É possível que nosso sistema solar tenha num passado remoto contado com um Sol irmão do nosso. Ele foi chamado de Nêmesis, como se fosse vingativo, pois esse é o significado dessa palavra grega. Este conjunto binário teria maior poder de captura de corpos no espaço, pois sua gravidade seria combinada.

A trajetória do segundo Sol Nêmesis.
Os astrônomos, que vivem investigando o indecifrável cosmo, dizem que isto poderia explicar por que há tantos corpos dispersos nos confins do sistema solar (a Nuvem de Oort, a um ano-luz de distância), que teriam sido atraídos pelos dois Sóis. Mas este segundo Sol, possivelmente arrastado por algum astro massivo, se desprendeu de nosso sistema e se perdeu no espaço. Não sabemos onde andará ele. Então, é possível que tenhamos tido dois Sóis, mas naquela época nenhum olho vivo havia para observá-los.
Talvez um terço das estrelas sejam binárias, orbitando entre si. E vários planetas foram descobertos com sóis binários. Dois deles, detectados pelo telescópio Kepler, estão a cerca de 5 mil anos-luz, localizados na Constelação Cisne e causam muita curiosidade aos astrônomos. Eles estão sempre buscando vida no que chamam de exoplanetas, no espaço escuro além de nosso sistema solar.

A constelação do Cisne.
Cisne é um dos mais brilhantes conjuntos do céu e conta com dois astros muito luminosos: Deneb e Albireo. Esses nomes representam em árabe a cauda e o bico do cisne imaginário. Elas não são próximos, distando talvez 1.200 anos-luz entre si. Veja que uma Constelação não tem uma consistência espacial, apenas visual, reunindo estrelas separadas de diferentes idades, que entretanto parecem estar próximas.
Vou supor que a gigantesca massa da primeira estrela possa atrair a segunda (que é na realidade um sistema ternário bem menor). Imagino então que poderiam orbitar entre si inicialmente num sistema digamos binário. Mas, ao longo do tempo, a diferença de massa, e portanto gravidade, faria com que os dois astros se fundissem entre si e explodissem.

Deneb e Albireo, a 2 mil e apenas 400 anos-luz de distância.
Essa explosão ejetaria o material comum e produziria uma luz vermelha. Já aconteceu um evento parecido em Cisne, há 3½ séculos atrás, e é possível que haja um novo quem sabe neste século. Talvez essas estrelas fundidas viessem a ocupar uma posição mais próxima da Terra, parecida com os apenas 400 anos-luz da atual Albireo.
A estrela de maior brilho aparente do céu é Sírio, não por si própria (pois sua luminosidade é apenas 25 vezes a do Sol), mas por estar muito próxima, a menos de 10 anos-luz da Terra. Se Deneb ocupasse a posição de Sírio, teria um brilho igual ao da Lua – que é bastante forte, cerca de metade da do Sol.
Mas considere que a gigantesca Deneb em si é extraordinariamente luminosa: algo como 200 mil Sóis. E imagine agora, para que esta história continue, que o brilho combinado e percebido da explosão fosse equivalente ao do Sol.
A partir de então, a Terra teria dois Sóis, um amarelo e outro vermelho. Quais seriam as consequências dessa situação?
Existiria o perigo de mudar as órbitas dos planetas, pela nova conjugação da gravidade dos dois grandes astros. Isto poderia ser catastrófico, interferindo na temperatura, na atmosfera e na vida – e talvez destruindo a bela arquitetura de nosso sistema solar. Mas vou supor que houvesse um freio gravitacional impedindo essa catástrofe.

Os dois Sóis.
Devido à órbita ampliada, o ano resultante na Terra cresceria para uma duração 2/3 maior. Haveria porém sucessivas variações nas estações, pois os dois Sóis acarretariam diferentes configurações. Imagine quando eles estivessem alinhados, causando a eclipse de um deles – neste caso, teríamos apenas metade do brilho. A boa notícia é que apenas na eclipse do Sol amarelo, quando toda a luz fosse vermelha, Superman perderia seus poderes.
E, quando os astros estivessem muito afastados, tão somente um quarto da luz e do calor chegaria à Terra. Inversamente, quando mais próximos, haveria uma terrível iluminação e temperatura, tornando a vida insuportável. Nesse futuro, os habitantes da Terra acompanhariam as fases do Sol, como seguimos hoje as da Lua.
Os criadores de ficção científica mostram às vezes estranhos seres azuis. Sabe por quê? A pele azul tem a qualidade de refletir os nocivos raios ultravioleta do Sol. Então, os humanos azulados teriam maior capacidade de sobrevivência e se reproduziriam em maior quantidade. Com o tempo, toda a humanidade se tornaria azul, talvez com uma pele espessa, rígida e escamosa.
Os alienígenas azuis do filme Avatar.
Com o excesso de energia dos dias mais longos e quentes, o aumento da fotossíntese faria a vegetação explodir em tamanho e variedade. Esse mundo exuberante teria mais alimento, favorecendo toda a cadeia da vida animal: crescimento dos herbívoros, mas também dos animais carnívoros, pelo aumento de presas herbívoras. Os dois Sóis acarretariam assim uma inflação de vida.

A vegetação exuberante.
E essa vida seria mais eufórica, devido ao excesso de luz. Haveria mais energia, mais sexo e alegria. Uma forma de equilibrar essa expansão dos nutrientes seria gastá-los numa ação aumentada. Os homens trabalhariam mais e seriam mais intensos e vertiginosos. Devo pensar que a aproximação do novo Sol seria gradativa, a fim de permitir a evolução das espécies para sobreviver e se aproveitar da nova situação.
Os metabolismos teriam de se adaptar, com maior circulação sanguínea, queima de gordura, resposta muscular e ação cerebral. Toda a vida seria então turbinada. Acredito que as formas dos seres vivos também teriam de evoluir – corpos mais delgados, olhos maiores, membros mais longos, ossos mais robustos, nervos mais ágeis. Uma nova genética, mais dinâmica.
A Terra teria climas bem diferenciados, devido à ação às vezes conjugada, às vezes oposta, dos dois Sóis. Talvez ao longo das gerações os humanos assumissem aspectos distintos, conforme as regiões em que habitassem. O ambiente poderia também influenciar a criação de formas estravagantes de presença animal ou vegetal, com seres compostos, híbridos ou mutantes. Seria a vida expressando toda a sua plenitude.

Novos humanos 1.

Novos Humanos 2.

Novos humanos 3.

Novos humanos 4.
Mas os dois elementos essenciais, ar e água, viriam a ser afetados. Talvez houvesse mais carbono nessa atmosfera mais quente, forçando uma adaptação da vida – assim como quando do aumento passado do oxigênio, que causou uma enorme extinção. A água seria aquecida e evaporada, mas também o gelo seria derretido, e um evento poderia compensar o outro. A crosta terrestre permaneceria estável, porém as regiões polares viriam a ser colonizadas, as costeiras, inundadas e as tropicais, despovoadas.
A luz excessiva e contínua afastaria o atávico medo do escuro. Não sei se os homens se tornariam mais valentes, talvez o novo equilíbrio fosse parecido com o atual, pois toda a vida, e não só a nossa, seria expandida. Bactérias mais resistentes, insetos mais velozes, plantas maiores, animais mais ferozes.
Também não sei se os homens seriam mais inteligentes, pois essa vida acelerada seria menos propensa à reflexão, ao pensamento. Ou mais felizes, nessa realidade tão imediata, de tempos tão curtos, quem sabe de envolvimentos pessoais apenas passageiros.
Talvez a consciência humana viesse a ser atrofiada, para favorecer a ação. E poderia nem mais haver infância e família, com o desenvolvimento tão precoce dos indivíduos. Desconfio que haveria menos preocupação com o passado e menor uso da memória. E, com mais sexo, menos amor.

E não haveria mais sonho.
Mas acho que sei de uma coisa: sob essa luz constante e energética, quase não haveria sono. E, sem sono, os sonhos deixariam de existir.















