P”, que é laçar o tarugo do grampo com um nó focinho de porco. Isso é explicado em qualquer curso básico de escalada e é bem vindo em vias clássicas com proteções distantes.
Entretanto há alguns grampos mal fabricados tem têm um tarugo curto e isso numa queda pode arrancar o grampo com facilidade.
Depois há o problema do conquistador bater mal um grampo. Isso acontece quando ele faz um furo mais largo, como ocorreu na Austrália, e não usa as chapinhas de aluminio, ou quando o furo fica mais profundo ou mais superficial, deixando o tarugo do grampo pra fora da parede. Já vi muitos destes grampos, alguns entortados para baixo. Além de serem perigosos ainda são um perfeitos para prender e enroscar a corda.
Outra questão é quando o guia bate os grampos em lugares errados, que em caso de queda pode levar a um fotor 2, exercendo maior impacto sobre a proteção, ou então pode levar o guia a cair em cima de platô.
A questão maior é: De quem é a culpa em caso de um acidente desta proporção. Se de um lado o conquistador tem a liberdade de dar seu toque particular na proteção de uma via de escalada, seguindo uma tendência e um estilo, ele tem culpa de bater um grampo em lugar errado ou bater de maneira errada? Acredito que ninguém tem a intenção de bater uma proteção fixa auto sacante, ou seja, se isto ocorrer é uma imperícia do conquistador, certo?
De outro lado, a decisão de escalar uma via é totalmente livre para o escalador. Você aceita o desafio se quiser e é responsável por sua segurança. Ou seja, ninguém o obrigou a escalar. Você está lá porque quer e o problema é seu se acontecer um acidente. Ou deveria ser?!
Aqui no Brasil, pela legislação vigente, o responsável por um acidente deste não seria o conquistador e nem o escalador, mas sim o proprietário das terras ou o diretor do parque onde fica o pico de escalada, pior ainda se for uma propriedade particular que cobra o acesso (esse se iria se f… na justiça!).
Esta lei é muito ruim, pois para evitar problemas têm-se proibido a escalada e assim, se houver acidentes, a culpa é de quem desrespeitou as regras. A CBME tem a proposta de mudar esta lei para lutar contra a proibição da escalada em diversos parques e áreas particulares onde há este problema. Entretanto cá entre nós, a lei brasileira, no caso da escalada, não tem nada ver com a realidade…
Neste caso, quem deveria ser responsabilizado por um acidente destes? O escalador ou o conquistador?
As foto deste artigo são de autoria de Simon Carter.