Do céu ao inferno! Essa foi à sensação que o repórter Clayton Conservani e os escaladores Makoto Ishibi e Alexandre Silva sentiram nessa tentativa. Eles que deram suporte logístico para que pudéssemos tentar chegar ao cume. O parceiro Sabiá também fez parte dessa trip com a intenção de saltar de wingsuite do topo da montanha, mas nem tudo são flores. Quando eles estavam a uns 150m de atingir o cume, o clima mudou rapidamente, e muitas emoções e perigos eles enfrentaram. Pedras rolaram e machucaram nossos aventureiros. Os raios foram ameaça constante para os nossos aventureiros.
Makoto e Alê Silva tocaram a via Maria Cebola levando de quebra como participante o reporte Clayton Conservani e o Base Jumper Sabiá, como diria Burt Ward a Adam West: Santos raios Batman, que treta!.
Aqui no escritório durante uma semana recebi vários emails perguntando sobre a escalada no Dedo de Deus e quando eu iria lá tomar um raio na cabeça, amigos carinhosos eu tenho aqui. Durante os almoços e reuniões da equipe a pergunta era sempre a mesma:
– Já foi lá? Lá que deve ser o lugar mais perigoso do Rio de Janeiro para escalar, coisa de macho, aquele japonês é doido.
Ou melhor, alguns Amigos fazem perguntas cretinas do tipo:
– Porque você não vai lá e morre logo de uma vez por todas e poupa agente de correr sempre atrás de noticias suas quando você some.
Segunda feira pela manhã, minha santa mãezinha me ligou perguntando onde estava, e se estava bem, e se não pretendia dar um tempo de escalar este ano por conta dos raios que viu na TV. E olha que as chuvas no Rio de Janeiro ainda não tinham transformado a cidade no caos social que está hoje.
Demonstrações de carinho e perguntas cretinas a parte, o conceito aventura agora esta passando por nossa praia de uma forma até que relevante e super legal, no melhor conceito Surviverman. Queiram os Deuses que essa moda não vingue. Se não vamos ter aquele velha maratona de inúmeros cursos de resgate, sobrevivência e frango com farofa intensivo em áreas de risco que inundaram as áreas de florestas no fim dos anos 90 e inicio de 2000, todos copias paraguaias do COSMO, isso graças aquele maldito programa NO LIMITE.
Não sei se felizmente ou infelizmente os canais por assinatura ainda são acessados por uma minoria da população, mas fico pensando com meus botões como seria se programas do tipo Sobreviví ou À prova de Tudo do nosso sucessor de Chuck Norris, bear grylls passe-se na TV do seu falecido Roberto Marinho? O que teríamos de John Rambo correndo pelado pela Floresta da Tijuca, Marumbi e Itatiaia tentando comer larva de mariposa iriam dar inveja a Johnny Weissmuller (Primeiro Tarzan) e ao próprio Chuck Norris (Único imortal).
Aproximadamente um mês antes do programa do Clayton Conservani ir ao ar, eu e outros escaladores de Minas Gerais demos entrevistas para um programa de esporte ação (Esportes Gerais) da emissora mineira TV Horizonte, um documentário produzido pela PUC-MG, neste, falávamos justamente das responsabilidades de estar na montanha e da sensatez de saber a hora de voltar. As perguntas sobre Vitor Negrete no Everest entram em pauta, e o caso Campanini foi discutido. Na edição final, alguns assuntos abordados fora excluídos por orientação nossa, isso para evitar interpretações errôneas sobre o caso e evitar mais lenha na fogueira da desinformação. No fim, o programa foi ao ar super enxuto e sem sensacionalismo. Talvez por isso não tenha dado tanto ibope. Como diria Abelardo Barbosa, o povo quer circo, ou seja, se não tiver alguém entrado pelo cano, ninguém liga a TV ou comenta no dia seguinte. Quanto mais raios melhor.
O caminho é fazer parte, orientar e estar sempre atento às desinformações, se omitir e não dar suporte é propagar a propaganda enganosa dos esportes de montanha. Ceder uma entrevista e comentar sobre o assunto em fóruns na internet faz parte do trabalho de conscientização no montanhismo. Evite o sensacionalismo, diga a verdade, doe a que doer, doe sangue e se a repórter for gatinha, peça a ela o telefone.
Nosso esporte é assim, repleto de controvérsias e diversidades de flora e fauna, já disse bem o Pedrinho em seu texto Identificadas novas espécies da fauna de Escaladoridae, e como também exemplificou muito bem nosso amigo colunista Antonio Paulo, cheio de veados e ursos (rs).
Globalices a parte, parabéns Makoto Ishibi e Alexandre Silva pelo belo trabalho que fizeram no programa, e como diria Buzz Lightyear: Ao infinito e além.
Força sempre e Boas escaladas
Atila Barros