Manuseando o relatório de um desses escaladores, achamos de bom alvitre reproduzi-lo textualmente. Vejamos:
“Descendo de ônibus, Marcelo Bartoszek, Leonardo Polak e Paulo Wagner de Souza, estavam em plena Estrada da Graciosa. Para variar estava garoando, com frio e vento. Como a trilha Graciosa – Arapongas já nos é conhecida, esperávamos um primeiro dia tranqüilo, mas úmido.
Após quatro horas de caminhada, e devido a trilha estar pouco marcada, aconteceu um desvio de mais ou menos 200 metros e que para nossa felicidade nos permitiu conhecer uma linda cachoeira no Rio dos Farofa (1).
A subida do arapongas foi lenta devido ao peso das mochilas, chegando ao acampamento ao anoitecer. Realizamos a tradicional janta de montanha: risoto desidratado, purê de batata e graviola de sobremesa. Dormimos com chuva e acordamos com mais chuva. Desmontamos o acampamento e fomos assinar a caderneta. As últimas anotações registradas no livro eram as nossas, de mais de 6 meses atrás.
Com visibilidade praticamente nula, decidimos explorar a região ao redor do Arapongas. Encontramos uma nascente que resolvemos seguir. Sem que percebêssemos, porque guardamos a bússola, o fio d’água que seguimos deu uma volta de 180 graus e acabamos descendo a face sudoeste do pico. Só percebido três horas mais tarde.
Durante o percurso pelo rio, repentinamente por detrás de uma cortina de bambu deparamos com abismos de 30 metros de altura, estendendo à nossa frente apenas as copas das árvores mais altas e lá embaixo a continuação do nosso rio. Foram muitos lances assim, que tínhamos que desviar pelo mato e literalmente escorregar barranco abaixo.
Depois de um dia inteiro pelo rio, passando por lindas cachoeiras como a da árvore caída e, a mais bela que denominamos Salto Praiano (2), que lembrava o Salto dos Macacos, por sua altura e forma. Há uns 30 minutos depois deste salto, encontramos excelente lugar para acampar, bastante plano e espaçoso, junto a um rio, mais parecendo uma área construída para camping selvagem.
Dormimos anestesiados e corpo dolorido pela sucessão de tombos sofridos. Acordamos lá pelas sete, reiniciando a marcha e para 5 horas depois toparmos com rastro dos palmiteiros e breve alcançarmos a trilha principal que nos exigiu mais 3 horas, com muitas bifurcações, visual macabro pelo dia ser escuro, forte nevoeiro, árvores altas e frondosas, lembrava cenário de filme de terror.
Somente nossos passos quebravam o silêncio, dando-nos a sensação de que estávamos sendo observados por figuras misteriosas. Ainda bem que o sendeiro nos levava à Estrada da Graciosa e incrívelmente próximos de onde tínhamos adentrado na selva”.
- Publicado na Gazeta do Povo, 19 de outubro de 1996
- Protagonistas: Marcelo Bartoszek, Leonardo Polak e Paulo Wagner de Souza
- Locais visitados: Estrada da Graciosa, Trilha da Santinha, Rio Mãe Catira, Cachoeira da Santa, Morro Arapongas.
- Referencias explicativas:
- (1) Rio Mãe Catira
- (2) Cachoeira da Santa