Vou explicar o que aconteceu : O Cuscuzeiro é um dos points tradicionais de escalada no interior de SP e trata-se de uma formação rochosa do tipo morro testemunho, constituído inteiramente de arenito. O arenito sofre uma ação muito intensa das intempéries, e é natural que com aja blocos soltos, etc.
Pois bem, tem uma via em particular, a Sunday Bloody Sunday , que é um 7ºb e foi uma via conquistada pelo CUME/UFSCar e com o trabalho de grampeação pelo Alexandre Picareta e Fernandão Marmota em julho de 1998. (O CUME é o Centro Universitário de Montanhismo e Excursionismo, fica dentro da Universidade Federal de São Carlos e é um dos mais antigos centros universitários de escalada, a possuir um muro de escalada, do Brasil, desde 1991/1992) www.cume.org ).
Enfim, a Sunday Bloody Sunday tinha um bloco encaixado que há tempos vinha recebendo a atenção por parte dos escaladores. Tempos atrás se cogitou de retirar o tal bloco e inclusive, esse assunto foi parcialmente discutido no site da HangOn e foi mais aprofundado pelo próprio pessoal do CUME/UFSCar.
Foi formado um GT de manutenção das vias no Cuscuzeiro e decidiu-se por manter o bloco no lugar e para tanto, recebi inclusive a doação de alguns quilos de Sikadur para ajudar a colar o bloco. Eu até dei a minha sugestão para o CUME sobre como colar o bloco, que nada mais seria do que colocar alguns parabolts no bloco e ancorá-lo ao Cuscuzeiro, claro que isso teria de ser feito de forma discreta e sem causar nenhum impacto visual, usando inclusive a Sikadur misturada com a areia local para esconder os furos e os parabolts.
Esse trabalho seria realizado este último final de semana, mas, ao chegarem no local, o pessoal do GT de manutenção (todos do CUME), depararam-se com o bloco *derrubado* e diversas marcas que evidenciavam o uso inclusive de talhadeiras para a remoção do bloco e de algumas agarras adjacentes ao bloco.
O Cuscuzeiro encontra-se em uma área particular (Sr. Odair) e este deixa a manutenção das vias ao cargo do CUME, e obviamente, o dono das terras não ficou muito satisfeito com o que aconteceu… Segundo o Sr. Odair, Os escaladores (o CUME) deveria ser a solução e não o problema…
Simplesmente lamentável que tal tenha acontecido, ainda mais indo na contra-mão do que foi discutido localmente.
Se o tal bloco estava tão solto assim, não teria sido necessário o uso das talhadeiras… Mas nem é esse o caso, e sim o fato de ir-se na contramão das decisões do GT de manutenção.
Talvez até pudesse ser alegada alguma ingenuidade ou ignorância sobre o GT de manutenção das vias, o que não é o caso, pois os escaladores envolvidos com isso sabiam plenamente do que estava acontecendo (via HangOn, via reuniões do CUME). Inclusive, no momento em que os escaladores metiam a marreta/talhadeira na via, havia outros escaladores no local que não questionavam o que estava acontecendo e, de certa forma, a meu ver, passam a ser coadunantes com a depredação. (Depredação é a palavra perfeita para isso !). Não é possível aceitar-se atitudes isoladas, ainda mais havendo um GT responsável pelo assunto. Temos que contribuir agregando as nossas forças e não provocando distensões ou tomando decisões individuais sem consultar os grupos e sem discutir previamente.
Para mim, isso é muito sério e merece um repúdio por parte da comunidade escaladora, entretanto, não creio que fomentar eventuais inimizades ou descontentamentos pessoais seja a melhor forma de resolver-se essa questão, portanto, *não darei* nomes aos bois.
Acredito que o CUME tenha responsabilidade suficiente para resolver, punir, fazer moção público de desagravo, etc. de forma interna.
É isso… Fica aqui o desabafo e o descontentamento. E fica aqui também o alerta sobre as questões que envolvem a manutenção das vias pelo Brasil afora. Quando houver um GT de trabalho, certamente haverão discussões em torno do que deve ou não ser feito, e após os responsáveis (conquistadores, clubes, etc.) serem consultados, essas decisões no mínimo necessitam ser soberanas.
Abraços e boas escaladas,
Davi Marski