Como bem salientado pelo meu colega Hilton em sua coluna, rolou nas listas de discussões das Associações e Clubes de montanhismo do Brasil o fato de Guias estarem cobrando para montar barracas nos poucos espaços de acampamento do cume do PP.
Esse fato não é novo, tanto é que há alguns anos, eu e o Hilton, numa travessia pela Serra Fina, fomos vítimas dessa conduta chegavamos nos cumes e estes já estavam totalmente ocupados por barracas para pessoas que sequer estavam lá, mas que em algumas horas chegariam, nos forçando a acampar em locais pouco confortáveis.
Em sua coluna, o Hilton entende que o que está acontecendo é que o O montanhismo está deixando seu caráter esportivo e tornando-se totalmente turístico, porém penso de forma diferente: o montanhismo, como esporte, continua muito vivo, mas em lugares diferentes.
Para alguns autores, o Turismo pode ser classificado da seguinte maneira: primeiro temos o turismo pioneiro, que é sem infra alguma e feito por muito poucos; depois vem uma segunda fase, realizada por um pessoal exige locais agradáveis, com boa estrutura, e que pagam muito por isso, e enfim, depois que já ocorreu parte da degradação do local, chegam as massas, chega o turismo de massa.
Da mesma forma, penso que ocorre com o montanhismo. A parte de esporte do montanhismo não é a contínua repetição das trilhas e vias, mas a conquista de novas rotas, de diminuição de tempos, de superação daquilo que gerações anteriores faziam. Isso é a parte esportiva do montanhismo. Quando há guias levando alguem para algum lugar, já não temos nenhum montanhismo esportivo, o lugar já não é palco de qualquer pioneirismo, já estamos diante de uma segunda fase de Montanhismo, e aí o Hilton tinha razão, é um montanhismo turístico, mas não que o montanhismo esportivo tenha virado turístico, este apenas mudou de lugar, já que aquele já não comportava problemas para serem resolvidos.
Outra questão que pode vir a tona é se, de fato, estaríamos frente a um montanhismo turístico ou a uma atividade turística. Para solucionar esse problema teríamos que conceituar o que é Montanhismo (o que não será feito nesta coluna, mas apenas tecidas algumas considerações).
Para muitos, digamos, a velha guarda dos montanhistas, que hoje freqüenta as listas de discussões de clubes e federações de Montanhismo está diretamente ligado a um modo de vida, no qual tem-se por fim preservar o meio ambiente, encontrar tranqüilidade e principalmente sentido para a tão vazia vida do homem moderno, sendo quase uma terapia, se não uma neurose.
Do outro lado, temos uma nova geração que vê o Montanhismo como um produto a ser vendido para executivos que querem ter um contato com a natureza, ou sentir uma grande adrenalina numa rappel ridículo no alto de um morrinho.
Fato é que a sociedade em que vivemos é, mais do que nunca, uma sociedade de consumo, onde tudo é comercializado, vendido, explorado. Assim, para a velha guarda, fica um conselho: mudem de analista, ou procurem um mais longe, a mercantilização da montanha ou criação de parques cheios de regras é inevitável. A cada dia teremos mais montanhistas, assim é impossível pensar o montanhismo como há 30 anos, novas atitudes deverão ser tomadas, novas formas de pensá-lo deverão ser adotadas.
A montanha deixou de ser um templo há bastante tempo, e diferentemente do que o Hilton concluiu, acredito que essas pessoas ainda ficarão muito tempo nas ruínas desses antigos templos.
Parte 2, já que um dialogo dialoga com todo o argumentado.
Acredito que as pessoas de hoje já estão muito mais conscientes da questão ambiental, jogando muito menos lixo nas trilhas e ruas, porém a quantidade de pessoas é tão maior, que podemos chegar a acreditar que não houve muita melhora. Ou seja, educação é muito bom, mas não resolve plenamente, a criação de parques, infelizmente é inevitável.
Neste ponto que acredito que as Federações e Clubes devem ter um papel importante, discutindo os regulamentos e tentando diferenciar o novo montanhismo mercadológico que deve ser bem regrado, daquele mais antigo, de menos impacto, exigindo, quem sabe a delimitações de áreas diferentes para cada um deles. Para isso é importante estudos que consigam diferenciar as diversas nuâncias do montanhismo.