Diferença de Cultura na escalada

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Para quem viaja, deve sempre estar preparado para algumas diferenças de culturas. Tanto da sua região como de seu país. Ninguém é igual a niguém. Se qualquer pessoa não está preparado a saber que a outra pode não acreditar em suas crenças, idéias e filosofia de vida deve ficar em casa para não aborrecer o próximo.

Não há nada mais inaceitável do que o provincianismo e radicalismo sobre qualquer tema. Vivemos em um mundo o qual temos notícias fresquinhas sobre qualquer assunto. Ou seja, deve-se respeitar que uma outra pessoa pode, e com certeza, vai ter uma opinião e crença diferente da sua.

Aqui no país já temos muitos “donos da verdade” que querem sair por aí arrancandeo chapas de locais que nunca foi e que não lhe diz respeito porque se acham “libertadores da escalada”. Isto é fascismo. Para uma pessoa fascista recomendo procurar um psicólogo e não uma via de escalada.

A partir deste ponto, volto, mesmo que tardiamente, falar sobre a “reserva” da via feita por Chris Sharma na Espanha.

Há certas crenças que possam parecer absurdas para qualquer um como uma mulher usar uma burca, a sociedade aceitar a poligamia e até mesmo comer cachorro. Pode-se ficar indignado, mas nao querer arrumar o mundo, porque você acredita no contrário.

Não vou proteger escalador A ou B nesta história. Apenas dizer que :

1 – Não comungo da idéia de alguém “possuir e mandar” em uma via de escalada aberta. Sei que dá trabalho abrir uma via, sei que todo mundo gosta de ter seus dias de glória (quem dizer que “não” está sendo hipócrita), e que a rocha pertence à comunidade , não a uma pessoa. Acredito com todas as minhas forças.

2 – Se, socialmente dizendo, a prática do “RED TAG” é aceita livremente, e praticada sem haver nenhum desentendimento em locais como Espanha que há lugares com mais de 10.000 vias. Há de se aceitar. Faz parte da cultura local. É o mesmo caso do uso da “Burca” e o que isso representa para quem é feminista ou é católico. É absurdo para nós, porém culturalmente é aceito por quem a pratica a bastante tempo (quase 2000 anos diga-se).

Se tudo isso já era sabido, e que também faz parte do dia a dia do escalador Nalle, ele que se reserve o direito de não sair “puteando” somente porque, em uma prática que ele mesmo deve ter feito algum dia.

A “regra” descrita acima existe para TODOS daquela parte do mundo que aceita o RED TAG.

É cretina? Na minha opinião sim.

É absurda? Na minha opinião sim.

Vai ser copiada aqui no Brasil? Na minha opinião não. A prática nunca foi feita no Brasil, e culturalmente não se aceita tal fato.

PORÉM, se a prática já era difundida na comunidade européia, e tal de Nalle já sabia disso desde que começou a escalar (afinal é europeu nascido e crescido por lá), sinto dizer : que vá chorar na cama que é lugar quente.

A mim, a reclamação e alfinetada dele sobre o assunto, tem o mesmo efeito de alguém que não paga o IPVA, e depois fica sem o carro em uma blitz da polícia. Ou até mesmo ser demitido do trabalho porque não cumpre os códigos de conduta que a empresa possui e impõe.

Finalizando, pessoalmente acho que o Chris Sharma está cometendo uma babaquice (“pelotudice” em bom “espanhol argentino”) de “reservar” uma via. O americano tem muitas vias por aí com seu F.A.. Porém é uma prática comum e aceita naqueles países. É absurdo para mim, que não vivi sob aquele tipo de código de conduta aceito e difundido pelos escaladores Europeus e Americanos. Pesa também o fato de que o escalador vive também dos filmes da BigUp sobre estas cadenas que são reproduzidas pelo mundo afora.

Por isso, e só por isso, que Nalle vá procurar um outro desafio já encadenado, e que vá abrir sua própria via e a reserve também. Que abra uma via de grau elevadíssimo e encadene para que Chris Shama fique com agua na boa também.

A vida é dura, e possui regras e culturas até certo ponto cruéis. Mas é a vida. 

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